O Economista Português
Um blog de Economia Política e de Política Económica
Luis Salgado de Matos - Julho 3, 2015
O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou ontem que a dívida grega é insustentável, por não ser previsível crescimento económico nem saldo primário suficientes, e recomendou um período de graça de vinte anos, acompanhado de mais 60 biliões de euros de ajuda adicional e de perdões da dívida (53 mil milhões de euros); a dívida deve portanto ser reestruturada; estas medidas serão acompanhadas de reformas liberalizadoras.
Esta receita é o contrário do ultimato da Alemanha / União europeia (UE) a Atenas.
O aviso foi lançado na véspera do referendo helénico e a coincidência não é casual: o FMI tem que se distanciar da política suicida da Alemanha, acolitada pelos restantes Estados-membros da União Europeia, pois está a ser pressionado pelos Estados Unidos e pelas nações credoras do resto do mundo.
A tomada de posição do FMI é congruente com o seu receituário habitual em casos de problemas de pagamentos, receituário que O Economista Português ainda há dias evocava, para criticar o FMI – crítica que retira.
Com efeito, quando uma dívida é insustentável, entre destruir o credor (o que é a polítia da Alemanha/UE para a Grécia) e reestruturar a dívida, o FMI prefere reestruturar a dívida.
Do seu bulário costumeiro, o FMI só não recomenda a desvalorização da moeda da Grécia porque ela não existe.
O o aviso do FMI reduz a frangalhos a posição moral e inteletual da UE no caso grego; essa posição já fora abalada com a revelação do estudo da Comissão de Bruxelas declarando insustentável a dívida grega, uma conclusão ate há pouco secreta e que a classe política euroeia continua a negar em público.
Terá o aviso do FMI algum efeito sobre os eleitores gregos?
Eles estão divididos quase meio por meio e o mais certo é decidirem-se entre o medo do caos e a repugnância por uma Europa que os despreza e insulta.
Mas o aviso terá algum efeito sobre as elites europeias: Berlim compreenderá que a docilidade que obteve de Paris e tutti quanti não se estende ao resto do mundo – e nem a Ásia nem a América Latina estão dispostos a arcarem com as consequências das dívidas contraídas pela clientela teutónica.
Anotemos que se a metodologia, cujos resultados o FMI ontem publicitou, for aplicada à nossa economia, dará por certo conclusões idênticas às produzidas para a Grécia: a nossa dívida é insustentável.
Devemos procurar na crise grega o que possa melhorar a nossa periclitante situação económica e não um pretexto para florear a retórica dos credores usurários à custa dos gregos.
Sem comentários:
Enviar um comentário