domingo, 21 de junho de 2015

Tsipras já apresentou plano “definitivo” para convencer os credores

Ana Suspiro e Rita Dinis
                                                 21/6/2015, 10:36
Governo pode aceitar mais cortes, falta 0,5% do PIB, mas quer alívio de dívida. 
Tsipras já apresentou proposta a Merkel, Hollande e Juncker, e fala em solução "definitiva". 
Credores ainda aguardam.

















A um dia da realização da cimeira extraordinária dos líderes da zona euro, o governo grego esteve reunido em conselho de ministros para preparar um derradeiro plano para desbloquear as negociações e evitar o cenário de default (incumprimento). 
Angela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker e Christine Lagarde falaram ao telefone várias vezes com Alexis Tsipras, que lhes apresentou as linhas gerais das novas propostas. 
Num comunicado divulgado posteriormente, o gabinete do primeiro-ministro grego confirmou os contactos de alto nível e disse que a oferta era a “solução definitiva”.
“O primeiro-ministro apresentou aos três líderes a proposta da Grécia para um acordo mutuamente benéfico, que irá trazer uma solução definitiva e não um adiamento do problema“, escreveu o gabinete de Alexis Tsirpas em comunicado.
Às mãos dos técnicos da troika, no entanto, ainda não chegou nenhum documento oficial, segundo fontes diplomáticas da UE citadas pela Bloomberg. 
Em todo o caso, as mesmas fontes, que não quiseram ser identificadas, adiantam que foi marcada para as 17 horas uma reunião entre técnicos dos credores para discutir o eventual novo pacote de medidas grego. 
Mas com uma ressalva: se antes das 17h ainda não tiverem recebido o plano, a reunião não será “produtiva”, dizem.

Ao que tudo indica, em cima da mesa está uma proposta para eliminar as reformas antecipadas a partir de 1 de janeiro de 2016 e uma nova taxa sobre empresas e particulares. 
Mas o pacote que vai ser apresentado aos credores vale 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, de acordo fontes governamentais citadas pela Bloomberg. 
Isto significa que se mantém a diferença de 0,5% que, segundo o ministro das Finanças Yanis Varoufakis, separa a Grécia das instituições internacionais que exigem cortes que equivalem a 2,5% do PIB.

Atenas pretende cobrir este saldo negativo de quase mil milhões de euros com “medidas administrativas”, tal como foi referido no documento apresentado por Varaoufakis na reunião do eurogrupo e que não chegou a ser discutido.

Na área fiscal, Atenas aposta numa taxa sobre empresas com um lucro anual superior a 500 mil euros e uma “taxa de solidariedade” sobre rendimentos individuais acima dos 30 mil euros por ano.

Uma das áreas onde se mantém a divergência é nas taxas do IVA que os credores querem reduzir a dois níveis, contra os atuais três (que Portugal também tem), mas Varoufakis não quer ir por aí. 
Pode admitir, contudo, passar alguns alimentos e hotéis para a taxa de IVA mais elevada, como aconteceu com Portugal. 
Atenas poderá estar disponível para ir mais longe nas medidas de ajustamento orçamental, designadamente ao nível das taxas de IVA e das pensões mais altas, se a contrapartida for um alívio na dívida grega. 
Tudo indica que a nova proposta irá representar a ultrapassagem das “linhas vermelhas” desenhadas por Tsipras e Varoufakis.

O primeiro-ministro grego esteve esta manhã numa reunião extraordinária do governo para alinhar a estratégia para a reunião decisiva de amanhã, e para avaliar até onde poderá ceder nas promessas eleitorais para evitar o incumprimento (default). 
Para além de falhar o reembolso da dívida, em cheque está o pagamento ao FMI de 25 de junho de 1,5 mil milhões de euros, que Atenas só terá condições para cumprir se receber o que falta do empréstimo internacional. 
E mesmo em caso de luz verde amanhã, o tempo escasseia e seria preciso saltar várias barreiras processuais e formais para cumprir o calendário.

