sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Governo espanhol reúne-se no sábado para suspender autonomia da Catalunha

INDEPENDENTISMO NA CATALUNHA
LILIANA BORGES
19 de Outubro de 2017, 8:59 actualizado a 19 de Outubro de 2017, 11:00

























Madrid mostra-se irredutível e vai accionar o artigo 155.º. Guardia Civil pede gravações de comunicações do dia do referendo aos Mossos.

O líder catalão, Carles Puigdemont, garante que irá mesmo avançar com a independência da Catalunha, respondendo assim ao prazo dado pelo presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, para esclarecer que não declarou a independência da Catalunha. 
"Se o Governo do Estado persistir em impedir o diálogo e continuar a repressão, o Parlamento da Catalunha poderá proceder, se achar oportuno, ao voto da declaração formal de independência que não votou no dia 10 de Outubro," lê-se na carta assinada pelo presidente do governo regional e que foi divulgada pelos jornais espanhóis. 
Madrid já respondeu, na mesma manhã em que a Guardia Civil entregou à polícia catalã, os Mossos, em Lérida, acesso às gravações das comunicações dos Mossos durante o dia do referendo.

Em resposta à carta de Puigdemont, o Governo espanhol anuncia que irá reunir-se no sábado em conselho de ministros para avançar com a activação do artigo 155 da Constituição – uma ferramenta que permite ao Estado assumir determinadas funções de poder na Catalunha, suspender a autonomia e consequentemente o processo de independência. 
O comunicado do Governo espanhol foi lido pelo porta-voz Íñigo Méndez de Vigo, numa declaração sem direito a perguntas.

"O Governo entende que não houve resposta ao seu pedido", afirmou Íñigo Méndez de Vigo. 
Por isso, "[o governo espanhol] vai continuar os trâmites previstos no artigo 155.º da Constituição para restaurar a legalidade”, acrescentou.


Na carta divulgada nesta manhã, o líder catalão argumenta que "o povo da Catalunha, no dia 1 de Outubro, escolheu a independência num referendo que recolheu o apoio de uma elevada percentagem de eleitores". 
"Uma percentagem superior ao que permitiu ao Reino Unido iniciar o processo do "Brexit" e com um número superior ao voto do Estatuto de Autonomia da Catalunha”, prossegue.

Puigdemont prossegue para lembrar que propôs a Rajoy um encontro, mas não obteve qualquer resposta, sublinhando o esforço de diálogo, que diz não ter sido correspondido. Rajoy, por seu lado, sublinha na sua resposta, os "danos à estrutura económica da Catalunha" criados pelo executivo autonómico, a Generalitat. 
“O Governo irá recorrer a todos os meios ao seu alcance para restaurar o quanto antes a legalidade e a ordem constitucional e recuperar a convivência pacífica entre cidadãos e acabar com a deterioração económica que a insegurança jurídica está a causar na Catalunha”, conclui o comunicado do Governo espanhol.

A reunião extraordinária deste sábado deverá definir as medidas do artigo 155.º que serão aplicadas e apresentará uma proposta ao Senado, que terá de a votar. 
A execução só avançará se for aprovada pela maioria do Senado.

Caso se confirme a aplicação do artigo 155.º, Puigdemont não será afastado do cargo, mas perderá as competências e o novo presidente da Generalitat é escolhido por Madrid.

A missiva foi enviada minutos de se esgotar o prazo para o governo da Catalunha esclarecer a sua posição sobre a declaração de independência. 
Citado pelo jornal espanhol El País, o líder do partido Cidadãos, Albert Rivera, reagiu imediatamente à carta e sublinhou que o Governo espanhol "não aceita chantagens".

Tensão entre Madrid e Bruxelas

A tensão entre a Catalunha e o Governo espanhol estará também a reflectir-se na relação entre Madrid e Bruxelas, nota o jornal espanhol El Mundo citando jornais belgas.

De acordo com a imprensa, o primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel, não está satisfeito com as respostas de Madrid na luta da independência da Catalunha. 
Escrevem os jornais belgas que o chefe de gabinete de Rajoy, Jorge Moragas, enviou um e-mail ao embaixador belga em Madrid, no qual se afirmava “estupefacto” com “os ataques do Governo belga” que poderiam “ameaçar seriamente as relações bilaterais”. 
Charles Michel é uma das vozes mais críticas da violência e repressão policial registada no dia do referendo na Catalunha, a 1 de Outubro.

Rajoy e Michel estão nesta quinta-feira em Bruxelas, em dia de Conselho Europeu.

lilianaborges@publico.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário