EDGAR CAETANO - 2/7/2015, 12:40
Governo admite tomar medidas difíceis mas recusa assinar por baixo um acordo que não reconheça que a dívida é insustentável.
Um resumo de uma entrevista de 19 minutos que pode ficar para a História.
O ministro das Finanças diz que se demitirá se o “Sim” vencer o referendo, mas está “muito confiante” de que isso não irá acontecer. Garante que o governo não assinará um acordo que não reconheça que a dívida grega é insustentável.
Traduzimos e parafraseamos algumas passagens desta entrevista de Guy Johnson, da Bloomberg TV, a Yanis Varoufakis, uma entrevista que arrisca ficar para a História desta crise.
Os bancos gregos vão abrir na terça-feira como normal?
Absolutamente.
Isto não é uma crise dos bancos, como em Chipre.
Isto é uma crise política, uma decisão do Eurogrupo de fechar os bancos para nos forçar a aceitar um acordo que não é viável.
Como é que, à luz das regras, o BCE poderá continuar a ceder liquidez de emergência se não houver um programa?
A Europa e o BCE têm vindo a criar regras à medida que vai avançando: os estímulos monetários do BCE, os fundos europeus, o “fazer o que for preciso para salvar o euro” [do BCE, em 2012]… Todas estas são iniciativas de última hora.
Tenho a certeza que, na segunda-feira, se houver vontade política e algum tipo de acordo preliminar facilmente o BCE poderá aumentar o limite da liquidez de emergência e os bancos poderão abrir normalmente.
O BCE tem as suas regras mas adapta-as à medida que é necessário.
O que, nós políticos, temos de fazer é permitir que o BCE aumente a liquidez de emergência para os bancos gregos.
Não quero dizer ao BCE o que tem de fazer, quero que o BCE seja uma entidade independente.
O BCE tem as suas regras mas adapta-as à medida que é necessário.
Mas a proposta europeia já não está em cima da mesa, com o expirar do programa…
A proposta técnica foi apresentada numa base pegar ou largar.
Mas se aceitássemos aquela proposta seria mais uma instância de prolongar o fingimento.
Daqui a alguns meses estaríamos de novo em crise e a ter este tipo de problemas, mesmo que os bancos estivessem abertos.
O que nós estamos a pedir às pessoas é por favor, apoiem-nos.
Esta proposta não tem quaisquer soluções ao nível do financiamento e da sustentabilidade.
Não aceitamos que nos digam: vá, assinem isto, tomem lá uma pequena tranche para segurarem as pontas mais alguns meses.
É tempo de isto acabar.
E se o “sim” vencer?
Talvez tenhamos de alterar a configuração do governo, porque alguns de nós não seremos capazes de viver com assinar este acordo. Pessoalmente, eu não assinarei mais um prolongamento do fingimento. Sou alérgico a isso.
Prefiro cortar um braço do que assinar um acordo desses.
Faremos o que for necessário para respeitar um voto “sim” do povo, mas estou muito confiante de que este não acontecerá.
Se o “sim” vencer, não serei ministro das Finanças na segunda-feira à noite.
Mas ajudarei quem for.
Se o “sim” vencer, não serei ministro das Finanças na segunda-feira à noite. Mas ajudarei quem for.
Se o “não” vencer, quanto tempo demorará a negociar um acordo que permita ao BCE dar mais liquidez de emergência?
Cerca de uma hora.
Estamos a negociar há cinco meses.
Eles sabem a nossa posição, nós sabemos a deles.
Estamos extremamente próximos na questão das reformas.
Onde não estamos próximos é na questão do financiamento e do peso da dívida que torne um plano destes viável.
Estamos preparados para tomar medidas difíceis, que nos levem a pisar algumas das nossas linhas vermelhas, mas precisamos de uma solução para a dívida.
É por causa de a dívida não ser sustentável que o investimento na Grécia tenha secado, à exceção de investimento especulativo que entrou e saiu.
A questão da dívida é um ponto crucial?
Eu digo que a dívida não é sustentável, mas eu sou o ministro das Finanças de um partido de esquerda radical.
Não me perguntem a mim.
Perguntem ao FMI e ao governo dos EUA, que recentemente reconheceram que a dívida não é sustentável.
Perguntem a qualquer economista independente.
Não será tempo de termos um acordo que não se baseie em projeções de sustentabilidade da dívida que não façam as pessoas rir?
[em termos práticos, Varoufakis explica aquilo que um engenheiro financeiro resolve em 10 minutos, o seu plano divulgado há várias semanas].
Não será tempo de termos um acordo que não se baseie em projeções de sustentabilidade da dívida que não façam as pessoas rir?
Acha que Merkel quer tirar-vos do governo?
Vou citar uma série da televisão BBC e responder: “Você pode muito bem dizer isso, eu nunca poderia comentar“.
É um pouco evidente que nós não somos um partido com quem os governos europeus querem negociar, desde sempre.
O sr. Rajoy veio aqui e fez campanha pelo anterior primeiro-ministro [Antonis Samaras].
Olhem para o que a imprensa alemã e francesa diziam.
Não por sermos de esquerda, porque esquerda e direita não significam nada hoje em dia.
A questão é se desafiamos ou não esta lógica estabelecida de aplicar a maior austeridade na economia em maiores dificuldades.
Os outros governos confiam em vós?
Os outros governos confiam em nós no sentido em que confiam que iremos sempre confrontá-los com a falta de lógica das suas posições, posições que eles não têm meios políticos para reconsiderar.
Deviam fazê-lo.
Eles sabem que quando nós damos a nossa palavra, iremos cumpri-la, ao contrário de outros governos.
Ninguém gosta que lhe digam que erraram.
O programa que foi aqui aplicado foi o maior erro político da História mas não querem admiti-lo.
Eles sabem que quando nós damos a nossa palavra, iremos cumpri-la, ao contrário de outros governos.
Já fez fila para levar 60 euros?
Não vamos personalizar mas nem a minha mulher nem eu o fizemos. Devemos ser os únicos gregos que ainda não o fizeram.
Primeiro porque não temos tido tempo e temos vivido uma vida frugal, mas também porque não seria apropriado verem-me numa fila para levantar dinheiro.
Mas vou considerar essa hipótese.
Varoufakis diz que se demite do governo se o “Sim” vencer. E Tsipras?
Quando se parte para a batalha não se fala da derrota.
Vamos ganhar no domingo, e estaremos cá para celebrar um acordo mutuamente benéfico com o resto da Europa.
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