sexta-feira, 19 de junho de 2015

Roleta grega: Atenas marca Pontos

O Economista Português
Um blog de Economia Política e de Política Económica
Publicado em 19 de Junho de 2015
Edição de 18 de junho de 2015

Ontem, os senhores ministros das finanças da Eurozona encontraram-se e não se entenderam sobre as negociações com a Grécia. 
Os credores acusam a  Grécia de violar compromissos ou de não apresentar propostas estruturadas, a Grécia acusa os credores de insensatez ou de maximalismo. 
Portanto o jogo Grécia - Alemanha continua nos moldes previstos.  A Grécia mostra que ficará feliz se sair do Euro, e a imprensa financeira internacional ecoa esta expetativa. 
Além disso, volta a aproximar-se de Moscovo, no plano económico, e emergem negócios que parecem ter pés e cabeça. Em simetria, a Alemanha renova as ameaças de expulsão. 
A Grécia está a ser ligeiramente mais convincente do que os nossos credores.

Recapitulemos: se a Grécia sair do Euro fica livre da sua dívida externa e ganhará de um dia para o outro uns 8-10% do seu PIB, que gasta a pagar a dita dívida. 
E os credores, onde se destacam os bancos franceses e o Estado alemão, perderão os seus juros hoje e o seu capital amanhã. 
A sanção para a bancarrota são juros mais altos – mas mais baixos do que aquele que a Grécia está a pagar hoje. 
Isto é: para os maus pagadores tradicionais (tipo Portugal, Grécia, Argentina) o prémio da finança internacional é pior do que o castigo.

O Financial Times, o conceituado diário londrino afirma que é o Sr. Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, que não deixa a chancelarina Merkel e a UE chegarem a acordo com os gregos. 
O jornal, implicitamente, sugere que a Srª Merkel quer parecer dura face aos helenos para melhor lhes perdoar.

A posição do Sr. Schäuble lembra os malucos do riso: se ele não deixar a Alemanha emprestar aos gregos para pagarem aos alemães, estes não serão pagos. 
Mas o Sr. Schäuble  não vê este aspeto pois crê que os gregos cederão à pressão teutónica. 
Veremos. 
O governo de Allende caiu no Chile em 1972 quando as donas de casa da classe média se manifestaram nas ruas de cassarola na  mão. 
Mas as donas de casa grega não se manifestam contra o Sr. Tsipras – e a direita grega está muito caladinha, a ver passar a caravana pois sabe que, após Tsipras, só conseguirá governar se houver uma grande e autêntica crise. 
O Economista Português suspeita que o Presidente Obama telefonará  ao Sr. Schäuble sugerindo-lhe que evite incendiar o mundo em nome dos ideais conservadores.

A saída grega começa a tornar-se verosímil e a contagiar-nos: a nossa dívida externa paga mais juro e é mais difícil de colocar. Havia um português que tinha todo o interesse em que a Grécia não saísse do Euro: o Dr. Passos Coelho. 
Se a Grécia sair do Euro, ele concorrerá às eleições num clima de crise crescente da dívida portuguesa, com os juros da nossa dívida a subirem todos os dias (lembram-se como caiu de primeiro ministro o licenciado em engenharia Sócrates?). 
Contudo, foi Coelho um dos políticos que mais acicatou à dureza contra a Grécia, abrindo o caminho para a sua expulsão da Eurozona.  
Se conseguisse, por certo perderia as eleições em Portugal. Ontem apelou à «racionalidade»: embora tarde, talvez tenha percebido. 
É mais um episódio d’ «os malucos do riso», o apreciado  programa das 20h00 das televisões portuguesas.

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