13 de Outubro de 2015
Serguei Aleksa Chenko, Economista
Conflitos não terão impactos imediatos, mas em longo prazo, já que podem desviar recursos dos Emirados e da Arábia Saudita que seriam destinados ao país.
Como qualquer outra guerra no Médio Oriente, a da Síria tem contexto económico, já que se encontra ao lado das maiores jazidas de petróleo e gás do mundo. Assim, o conflito terá, inevitavelmente, consequências económicas de curto e de longo prazo para a Rússia.
A Síria em si não é um grande 'player' no mercado mundial de hidrocarbonetos. Mesmo nos anos mais prósperos, ou seja, no início dos anos 2.000, o país produzia pouco mais de 520 mil barris de petróleo por dia (cerca de 0,6% da produção mundial).
Desde o início da guerra civil síria, e após a introdução de sanções europeias ali, a produção de petróleo no país começou a cair rapidamente. No início deste ano, segundo estatísticas oficiais, ficou em pouco mais de 30 mil barris por dia.
A produção de gás na Síria também não é significativa, se comparada à dos maiores produtores mundiais. Hoje, o país extrai cerca de 5,5 bilhões de metros cúbicos de gás por ano.
Sem impacto energético, mas...
Nesse contexto, podemos afirmar que os futuros acontecimentos no território sírio, independentemente de quem vai vencer a guerra, não terão impacto significativo sobre o mercado energético global.
No entanto, a interferência direta da Rússia na crise pode levar a consequências económicas muito mais graves. Embora as autoridades russas afirmem que as forças aéreas russas bombardeiam posições do Estado Islâmico, inúmeras fontes na região declaram que o principal objetivo dos ataques é a chamada oposição moderada, que luta contra as forças de Bashar Assad.
Os países mais importantes da região, como Turquia e Arábia Saudita, apoiam essa oposição sunita na Síria, e a participação russa nos combates aprofundam ainda mais os problemas políticos e económicos da Rússia.
Devido às sanções relacionadas à crise ucraniana, o país já perdeu acesso aos mercados financeiros dos EUA e da União Europeia, e o governo contava com o capital de países do Golfo como uma alternativa, com o anúncio de investimentos na Rússia na ordem dos US$ 10 bilhões e dos US$7 bilhões de dólares pela Arábia Saudita e Emirados Árabes, respectivamente.
Mas, claro, no caso de uma operação militar prolongada, ambos os países devem rever os seus planos, que já haviam sido anunciados pelo Fundo dos Investimentos Diretos da Rússia.
Devido a sua posição geográfica, a Turquia também desempenha um papel fundamental na construção de infraestrutura de transportes entre a Europa e a Ásia. Nos próximos anos, os turcos planeiam construir diversos gasodutos para ligar o Irão, Azerbaijão e Turcomenistão à Europa. Além disso, os novos gasodutos passariam, inevitavelmente, pela Síria.
É claro que ninguém construirá gasodutos na Síria em plena guerra civil. Mas, teoricamente, essa situação poderia ser útil para a estatal energética russa Gazprom. No entanto, a gigante do gás não pode levar a sério que as dificuldades turcas em receber gás do Qatar tornem e amoleçam o país nas negociações.
Como resultado, no curto prazo, a operação militar russa na Síria não prevê nem perdas nem ganhos significativos, no plano económico. Mas, se a Rússia não conseguir sair do conflito num futuro próximo, perdas económicas significativas serão inevitáveis.
Serguêi Aleksáchenko foi vice-presidente do Banco Central da Rússia de 1995 a 1998.
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