sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Marcelo arrefece polémica com Costa, mas não encerra assunto

Incêndios
Paulo Tavares
27 DE OUTUBRO DE 2017 15:27























Presidente da República evitou todas as perguntas sobre o recente desencontro entre Belém e São Bento, mas cedeu ao comentar declaração de novo ministro da Administração Interna

"Sobre essa matéria, o que tinha a dizer está dito". 
À saída de uma longa visita à escola Gaspar Frutuoso, em Ribeira Grande, S. Miguel, Marcelo Rebelo de Sousa evitou todas as perguntas sobre o recente desencontro entre Belém e São Bento à volta da questão dos incêndios e dos choques em cada palácio com o discurso do outro. 
O Presidente evitou mesmo uma questão direta sobre se este era, para ele, um assunto encerrado.

A única cedência a esta estratégia de acalmia foi uma frase sobre as declarações do novo ministro da administração interna. 
Eduardo Cabrita disse hoje que "Portugal não admitirá que nos dividamos em torno desta tragédia". 
Era tudo o que o Presidente queria ouvir, como que um balde de água para apagar um pequeno incêndio. 
"É exatamente o que eu tenho dito", afirmou Marcelo, "tenho apelado a um consenso, a um pacto, a uma convergência de regime sobre essa matéria. 
Portanto, se for possível haver essa convergência sobre o plano de emergência, sobre a solução que vier a ser adotada - o mais rápido possível, mas devidamente estudada -, sobre a prevenção e combate e também sobre a floresta, eu acho que isso era muito bom para o país".

Questionado sobre se algo tinha mudado no papel do Presidente nesta "nova fase" - o próprio tinha afirmado à chegada aos Açores que o país político vive agora uma nova fase, depois da rejeição da moção de censura apresentada pelo CDS -, Marcelo sublinhou que o Presidente da República está onde sempre esteve, "com o mesmo mandato, com os mesmos poderes, com a mesma leitura desses poderes e com as mesmas exigências". Quais? 
Procurar: "compromissos nacionais de regime, que o governo seja forte e governe, e que dure toda a legislatura, que a oposição seja forte e constitua uma alternativa para o caso dos portugueses, no momento das eleições, quererem escolher uma outra solução de governo". 
Para quem tenha dúvidas, o Presidente sublinha: "Foi assim, é assim, será assim. 
Eu não mudo. 
Por detrás de uma aparência de uma pessoa muito serena e tranquila, sou muito determinado naquilo que são as linhas do mandato, que aliás corresponde àquilo que recebi dos eleitores, com base no que me comprometi a fazer na campanha eleitoral. 
Não vai haver mudanças".

E, se o homem não muda, mudaram as circunstâncias? 
Claro. 
"É evidente que as circunstâncias são complexas no momento. 
O grande desafio do ano e meio que passou foi o desafio orçamental e da consolidação e estabilização do sistema bancário. 
Foram vencidos. 
O grande desafio neste momento é o do crescimento económico e da criação de emprego, por um lado, e ao mesmo tempo fazer face a problemas que irromperam. 
Um deles tem uma prioridade política óbvia, que uma resposta cabal a este problema da floresta, até porque é a resposta a um problema que tem a ver com o crescimento económico e a justiça social, que é o problema das desigualdades entre os diversos portugais". 
Não respondendo a questões sobre o seu relacionamento com o primeiro-ministro, acabou por falar do tema incêndios e rematou dizendo: "se virem, as linhas essenciais são as mesmas, o acento tónico é que muda".

Esta conversa com os jornalistas aconteceu à saída de uma aula sobre cidadania, para alunos do 5º e 6º anos, que durou mais de uma hora. 
Ao responder a uma questão sobre como era o seu dia típico enquanto Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou o caos de algumas das suas visitas, em Portugal e no estrangeiro, e deu um exemplo de como nem sempre as coisas estão na sua mão: "na visita que fiz pelos concelhos onde houve a tragédia há uma semana e meia, eram os próprios presidentes de câmara ou de junta que me queriam mostrar mais lugares. 
Mais casas, mais campos, mais escolas que tinham ficado danificadas, ou capelas. 
Ou eram populações que estavam à beira da estrada a pedir para parar e o Presidente não pode dizer adeus e seguir porque aquelas populações estão a sofrer uma fase muito difícil da sua vida". 
Pode ter sido apenas uma resposta inocente a uma pergunta inocente, mas pode encontrar-se aqui uma explicação e uma resposta aos que têm criticado a tournée de afetos da semana passada pelo centro do país

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