sexta-feira, 19 de junho de 2015

Merkel e a Grécia: Vira-se o Feitiço contra a Feiticeira?

O Economista Português
Um blog de Economia Política e de Política Económica
Luís Salgado de Matos | Junho 19, 2015 às 12:17 am 
Publicado em 20 de Maio de 2015
Quando no passado recente a Grécia se recusou a pagar o que combinara com a troika, a chancelarina Merkel adotou a linha dura: se os gregos não pagam, levamo-los à bancarrota. 
E convenceu os alemães que os gregos, como os restantes povos do sul da Europa, sofriam de Sol a mais e de trabalho a menos: se trabalhassem, pagariam e assim curariam os seus males da coluna.

O Economista Português nunca acreditou que aquela posição fosse para levar a sério: forçar a Grécia à bancarrota era impedir os credores alemães da Grécia de realizarem os seus créditos e livrar aquele país da sua dívida impagável. 
Seria na história universal a primeira revolução contra as dívidas movida pelos credores, pois em geral são os devedores a tentarem revoluções para não pagarem o que devem. 
Quem se esqueceu dos Gracos? 
Ou da inflação moderna?  
Dado que o bluff era no caso desnecessário ou inútil, O Economista Português atribuíu essa posição da Srª Merkrl à sua falta de educação económica: filha de um pastor luterano, engenheira química, chefe da propaganda política da Alemanha comunista, nada no seu CV dava a entender que ela percebia o capitalismo melhor do que V. I. Lenine (1870-1924), seu antigo mestre inteletual. 
Merkel aceitou contrariada os dois perdões de dívida a Atenas e acabou por levar a sua avante em Chipre mas aqui o que estava em causa era a sua cruzada contra a Rússia de Putin, pois as dívidas cipriotas pouco pesavam.

A história dirá se O Economista Português tinha razão naquele particular. 
Certo é que o feitiço parece estar a virar-se contra a feiticeira Merkel: na opinião pública alemão e no próprio partido da chancelarina generaliza-se hoje a ideia que a Grécia terá que ser forçada à bancarrota. 
Ora a Srª Merkel já percebeu que não estamos no capitalismo concorrencial de pequenas unidades incapazes de influenciarem os preços e por isso é problemático levar à falência o capital financeiro alemão – e francês e holandês e belga e luxemburguês. Por isso, a ex-durázia Merkel quer hoje chegar a acordo com Atenas. 
Talvez não o consiga, para nosso bem e graça aos seus poderes de persuasão chauvinista.

Os últimos moicanos da troika declaram Atenas derrotada. 
Num artigo recente, Anatole Kalecki, um economista conhecido, afirma que o Syriza partiu de uma falsa alternativa: «os credores teriam que expulsar a Grécia da eurozona ou perdoar-lhe a dívida sem condições». 
Claro que a «falsa alternativa» é ela própria uma «falsa alternativa»: se a Grécia não pagar e continuar na União Europeia e na eurozona, os credores ter-lhe-ão perdoado as dívidas e Atenas entrará no bimetalismo, usando o euro para certas transações externas e o neodracma para os pagamentos internos; mais tarde lhe abrirão novos créditos; se a Eurozona se imiscuir demasiado na política grega, o Syriza tem ainda o caminho de selar um acordo com a Rússia, acordo que ninguém saberá se é ou não compatível com a União Europeia. 
Se necessário, no meio da trapalhada, o Syriza, num ímpeto patriótico e de revolta contra eventuais sondagens de opinião, ou manifestações «manipuladas do estrangeiro» (uma especialidade antiga de regresso às Balcãs), tem a opção adicional de sair da Eurozona e suspender a sua pertença à União Europeian – à espera de voltar a entrar, em melhores condições.

Anotemos que nenhum responsável grego disse que exigia o «perdão total da dívida» como condição de acordo.

O artigo citado está disponível em

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