quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Russos e sauditas decidem partilhar informações sobre EI

POLÍTICA
14 de outubro de 2015
Ekaterina Sinelschikova, Gazeta Russa

Reunião em Sôtchi resultou em um acordo de cooperação entre agências militares e de inteligência. Embora tenham mantido diferenças sobre permanência do presidente sírio no poder, países devem usar troca de dados para avançar na luta contra Estado Islâmico.

























A Arábia Saudita e a Rússia concordaram em intensificar a interação entre as agências militar e de inteligência para combater ações dos fundamentalistas do Estado Islâmico (EI) na Síria, durante reunião entre o líder russo Vladímir Pútin e o ministro da Defesa saudita, príncipe Mohammad bin Salman Al Saud.

“Trata-se, acima de tudo, de evitar que o terror do califado islâmico consiga se impor na Síria”, disse o chanceler russo Serguêi Lavrov, que também participou no encontro realizado em Sôtchi no domingo (11).

“Foram discutidos também os passos práticos que podem nos aproximar do início do processo de reconciliação nacional [na Síria]”, acrescentou Lavrov.

Após a reunião, representantes sauditas destacaram que o diálogo, qualificado como “franco”, também abordou o afastamento do presidente sírio Bashar al-Assad e a criação de um regime de transição.

Pouca, mas boa vontade

O encontro foi marcado, porém, pela ausência de “medidas práticas” por parte da Rússia ou da Arábia Saudita. “É pouco provável que a Arábia Saudita, que sempre teceu fortes críticas à atuação da Rússia na região, venha a partilhar algum tipo de inteligência”, diz o diretor do Centro de Conjuntura Estratégica, Ivan Konovalov.

Para o especialista, o diálogo entre os países foi forçado pelos “evidentes sucessos da coligação liderada pela Rússia”, que teria mudado radicalmente o equilíbrio de forças. “Nem os EUA, nem a Arábia Saudita conseguem mais fingir que não está acontecendo nada”, alega Konovalov.

A Arábia Saudita teria, no entanto, a capacidade de influenciar os grupos da chamada oposição moderada, obrigando-os a se unir ao governo de Assad contra o Estado Islâmico (EI).

“Se eles fizerem isso, vão contribuir de alguma forma para uma luta mais rápida contra o EI. Mas, no geral, apenas boa vontade da Arábia Saudita não será suficiente para influenciar o resultado do conflito. Existem muitos atores externos nessa guerra”, conclui Konovalov.

Troca favorável

Apesar do aparente avanço, as diferenças entre a Rússia e a Arábia Saudita foram mantidas após a reunião em Sôtchi, garante o professor da Universidade Estatal de Humanas da Rússia, Grigóri Kossatch.

“Enquanto os sauditas insistem na aplicação do Acordo de Genebra 1, incluindo a saída de Assad, a criação de uma liderança de transição e uma nova Constituição síria, Moscovo não assumiu qualquer obrigação que relacione os ataques aéreos na Síria com esses preceitos”, diz.

Já o professor sénior na Escola Superior de Economia de Moscovo, Leonid Issaev, acredita que a partilha de informações será proveitosa.

“Os sauditas compreenderam que, nesse caso, é mais razoável agir conjuntamente com a Rússia: eles podem dar coordenadas de localização do EI e, com isso, garantir a segurança da oposição síria apoiada por eles”, defende Issaev.


Além disso, o professor afirma que a troca de informação só trará vantagens na luta contra o EI. “A oposição moderada é uma espécie de tampão entre o EI e as forças de Assad. Se nós a bombardearmos, apenas estaremos aproximando o EI dos territórios das tropas do governo.”

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