Se a Grécia entrar em default, o Governo Português admite desviar a almofada financeira para fazer face a meses sem ir ao mercado, em vez de antecipar mais o pagamento ao FMI.
Não é um travão a fundo, até porque o objetivo é mais político que financeiro, mas é um repensar da estratégia caso a Grécia entre em default e a zona euro entre em nova crise.
O Governo português admite voltar a “fazer contas” à utilização da almofada financeira que está a direcionar para pagar antecipadamente a ajuda ao FMI (e com isso baixar a dívida pública) para evitar que o país vá aos mercados durante mais tempo e evite as perturbações maiores nos mercados da dívida.
Ou seja, o Governo pediu à Comissão Europeia para pagar até 14 mil milhões de euros ao FMI por antecipação e pretende pagar metade do que deve ao Fundo num prazo máximo de 30 meses, mas a Grécia pode agora baralhar estas intenções.
Fonte do Governo admite que a situação dos gregos coloca Portugal “num limbo”, uma vez que tem de decidir se aplica a dita almofada financeira num pagamento antecipado do empréstimo ou se reduz esse pagamento para o país viver mais tempo sem ir aos mercados da dívida.
“Claro que o que se vai passar na Grécia nos coloca num limbo”, diz a mesma fonte que acrescenta: “Ainda bem que temos os cofres cheios”.
Frase parecida foi dita por Maria Luís Albuquerque já este ano e levantou um coro de protestos, contudo, acreditam no Governo, é essa mesma almofada financeira que vai fazer com que o impacto de uma saída grega da moeda única afete menos do que se está à espera: “Se nos perguntam se isto nos vai obrigar a um travão, acho que não.
Temos que baixar a dívida por razões políticas – cumprir um objetivo – e porque ter isso de lado custa dinheiro.
Mas se a Grécia entrar em default temos de parar para fazer contas e tomar as decisões mais racionais”.
A ministra das Finanças pediu em Fevereiro aos parceiros europeus autorização para pagar antecipadamente 14 mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional – o pedido tinha de ser feito, uma vez que Portugal estava assim a privilegiar o pagamento a um dos três credores da troika.
A intenção é pagar antecipadamente (poupando nos juros através da substituição de dívida em mercados e aproveitando os juros baixos destes primeiros meses do ano) cerca de metade do empréstimo do fundo.
Mas tudo depende da situação do mercado.
Se esta se agravar com a Grécia, o plano do Governo fica posto em causa e poderá não conseguir substituir dívida em mercado de modo a ser rentável o pagamento antecipado ao FMI.
Esta é uma das hipóteses que o Governo tem posto em cima da mesa nos últimas semanas, desde o agudizar da crise grega.
Ao Observador, um social-democrata acrescenta que Portugal “pode pagar menos ao FMI por causa da Grécia”.
Isto porque o dinheiro que anteciparia ao Fundo pode ter de ser canalizado para a sobrevivência do Estado durante mais tempo até que os juros no mercado voltem a baixar. A expectativa é que se houver uma queda da Grécia e os juros dispararem, Portugal poderá evitar o período de maior conturbação das taxas sem se expor em mercado e só fazer emissões de dívida depois do período mais agudo nas praças.
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