SOFIA LORENA - 26/01/2015 - 18:59
A confirmar-se, a derrota dos jihadistas na cidade junto à fronteira turca será um golpe simbólico e táctico – e a prova de que é possível pará-los.
Exército iraquiano diz que expulsou os radicais da província de Dyiala.
Curdos turcos festajam a passagem de combatentes iraquianos a caminho de Kobani
Já não há confrontos no interior de Kobani, cidade curda síria junto à fronteira com a Turquia que o autoproclamado Estado Islâmico tenta tomar desde Setembro.
“Os curdos estão a perseguir alguns jihadistas nos subúrbios leste de Kobani, mas acabaram os confrontos dentro da cidade”, diz o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG com uma vasta rede de activistas e médicos no terreno.
“Kobani libertada, felicitações à humanidade, ao Curdistão e ao povo de Kobani”, escreveu no Twitter Polat Can, um porta-voz do YPG (Unidades de Defesa do Povo), o exército do PYD (Partido da União Democrática), o principal partido curdo da Síria.
“Vejo a bandeira do YPG içada em Kobani”, disse à Reuters Tevfik Kanat, um curdo turco que correu para a fronteira com alguns refugiados de Kobani quando ouviu as notícias.
“As pessoas estão a cantar e a dançar.”
“Ainda não estou preparado para dizer que a batalha foi vencida”, afirmou, bem mais prudente, o porta-voz do Pentágono, coronel Steve Warren, em Washington.
“A cidade está toda libertada.
Os confrontos vão começar agora nas aldeias” em redor, garantiu à Reuters Perwer Mohammed Ali, um jornalista que se encontra na linha na frente com o YPG.
Os combatentes do YPG, que resistiram aos jihadistas com a ajuda dos peshmerga (forças iraquianas curdas) e dos ataques aéreos da coligação formada em Agosto pelos Estados Unidos, avançam agora com muita precaução no interior das aldeias para onde fugiram os últimos homens do Daash (ou ISIS, como o Estado Islâmico é chamado na Síria e no Iraque) “por causa da ameaça de minas e de carros armadilhados”, explicou ao jornal libanês Daily Star Mustafa Ebdi, um activista da cidade.
As notícias dos avanços chegam depois de um fim-de-semana de muitos bombardeamentos contra posições do Daash: dos ataques lançados na Síria, “17 raides aéreos visaram oito unidades tácticas do ISIS e uma grande unidade, destruíram um veículo, um edifício ocupado pelo ISIS e oito posições de combate” do grupo, diz o Comando Central dos EUA.
A confirmar-se, a perda de Kobani é um golpe simbólico e estratégico, travando os planos do Daash para controlarem parte da fronteira síria-turca.
“Kobani transformou-se num enorme símbolo. Toda a gente conhece Kobani, é o lugar onde os curdos travaram o ISIS”, diz o analista curdo Mutlu Civiroglu, citado pela AFP.
“Eles perderam centenas de combatentes, milhões de dólares em armas e a imagem que dizia ‘onde quer que o ISIS vá ninguém o pode parar’”, explica.
“Em vez de ser o grande prémio que esperavam, virou-se contra eles como um bumerangue.”
Quatro meses de intensos combates em Kobani fizeram pelo menos 1600 mortos, segundo o Observatório Sírio; a maioria, mais de 1000, membros do Daash.
A maior parte dos civis escapou numa fuga em massa para a Turquia, assim que os confrontos começaram.
E mesmo que estes estejam prestes a terminar, nada indica que os habitantes possam regressar a casa em breve.
Segundo um responsável político da cidade, Idriss Nassan, metade de Kobani está destruída e grande parte do resto sofreu muitos danos.
Também não há água, electricidade ou alimentos.
As notícias de Kobani chegaram no mesmo dia em que o Exército do Iraque anuncia ter conseguido libertar a província de Diyala dos extremistas.
“As forças iraquianas controlam completamente todas as cidades e distritos da província”, afirma o general Abdelamir al-Zaidi.
Este oficial diz que os combates prosseguem numa zona montanhosa de Hamreen, que atravessa várias províncias, incluindo Diyala, no Leste do país, e que os jihadistas deixaram para trás “milhares de bombas, que demorarão muito a limpar”.
Depois de conquistar vastas áreas do Norte e Leste da Síria, e grande parte da província árabe sunita Anbar, que se estende dos arredores de Bagdad até à fronteira com a Síria, o Daash capturou a segunda maior cidade iraquiana, Mossul, em Junho do ano passado.
Daí avançou para conquistar grande parte do país sunita.
Incapaz de resistir, o Exército de Bagdad contra-ataca agora reforçado por tropas curdas, milícias xiitas e tribos sunitas em várias zonas do país.
|
Sem comentários:
Enviar um comentário