Luísa Rogério (texto) e Ampe Rogério (fotos). 08.05.2015 • 01h30
Estabelecida a confiança básica, afloram as manifestações.
Por um lado, a condenação nas ruas e a repetição dos discursos oficiais.
Por outro, um clima de medo.
A caminho da montanha do Sume |
Na capital do Huambo predomina a tranquilidade.
Poder-se-ia dizer que caminha tudo sobre carris.
A menos que seja em tom de brincadeira ou se trate de pessoas de extrema confiança, o que é difícil de aferir, a alusão ao assunto ronda o sigiloso.
Conversa-se baixinho sobre o Kalupeteka. Estabelecida a confiança básica, afloram as manifestações.
Por um lado, a condenação nas ruas e a repetição dos discursos oficiais.
Por outro, um clima de medo e terror denunciado por organizações de direitos humanos.
Como seria de supor, não há óbitos supostamente relacionados com os kalupetekas, tão pouco feridos nos hospitais da região.
Cidadãos contactados pelo Rede Angola garantiram a existência de patrulhas nos bairros e aldeias.
“O interesse não era fazer a guerra.
Era capturar o Kalupeteka”.
A afirmação é de um católico praticante.
Após insistências e garantias de que não teria a identidade revelada contou o que viu e viveu numa localidade próxima ao Km 25.
“Depois de verem que a Polícia queria prender o seu líder, os seguidores mataram os nove efectivos.
Eles mataram primeiro.
Depois de passarem a palavra sobre as mortes vieram as FAA”.
Comenta que “houve muitas mortes”, mas muitos conseguiram fugir, outros morreram dispersos na montanha porque tinham medo de se entregar”.
Recusou-se a apontar números, confirmando que, por algum tempo, Sume foi zona militarizada.
Instalou-se entre as populações o receio de ir às lavras antes das oito horas como é habitual: “Se madrugarem podem ser considerados kalupetekas.”
Apesar de condenar as práticas de Kalupeteka que, em seu entender, “queria corromper todos”, acusando-os de serem “mortos-vivos”, pessoas que não “conheciam verdadeiramente Deus”, o interlocutor do RA lamenta todas as mortes.
“Diziam que só eles conheciam a doutrina.
Nas lavras, eles bloqueavam os canais de água”.
O povo reclamou e chegaram a entendimento, muito embora não se possa falar em sã convivência de filhos do mesmo Jesus Cristo.
Voltando ao pós-conflito, “era proibido passar, porque podíamos ser considerados kalupeteka”.
Fala de perseguições nas aldeias onde, entretanto “mulheres e crianças não têm problemas. Mas os homens desconhecidos apanhados estão a ser algemados e surrados”.
Igualmente contrário à doutrina de Kalupeteka, outro morador das redondezas afirma que se ele “ouvisse os conselhos do governador” teria evitado aquela confusão.
“Estamos em paz.
As pessoas ficaram assustadas com mortes assim em tempos de paz”.
Não obstante a clarividência do discurso, manifesta-se confuso.
“Vimos comportamento mau do líder da seita, mas como o Governo é pai deveria encontrar maneira de evitar tantas mortes”.
Confirma a detenção de pessoas, mesmo sem ligações à seita Luz do Mundo.
Um irmão dele foi detido por estar no lugar errado com um telefone na mão.
“Desconfiaram que estava a tirar fotografias às FAA.
Deram-lhe muita surra.
Procurei o meu irmão em três cadeias.”
O nome dele não constava em nenhuma lista de detidos.
Após inúmeras démarches, pessoas conhecidas localizaram o irmão.
“Chamaram o nome dele e respondeu.
Não o vi”.
Continua à procura de informações sobre o irmão que nunca foi kalupeteka.
“Não dá para andar à toa.
Os católicos têm que ter domínio do catecismo porque as FAA interrogam sobre a doutrina.
Contam-se inúmeras estórias no Huambo. De habitantes da aldeia Boavista, próxima ao
De habitantes da mesma aldeia mortos e enterrados à noite em valas abertas por grandes máquinas escavadoras sem deixar rastos.
De kalupetequistas que estão a ser abrigados nas aldeias em nome da solidariedade.
Fala-se em milhares de vítimas.
Faltam evidências.
Ficam dúvidas.
Um dado é inquestionável: morreram civis num contexto longe de ser propriamente campo de batalha.
Multiplicam-se os rumores.
E interrogações.
Tarefa complicada destrinçar o exagero do real.
De qualquer forma, convergem as ideias de perseguições nas aldeias.
Factos ocultos devem vir ao de cima com o retorno de fugitivos às províncias de origem.
À medida que se buscam respostas, surgem novas perguntas.
Bem ao estilo da máxima “quando encontrei as respostas, mudaram as perguntas…”
Sem comentários:
Enviar um comentário