Mais do que um eventual default, ainda que temporário, no imediato a grande preocupação é a resistência do setor bancário, face à crescente hemorragia de depósitos que terá atingido cinco mil milhões de euros na semana passada, levando o BCE a elevar o financiamento de emergência.

Eurogrupo antecipado

A reunião dos ministros das Finanças, que antecede o encontro dos chefes de Estado e dos governos da zona euro (marcado para as 19h, menos uma em Lisboa), foi entretanto antecipada, anunciou o presidente do Eurogrupo no Twitter. 
Estava prevista para as 15h e vai afinal começar às 12h30 (11h30 em Lisboa).













Jeroen Dijsselbloem não explicou quais as razões da antecipação, mas o gesto deixa antever pelo menos que há muito trabalho pela frente e que o dia deverá ser longo.













Pressão total

Além de Jean-Claude Juncker, também a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, falaram com Alexis Tsipras este domingo, instando o líder do governo helénico a conseguir um acordo com os credores na segunda-feira. 
Segundo reportam os correspondentes do Financial Times em Atenas, Paris e Frankfurt, Merkel e Hollande deixaram a Tsipras a mensagem de que a reunião de segunda-feira “não é para negociar”, já que negociar com 19 países parece tarefa impossível nesta fase de urgência, mas sim para chegar a acordo com as instituições internacionais credoras – FMI, BCE e Comissão Europeia.

 Anne-Sylvaine Chassany em Paris, Henry Foy em Atenas e Claire Jones em Frankfurt  -  Última actualização: 21 de junho de 2015 12:49
Grécia pediu para chegar a acordo antes da cimeira com monitores de resgate
França e Alemanha disseram a Grécia deve ter um acordo sobre medidas de reforma económica com o trio de monitores de resgate finalizadas e entregues antes de cúpula de líderes cruciais entre Atenas e os seus credores na segunda-feira.
Com a reunião do gabinete grego no domingo para considerar propostas de compromisso, François Hollande e Angela Merkel telefonaram a  Alexis Tsipras tanto, o primeiro-ministro, para lembrá-lo que ele precisava de um acordo "nível pessoal" com a Comissão Europeia, o FMI e o BCE antes da cúpula.

Disseram-lhe que a cimeira não era para "negociações" - que de qualquer forma seria quase impossível num fórum, incluindo todos os 19 membros da zona euro - e pediu-lhe para chegar a um acordo com as instituições.
Funcionários e banqueiros da UE alertaram que o fracasso em chegar a um acordo na segunda-feira poderia levar a um default grego sobre suas dívidas e até mesmo forçar a sua saída da zona do euro.
Se um acordo for alcançado, os dois líderes disseram que as partes poderiam, em seguida, começar a discutir um terceiro resgate na cimeira.
França se acredita ser aberto a discutir a reestruturação da dívida para Atenas, uma prioridade para o Sr. Tsipras, cujo governo de esquerda radical ganhou o cargo em janeiro definindo a Grécia em rota de colisão com os seus credores.

O gabinete grego foi convocado para uma reunião na residência Mansion Maximos Sr. Tsipras 'no domingo de manhã para uma reunião de última hora para botar para fora a estratégia do governo.
Ministros são esperados para discutir como o Sr. Tsipras pode fazer a ponte seus dois mandatos eleitorais aparentemente intratáveis: acabar com a austeridade e bloquear novos cortes nos gastos e ao mesmo tempo satisfação das exigências dos credores para a reforma para manter a Grécia na zona euro.
A cimeira foi chamada após a falha da reunião de quinta-feira de ministros das Finanças da zona do euro ', no Luxemburgo, para cortar um negócio que iria desbloquear € 7.2 biliões em fundos de resgate que Atenas precisa para pagar o Fundo Monetário Internacional até o final de junho ou o rosto do default.

Ministro de Estado Nikos Pappas utilizou a entrevista no sábado com o jornal Ethnos do país para reiterar a firme oposição do governo para cortes nos planos de pensões ou salários.

Yanis Varoufakis, ministro das Finanças da Grécia, escrevendo no diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, disse a chanceler alemã Angela Merkel enfrenta "uma escolha difícil" antes da cimeira crucial de líderes europeus em Bruxelas na segunda-feira.

