sábado, 9 de junho de 2018

O curioso caso de Pickles, o cão que salvou o Mundial

MUNDIAL 2018
Tiago Oliveira
23.05.2018 às 13H10
Pickles tornou-se um herói nacional com a sua descoberta da taça roubada

Em 1966 o troféu Jules Rimet foi roubado da vitrina em que estava a ser exibido e a organização do mundial na Inglaterra estava em risco. Até que um improvisado agente canino entrou em ação e deixou tudo pronto para a competição que colocou Eusébio no panteão dos melhores (Esta é a oitava história na nossa série enquanto Portugal não entra em campo no Mundial da Rússia)


Antes dos inspetores Rex e Max nos darem a conhecer o mundo da investigação canina na televisão, houve um caso bem real a que não faltam reviravoltas, enganos e heroísmo acidental. 
Falamos de Pickles, o intrépido cão que em 1966 recuperou o roubado troféu do Mundial, salvou a honra inglesa e (aqui talvez num plano mais romântico) foi o catalisador da vitória do país de sua majestade na competição realizada em solo caseiro.

Tal como nos lembra a música oficial do Euro 96, era o regresso do futebol a casa e as expectativas dos anfitriões estavam ao rubro, na esperança de finalmente conquistar o primeiro troféu mundial para a equipa dos três leões. 
Inglaterra engalanou-se para receber a competição onde se estrearam duas equipas que proporcionaram momentos épicos no decorrer da prova, Portugal e Coreia do Norte e para a qual as seleções africanas se recusaram a participar no apuramento em protesto contra as regras de qualificação que as obrigavam a disputar um lugar com uma seleção asiática.

Polémicas que não retiraram brilho à ocasião para a qual viajaram as maiores estrelas do mundo, como Eusébio, Pelé, Beckenbauer ou Bobby Charlton. 
E Jules Rimet, não o defunto presidente da FIFA, mas a taça de prata banhada a ouro que levava o seu nome e que chegou à sede da Federação Inglesa em janeiro de 1966, onde se encontrava guardada sobre fortes medidas de segurança.

ROUBO À LUZ DO DIA

Nada que um magnata dos selos e um simpático acordo financeiro não contornasse, e permitisse a exibição do troféu numa exposição a realizar em pleno centro de Londres. Com um seguro de 30 mil libras (€34 mil), foi colocada numa vitrina que, em teoria, estaria guardada 24 horas por dois agentes de uniforme. 
É hora de utilizar a expressão alegadamente, pois logo no segundo dia, a taça foi roubada. 
Como? 
Ainda hoje a situação é pouco clara mas, ao que parece, bastou os dois agentes "profissionais" saírem ao mesmo tempo do seu posto para que alguém, em poucos segundos, entrasse por uma saída de emergência, tirasse o troféu do seu local e saísse sem qualquer problema. 
Tudo em plena luz do dia.

O caso lançou um enorme terramoto mediático e recriminações de parte a parte, pela mancha provocada no bom nome da Inglaterra e pelo risco do Mundial mudar de sítio como castigo pela desfaçatez. 
Sem esquecer o ridículo da situação. 
Até porque o que se segue é uma sucessão rocambolesca de enganos que mais parece saída de um sketch de Monty Python.

Após várias recompensas terem sido oferecidas para recuperar a taça, o presidente da Federação Inglesa, Joe Mears, recebeu uma caixa com a tampa do troféu e uma mensagem para entregar um resgate de 15 mil libras (€17 mil). 
Apesar de ameaças para não o fazer, a polícia foi contactada e um agente disfarçado foi ao local de encontro combinado com uma mala com notas de 5 e 10 libras por cima e muitas páginas de jornais por baixo para dar a ideia de recheio.
A polícia inglesa com o troféu recuperado

Após ter aceite conduzir o intermediário até à taça, o interlocutor (que não tinha reparado nos recortes de papel, para surpresa do polícia) finalmente reparou que tinha um ou outro carro suspeito a segui-lo e tentou escapar, com sucesso até ser detido uns metros mais à frente. 
A polícia finalmente achou que ia conseguir desvendar o caso mas o homem disse ser apenas uma frente da verdadeira mente criminosa, que apenas conhecia como o "polaco" e do qual mais nada sabia. Mais um beco sem saída.

ESTRELA DE CINEMA

Até que entrou em cena o nosso herói, Pickles. 
Sete dias depois do assalto, David Corbett saiu de casa no sul de Londres para fazer uma chamada na cabine telefónica e levar o seu cão a passear. 
Segundo conta, a dada altura, Pickles começou a farejar e chamar a atenção para uns arbustos debaixo de sua casa. 
Quando a insistência do cão o obrigou a baixar-se, viu um saco de papel castanho e algo que parecia brilhar. 
Abriu e percebeu o que tinha encontrado. 
"Corri para casa a berrar à minha mulher que tinha encontrado a taça do Mundial", lembra.

Não sem que a polícia o tenha considerado como suspeito do crime que ainda hoje não está resolvido. 
Louros que passaram para Pickles, o cão que salvou a competição e se tornou numa celebridade instantânea. 
Capa de jornal, estrela de cinema, convidado de honra das festas oficiais do Mundial, teve até um agente para tratar das suas aparições mediáticas. 
Que infelizmente durou até ter morrido acidentalmente enquanto perseguia um gato, em 1967.

Na competição em que Eusébio foi bota de ouro e a Inglaterra conseguiu mesmo o seu primeiro (e até agora único) título mundial, muito há a agradecer ao intrépido cão herói. Já a taça, que foi ganha definitivamente em 1970 pelo Brasil, seria roubada anos mais tarde no Rio de Janeiro para nunca mais aparecer. 
Faltava um Pickles.































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