SÍRIA
Clara Barata
20 de fevereiro de 2018, 14:54
“Só uma Síria, só uma Síria”, gritavam alguns dos combatentes enviados pelo regime de Damasco, em resposta ao pedido de auxílio dos curdos, face à ameaça de invasão das forças de Ancara.
Em mais uma reviravolta inesperada nos sete anos de guerra na Síria, o presidente Bashar Al-Assad respondeu positivamente ao apelo dos curdos de Afrin, ameaçados de invasão pelas tropas turcas, e enviou reforços militares.
Mas, ao chegarem às portas da cidade, foram repelidos pela artilharia turca, que obrigou as forças sírias a recuar.
A televisão estatal síria mostrou imagens de uma coluna de combatentes pró-regime de Damasco.
Os soldados, de camuflado, agitavam armas e bandeiras sírias no cimo de veículos militares ao passarem um posto de controlo que tinha a insígnia das forças de segurança curdas, relata a Reuters.
Eram combatentes das Forças de Defesa Nacional — uma milícia formada em 2012 pelo Governo de Assad com o apoio iraniano, a partir de reservistas do exército e de voluntários.
“Só uma Síria, só uma Síria”, gritavam alguns.
“Viemos dizer ao povo de Afrin que somos um povo só”, disse um combatente entrevistado pela televisão síria.
“O Governo sírio respondeu ao chamamento do dever e enviou unidades militares para serem colocadas ao longo da fronteira e participarem na defesa da unidade do território da Síria e das suas fronteiras”, explicou o porta-voz das Unidades de Defesa Popular (YPG), Nouri Mahmoud.
As YPG são milícias que controlam o Curdistão sírio, onde se situa Afrin.
Afrin é uma das três regiões curdas no Norte da Síria, que se tem autogovernado, sem interferência de Damasco, desde 2011, quando se iniciou a revolta contra Assad que deu origem à guerra no país.
Assad e os curdos têm evitado o confronto directo no conflito sírio.
Cada um por seu lado tem combatido inimigos comuns — como os islamistas do Daesh, que conquistaram território na Síria e no Iraque.
Os curdos obtiveram o apoio dos norte-americanos, que os consideram aliados mais eficazes contra os jihadistas.
Anteriormente, antes da mais recente ofensiva turca, os curdos tinham rejeitado uma proposta russa para entregarem o controlo de Afrin a Damasco, a troco de protecção.
O avanço da Turquia na Síria desde Janeiro – que teme que a autonomia conquistada pelos curdos do Norte da Síria acabe por criar uma continuidade territorial entre o Sudeste turco de maioria curda até ao Norte do Iraque, onde existe uma região autónoma curda – acabou por deixar os curdos sírios entregues à sua sorte.
Ancara justifica a operação na Síria, a que chamou Ramo de Oliveira, dizendo que as milícias curdas YPG têm apoiado o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado uma organização terrorista pela Turquia, e atacou Afrin com o pretexto de “combater o terror curdo”.
Os Estados Unidos evitam entrar em confronto com a Turquia – o risco é bem real – por causa dos curdos.
Por isso, sem aliados, os curdos acabaram por preferir pedir ajuda a Assad – um mal menor – contra a Turquia de Recep Erdogan.
À primeira investida, a aliança não terá dado os melhores resultados.
A agência noticiosa turca Anadolu, sem identificar fontes, noticiou que as forças sírias recuaram dez quilómetros, depois de terem chegado às portas de Afrin.
O risco de um real confronto entre forças sírias e turcas aumenta com este novo momento da guerra – que não poderia ter acontecido sem que tenha havido luz verde de Moscovo, que se transformou no apoio fundamental do regime sírio.
Porém, na manhã desta terça-feira, o Presidente turco afirmou no Parlamento de Ancara que a Rússia tinha intervindo para bloquear o acordo entre os curdos e Damasco em Afrin.
clara.barata@publico.pt
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