sexta-feira, 26 de junho de 2015

Afinal, o que querem os credores para a Grécia?

Luís Reis Pires
00:07
Motivações dos credores que negoceiam com a Grécia são diferentes - e, por vezes, antagónicas.

FMI: o polícia mau que pode vir a ser bom
Christine Lagarde, Directora do FMI
O FMI tem sido acusado pela Grécia de estar a fazer exigências mais duras. 
Ao Económico, fonte do governo helénico acusou mesmo o Fundo de ser responsável por fazer tábua rasa à proposta que Atenas entregou na segunda-feira. 
Não será bem assim, mas a verdade é que o FMI tem sido das instituições mais duras com a Grécia, algo que se deve, em grande medida, ao facto de Fundo estar debaixo de fogo de vários dos seus países-membro mais pobres. 
Países como o Brasil, por exemplo, criticam duramente a participação do FMI nos resgates à Europa e, em Washington, corre já o rumor de que o Fundo não voltará a ter um director europeu tão cedo. 
A directora-geral, Christine Lagarde, tem um objectivo: tirar o FMI da Grécia e não perder dinheiro. 
Esta motivação fará com que o FMI, agora duro, tenha uma posição mais próxima de Atenas num outro tema a ser discutido no âmbito de um terceiro programa de ajuda: a reestruturação da dívida.

Comissão: os conciliadores
Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia
Ainda em Fevereiro, quando o Eurogrupo discutia com Atenas as bases para iniciar negociações para fechar o resgate, a Comissão surgiu de imediato como a instituição que estaria a fazer maior esforço de aproximação à Grécia. 
Na altura, o comissário europeu para a Economia, Pierre Moscovici, chegou a escrever um rascunho de uma proposta de acordo, que Varoufakis viu com bons olhos, mas que foi rejeitada pelo Eurogrupo. Juncker, um dinossauro da política europeia, está bem consciente dos riscos económicos e geopolíticos de empurrar Atenas para fora do euro e tem-se desdobrado em inúmeras conversas com Tsipras e com os restantes responsáveis europeus e do FMI. 
As notícias que correm em Bruxelas dão conta que a Comissão estaria disposta a aceitar mais algumas das medidas que a Grécia apresentou na segunda-feira e que terá dito ao FMI que o governo grego não conseguiria ir mais longe. 
Ontem, Pierre Moscovici voltou a ser o mais optimista em Bruxelas, frisando que um acordo é "possível" - e "desejável".

BCE: relutante responsável por desligar a ficha
Mario Draghi, Presidente do BCE
O BCE tem seguido todo o impasse grego com a consciência de que, em última análise, caber-lhe-á a si desligar a ficha e empurrar a Grécia para fora do euro. 
A autoridade monetária defende a implementação de reformas estruturais a sério na Grécia e ratificou sem hesitar as exigências da última proposta dos credores. 
Mas mantém a esperança num acordo. 
Aliás, Mario Draghi já deu provas, mais do que uma vez, que quer a moeda única intacta, por isso dificilmente aceitará ser o rosto do ‘Grexit'. 
O BCE tem mantido o apoio ao sistema financeiro helénico e, na última semana, passou a fazer revisões diárias da linha de liquidez de emergência que mantém os bancos gregos ligados à máquina, a ELA. Mas a autoridade monetária é liderada por governadores dos vários países do euro e nem todos mostram a mesma vontade de salvar a Grécia. 
O alemão Jens Weidman, por exemplo, sinalizou ontem que o BCE deve parar de aumentar a ELA.

A frente dura no Eurogrupo
Wolfgang Schäuble, Ministro das Finanças alemão
No Eurogrupo, o rosto da frente mais dura para com a Grécia é a de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão. 
Em cinco meses de negociações, tem repetido sempre o mesmo discurso: não há progressos, as medidas da Grécia não chegam, cabe a Atenas tomar uma decisão. 
Ao contrário da chanceler alemã, Angela Merkel, que pondera mais os riscos geopolíticos do ‘Grexit', Schäuble mantém a visão de que a austeridade é a única via e não virá mal ao mundo da saída da Grécia. 
Portugal e Espanha estão na frente dura. 
Ambos têm eleições à porta e não querem que a Europa ceda ao Syriza, porque poderá ser prejudicial nas urnas. 
Mas a linha mais dura é mesmo a dos Estados bálticos e de Leste, países mais pobres do que a Grécia, alguns dos quais que ajustaram brutalmente para entrarem no euro, e que não querem emprestar a um país que, na sua visão, recusa empobrecer para sair da crise. 
O ministro eslovaco, Peter Kazimir, faz questão de demonstrar antipatia com o tema grego nas reuniões do Eurogrupo.

Os Estados mais benevolentes
Michel Sapin, Ministro das Finanças francês

Nesta altura, a Grécia não tem propriamente amigos ou aliados no Eurogrupo. 
Em Bruxelas, graceja-se: "Depois de cinco anos a tentarem estar todos de acordo [Eurogrupo], quem é que se arrisca a ter uma visão contrária por causa dos gregos"? 
No entanto, não havendo Estados aliados, há uns mais benevolentes. 
É o caso de França, por exemplo. 
O presidente francês, François Hollande, quer evitar o ‘Grexit' a todo o custo e Paris tem tentado aproximar-se de Atenas e evitar uma ruptura. 
No mesmo pote está também Itália. 
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, disse esta semana que é preciso respeitar a Grécia e que os gregos têm de fazer a sua parte, mas a Europa tem de ser solidária. 
Terá sido esta frente, onde se inclui agora o ministro irlandês, Michael Noonan - que já esteve na mesma linha de Portugal e Espanha -, que no Eurogrupo de ontem questionou a troika sobre algumas das medidas propostas, apelando a algumas suavizações que fossem ao encontro da proposta grega.

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