José Macário
16 Out 2017
Meios disponíveis e o comandante operacional “não se mostraram suficientes para controlar” o incêndio que começou às 15h00 de 17 de junho em Escalos Fundeiros, Pedrogão Grande, indica o relatório do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais.
Foi esta segunda-feira entregue à ministra da Administração Interna o relatório “O complexo de incêndios de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, iniciado a 17 de junho”. No relatório, elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais e coordenado por Domingos Xavier Viegas, conclui-se que o principal foco de incêndio, resultante das ignições de Escalos Fundeiros e de Regadas, foi causado pelo contacto entre a vegetação e uma linha elétrica de média tensão, o que revela “uma deficiente gestão de combustíveis na faixa de proteção da linha, por parte da entidade gestora”, afirma o relatório, apontando o dedo à EDP.
A tragédia, que custou a vida a 65 pessoas – e não a 64 como as que estavam a ser até agora contabilizadas – foi agravada, diz o relatório, pela insuficiência dos meios e “do seu comandamento”, apesar de ter sido “desde logo reconhecido” o potencial do incêndio de Escalos Fundeiros “para se vir a tornar um grande incêndio”.
Ressalvando que o incêndio “apresentou uma dificuldade de supressão acima da média”, o documento publicado no portal do Governo, aponta o dedo à “falta de perceção” da importância dos vários focos de incêndio, “nos vários escalões de decisão”, o que levou a que não fossem utilizados mais recursos, “nomeadamente mais meios aéreos pesados, no seu combate, no período entre as 15:00 e as 18:00”.
O relatório vai mesmo mais longe e diz que o incêndio de Regadas foi “menosprezado”, tendo até se ter juntado o incêndio de Escalos Fundeiros, “apenas um meio pesado de combate terrestre dedicado”. Além disso, “não há registo oficial deste incêndio, que foi de grande relevância, e várias entidades desconheciam até a sua existência”, continua o relatório.
A reação ao agravamento da situação foi “claramente tardia”, sublinha este mesmo relatório, que dá conta ainda de que “para a larga maioria das vítimas (…), a permanência em casa teria sido a opção mais segura”, e de que a falha generalizada do sistema de comunicações “terá contribuído para a falta de coordenação dos serviços de combate e de socorro, para a dificuldade de pedido de socorro por parte das populações e para o agravamento das consequências do incêndio”.
Para a equipa de investigadores da Universidade de Coimbra, a falta de Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios impediu os municípios de Pedrógão Grande e de Castanheira de Pera de receberem financiamento durante os últimos anos, para promoverem ações de prevenção, “com manifesto prejuízo destas”, ao mesmo tempo que “constituiu justificação, perante a lei, para a omissão de ações de prevenção, por parte de outras entidades e de particulares”.
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