Merkel poderá entrar em "um acordo honroso com um governo que se opõe resgates" e quer "uma solução negociada que ponha fim à crise grega uma vez por todas".
A segunda opção foi a de "ouvir as sirenes" doe seu governo, que segundo ele foram "encorajá-la a abandonar o único governo grego que é baseado em princípios e que pode levar o povo grego ao longo do caminho da reforma genuína."

Sr. Varoufakis disse que o governo grego viria a Bruxelas na segunda-feira disposto a um compromisso. mas ele só iria comprometer desde que o governo liderado pelo Syriza não for convidado a assumir novos empréstimos "em condições que oferecem pouca esperança de que a Grécia pode pagar de volta as suas dívidas".
"A escolha, estou com muito medo, é dela", disse ele.
Num sinal da crescente ansiedade na Grécia, os poupadores retiraram mais de € 1,6 bilhão em depósitos na sexta-feira, de acordo com duas fontes bancárias, a maior retirada num dia desde que o governo de esquerda da Grécia tomou posse em janeiro.
Mais de € 6 bilhões deixaram o sistema esta semana, e os banqueiros temem que os saques podem acelerar quando os bancos reabrirem na segunda-feira.
Apoiantes do Syriza vão-se reunir na frente do parlamento na noite de domingo para exortar o governo a não ceder às exigências dos credores.

No fim de semana Jeroen Dijsselbloem, ministro das Finanças holandês, que preside às reuniões dos seus pares da zona do euro, trouxe a reunião para a frente por duas horas e meia.
Não dando nenhuma explicação para o início mais cedo, o Sr. Dijsselbloem disse que os ministros se reunirão em Bruxelas às 12h30 de segunda-feira.
Angela Merkel, chanceler alemã, e outros líderes da zona do euro devem-se a sentar-se com o Sr. Tsipras no mesmo local às 7 horas.
Sublinhando preocupação internacional de que um default grego poderia repercutir em toda a economia mundial, o secretário do Tesouro norte-americano Jack Lew disse que cabe à Grécia  fazer concessões.
"O que sabemos é que a melhor solução para a Grécia é tomar algumas decisões difíceis e para que isso seja trabalhado", disse à rede de televisão CNN.
"Dentro da Grécia, a consequência de uma falha aqui significaria uma terrível, terrível declínio em seu desempenho econômico."

O Banco Central Europeu lançou uma tábua de salvação delgada para o sistema bancário conturbado da Grécia na sexta-feira, como a corrida aos credores do país acelerou antes da cúpula de líderes cruciais entre Atenas e os seus credores na segunda-feira.
O BCE concordou em aumentar o montante da assistência de liquidez de emergência disponível para os bancos gregos por volta de € 1.75bn para € 85.9bn na sexta-feira, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto, para permitir que os credores para pagar de volta aos depositantes.


Se houver pelo menos algum terreno comum entre gregos e credores, tanto Merkel como Hollande terão dito a Tsipras que então aí, sim, os líderes da zona euro poderão começar a discutir a dívida grega e um terceiro programa. 
Hollande terá mesmo mostrado abertura para discutir o alívio da dívida e a reestruturação, que é o principal requisito apontado pela dupla Tsipras e Varoufakis.

François Hollande esteve este domingo em Milão, onde falou aos jornalistas depois de uma reunião com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, onde disse que devia ser feito tudo para manter a Grécia na zona euro. 
“Se a Grécia sair do euro não será bom nem para os gregos nem para os europeus”, disse, destacando que a Europa “precisa de estabilidade”.

Matteo Renzi, socialista, mostrou-se ainda mais otimista e disse acreditar mesmo na mensagem transmitida por Tsipras em comunicado: de que estavam reunidas todas as condições para que a Grécia e os credores internacionais cheguem a um acordo benéfico para ambas as partes. 
“Seria um erro não aproveitar esta janela de oportunidade”, disse numa conferência de imprensa conjunta com o presidente francês.

Alexis Tsipras deverá voar para Bruxelas ainda esta noite.

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