ANTÓNIO LOJA NEVES - 24.07.2015
Poeta e político, formou-se nos anos 60 em Direito em Lisboa, cidade a que voltaria mais tarde para desempenhar as funções de primeiro embaixador de Cabo Verde
Faleceu na sua terra-natal, a cidade do Mindelo, ilha de São Vicente, em Cabo Verde, o poeta e político Corsino Fortes.
Tinha 82 anos.
Nascido em 1933, ficou órfão muito novo, suspendendo por isso os estudos, indo trabalhar como aprendiz e ajudante de ferreiro, depois como ajustador de máquinas.
Já nessa altura, apesar de não ter podido frequentar regularmente a escola, era leitor assíduo, frequentador da biblioteca municipal. Encontros dessa época influenciam-lhe as rotas da cidadania, da política e da literatura.
Em 1961 vem estudar Direito para Lisboa.
Da sua frequência na Casa dos Estudantes do Império retira os proventos das tertúlias literárias e culturais, e debates coletivos sobre a emancipação dos povos coloniais.
Completa o seu curso em 1966 e passa a exercer cargos jurídicos. Em Angola, por exemplo.
Com a evolução política decorrente do golpe de Estado de 1974 em Portugal e seu reflexo nas então colónias, Corsino Fortes assumiu a representação do PAIGC em Angola, entre 1974 e 1975.
Decorrente da sua formação académica, foi diretor-geral dos Assuntos Judiciários da República da Guiné-Bissau e emissário especial da República da Cabo Verde junto dos governos de Angola e de São Tomé e Príncipe.
Mais tarde foi ministro da Justiça de Cabo Verde.
Foi o primeiro embaixador de Cabo Verde em Lisboa, cargo que exerceu desde 1975 a 1981.
De volta ao seu país, integrou vários governos e foi investido do cargo de embaixador junto de várias nações africanas.
Foi presidente da Associação dos Escritores de Cabo Verde e da sua atividade literária resultou um contributo maior para a transformação modernizadora na poesia cabo-verdiana, estabelecendo o aparato renovador que bebeu da Importância de obras das primeiras décadas do século XX, produzida pelos movimentos Claridade e Certeza, a que somou a nova linguagem de combate emanado da luta pela independência, em que o homem é apresentado em novo modelo, livre e capaz da sua autodeterminação, combatente pela sua liberdade.
Se a triste sina do passado, por demais expressa na poesia dessas primeiras gerações, se baseava no pessimismo, agora a esperança e a certeza de emancipação a pedra de toque.
Com poetas como Corsino, negava-se esse ‘evasionismo’ do homem insulano para, pelo contrário, conquistar o futuro a partir da persistente condução dos próprios destinos.
Reagiu, mesmo, ao poema histórico do poeta Ovídio Martins “Nós Somos os Flagelados do Vento Leste”, contrapondo à malapata do jugo colonial e do abrasão das terras frequentemente inclementes: “Já não somos os flagelados do vento leste, pois o vento tornara-se metáfora anunciadora de mudanças sociais, signo cabo-verdiano de desafio”.
“A poesia de Corsino aprofundou a proposta do anticolonialismo fundada pelo Grupo Sèló e questionou também os séculos de dominação portuguesa”, como lembrou a professora Carmen Secco.
Não foi um poeta prolífico, mas as suas obras são decisivas na leitura do processo da história da literatura cabo-verdiana.
Com a trilogia “Pão & Fonema”, “Árvore & Tambor” e “Pedras de Sol & Substância” ganha um lugar cimeiro entre os seus pares.
Na passada quarta-feira foi apresentada na Cidade da Praia a que foi a última obra de Corsino Fortes: “Sinos de Silêncio – Canções e Aikais”.
No passado dia 6 de julho, no âmbito das comemorações do 40.º aniversário da Independência, tinha-lhe sido atribuído pela Academia Cabo-Verdiana de Letras o Grande Prémio Literário Vida e Obra.
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