quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Que pretende Putin na Síria?

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                                                    13/10/2015, 7:31
                                                    José Milhazes
O problema é que o Kremlin não faz grande distinção entre os terroristas do EI e as outras forças sírias que combatem o regime de Bashar Assad. E isso poderá sair caro a Vladimir Putin.

Ao lançar uma forte onda de ataques aéreos na Síria, o Presidente russo pretende não só mostrar a sua força militar ao mundo, mas também transmitir aos seus concidadãos a imagem de um líder capaz de desafiar tudo e todos. 
Ou seja, Putin foge para a frente para continuar no poder.

A propaganda russa anuncia, diariamente, os êxitos da força aérea de Moscovo no combate contra o Estado Islâmico, fazendo acompanhar as notícias com vídeos dos bombardeamentos e esquemas da trajectória dos mísseis. 
O Kremlin conseguiu surpreender o mundo ao lançar mísseis de cruzeiro a partir do Mar Cáspio, que cruzaram o espaço aéreo do Irão e Iraque e, segundo a propaganda, acertaram em cheio nos alvos situados na Síria. 
Antes, os militares russos tinham a oportunidade de treinar semelhantes lançamentos em manobras, mas, deste modo, quiseram mostrar a verdadeira capacidade dos mísseis russos.

No fundo, quiseram confirmar as palavras no Presidente Putin: “Os nossos parceiros, em todo o caso ao nível de peritos, sabem que a Rússia tem armas altamente precisas. 
Uma coisa é saber ao nível de peritos, … mas outra coisa é ver que elas realmente existem… e são realmente de alta qualidade”. 
O dirigente russo quis tirar dúvidas.

Mas, por vezes, a propaganda russa vai além da soviética e, citando “especialistas ocidentais” na matéria, tenta não deixar margem para da mais pequena dúvida. 
O jornal Sputnik News, um dos principais centros de propaganda para o estrangeiro, escreve: “O editor do portal francês Europesolidaire, Jean-Paul Baquiast, afirmou que uma potencial guerra nuclear entre EUA e a Rússia teria consequências fatais para os norte-americanos, cujo território, segundo ele, seria completamente destruído em caso de uma troca de mísseis”. 
Na era soviética, os ideólogos do regime não citavam semelhantes loucuras, frisando que uma guerra nuclear seria o fim da civilização na Terra.

Se realmente toda essa força militar, à excepção, claro está, das armas nucleares, for para acabar com o Estado Islâmico, nenhuma pessoa sensata deixará de apoiar o esforço russo. Mas o problema é que o Kremlin não faz grande distinção entre os terroristas do EI e as outras forças sírias que combatem o regime de Bashar Assad. 
E isso poderá sair caro a Vladimir Putin.

Mesmo que os bombardeamentos russos acabem com o Estado Islâmico, o que é pouco provável que aconteça sem intervenções de grande envergadura no terreno, isso poderá ser apenas um passo para a solução da guerra na Síria, pois, se não chegar a acordo com outros países da região e de fora dela: Turquia, Estados Unidos, França, Inglaterra, etc., corre-se o risco sério de um confronto militar, directo ou indirecto, entre eles.

É também de assinalar o seguinte factor. 
Segundo sondagens feitas pelo Centro Levada na Rússia, 4,5% dos inquiridos consideram que o seu país deve combater ao lado do Estado Islâmico, ou seja, defendem uma aliança com uma organização que o Kremlin considera terrorista e o apoio a ela é considerado crime no território da Rússia.

Este número poderia ser insignificante se não se soubesse que mais de 20% da população do país são muçulmanos, sendo a maioria deles sunitas.

P.S. No dia 13 de Outubro, a Comissão Internacional que investigou o derrube do avião malaio nos céus da Ucrânia vai publicar o seu relatório. A julgar pelas reacções nervosas das autoridades russas na véspera, estas não irão aceitar os resultados, pois não lhe deverão ser favoráveis.

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