sábado, 15 de abril de 2017

Porta-voz de Putin diz que ataque dos EUA à Síria foi lançado “sob pretexto inventado”

INTERNACIONAL
07.04.2017 às 8h58
JOANA AZEVEDO VIANA
Dmitry Peskov, porta-voz de Vladimir Putin

Bashar al-Assad ainda não reagiu ao ataque com mísseis ordenado por Donald Trump contra uma base aérea em Homs — a primeira vez que a Casa Branca dá ordens diretas para atacar as forças leais ao Presidente sírio desde o início da guerra em 2011. Moscovo fala numa "violação da lei internacional", um ataque que "viola a soberania de uma nação da ONU" e que foi "preparado antes dos eventos em Idlib"

O Presidente russo "vê o ataque" da madrugada desta sexta-feira que Donald Trump ordenou contra uma base aérea da Síria como "um ato de agressão contra uma nação soberana" que "viola a lei internacional" e que "foi lançado sob um pretexto inventado".

Assim ditou o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, esta sexta-feira de manhã, horas depois de o líder norte-americano ter dado luz verde ao Pentágono para lançar 59 mísseis-cruzeiro contra a base aérea de Al-Shayrat, na província de Homs.

A ordem foi dado como retaliação ao ataque químico que na quarta-feira matou mais de 80 civis, entre eles muitas crianças, com recurso a uma arma química banida que a Turquia já disse ter sido o gás sarin, um agente que provoca a morte por asfixiamento aos que são expostos a ele.

A administração Trump acredita que o ataque químico foi ordenado por Assad e que teve a sua origem na base de Al-Shayrat, onde há dezenas de tropas sírias e russas estacionadas e onde as forças de Assad têm armazenadas munições, caças e outros equipamentos de guerra.

No rescaldo do ataque com armas químicas, a Rússia, grande aliada de Assad, tinha sublinhado que a exposição dos civis ao agente nervoso tinha resultado do facto de as forças sírias terem atingido um depósito de armas dos rebeldes da oposição onde estavam armazenadas armas químicas.

Os Estados Unidos acreditam que o ataque foi ordenado e planeado pelo regime Assad e, ontem à noite, o Presidente deu ordens para que as forças norte-americanas atacassem a base de onde terá sido lançado.
Trump ordenou o ataque a partir da sua casa de férias em Mar-a-Lago, Florida, onde ontem e hoje está reunido com o Presidente da China, Xi Jinping

Esta manhã, no comunicado citado pelas agências russas, Peskov insistiu que "o exército sírio não tem armas químicas", algo que, sublinhou, "foi observado e confirmado pela Organização para a Proibição de Armas Químicas, uma unidadde especial das Nações Unidas".

Para Putin, o ataque com mísseis desta madrugada é uma tentativa de distrair o mundo dias depois de os EUA terem sido acusados de matar civis no Iraque, no âmbito da ofensiva aérea da coligação internacional que lideram para destronar o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) no país, acrescenta o seu porta-voz. 
"Esta decisão danifica em muito as relações bilaterais EUA-Rússia, que já se encontravam num estado deplorável."

Fontes de alto nível do Kremlin, que tem prestado apoio direto ao governo sírio nos últimos anos de uma sangrenta guerra civil que estalou em março de 2011, já avisaram que o ataque com mísseis pode minar a luta global contra o terrorismo.

"Este [ataque] pode ser visto como um ato de agressão dos EUA contra uma nação da ONU", diz Viktor Ozerov, líder da comissão de defesa do conselho de segurança da federação russa, citado pela agência RIA Novosti.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia também já reagiu, dizendo ser "óbvio que o ataque dos EUA com mísseis-cruzeiro foi preparado" antes do ataque químico de quarta-feira. 
"É claro para qualquer especialista que Washington tomou a decisão de atacar mesmo antes dos eventos em Idlib, que só foram usados como pretexto para uma demonstração de força", acusou o ministério em comunicado.

O Pentágono garante que o exército russo foi informado de antemão e, em comunicado, garantiu ter como objetivo exclusivo destruir equipamentos e infraestruturas de guerra do governo Assad para limitar as suas capacidades de lançar ataques contra civis, químicos ou convencionais. 
No documento, é ainda garantido que Washington não tinha intenção de atingir quaisquer tropas, sírias ou russas, que estão estacionadas naquela base.

O governador da província de Homs disse à AFP esta manhã que, para já, ainda não é possível identificar a extensão dos danos provocados. 
O Observatório Sírio de Direitos Humanos diz que pelo menos quatro soldados sírios terão morrido no ataque dos EUA. 
A televisão estatal russa também garante que "há mortos e feridos".

O ataque acontece a poucos dias de uma visita oficial de Rex Tillerson, chefe da diplomacia norte-americana, a Moscovo — uma viagem que está marcada para a próxima terça-feira e que pode vir a ser cancelada agora que o governo russo fala em "danos profundos" nas relações com os EUA.

Bashar al-Assad garante que não tem armas químicas

INTERNACIONAL
13.04.2017 às 16h47
HELENA BENTO
Presidente sírio Bashar al-Assad durante uma entrevista com a AFP, a 11 de fevereiro, em Damasco.

Em entrevista, Assad insiste que o alegado ataque com armas químicas em Khan Sheikhoun foi “totalmente encenado” e serviu como “pretexto” para justificar ataques norte-americanos contra o exército sírio

O presidente sírio, Bashar al-Assad, garantiu ontem que não tem armas químicas e que a acusação de ter recorrido a esse tipo de armamento em Khan Sheikhoun, na província de Idlib, é uma “encenação" para justificar os ataques dos EUA. 
Exige por isso uma investigação imparcial sobre o bombardeamento com armas químicas ocorrido a 4 de abril que matou pelo menos 87 pessoas.

Na quarta-feira, em entrevista exclusiva à agência francesa France-Presse, o Presidente sírio quebrou o silêncio e afirmou que não tem “armas químicas há vários anos”. 
Assad salientou que “todo o arsenal químico foi entregue” em 2013 no âmbito de um acordo entre os EUA e a Rússia. 
Um acordo obtido pouco depois de um ataque em Goutha, nos subúrbios de Damasco, de que resultou a morte de centenas de pessoas e foi atribuído ao regime.

Mas “mesmo que tivéssemos tais armas”, insistiu o Presidente sírio na entrevista à AFP, “nunca as teríamos usado”.

Na opinião de Bashar al-Assad, o ataque químico em Khan Sheikhoun foi “totalmente encenado” e serviu como “pretexto” para justificar os ataques norte-americanos contra o exército sírio.

Assad é acusado de ser o responsável pelo bombardeamento. 
Tanto o regime sírio como a Rússia negam, contudo, quaisquer responsabilidades. Segundo Moscovo, os aviões do regime terão atingido um depósito de armas dos “terroristas” onde se encontrava uma fábrica de produção de armas “tóxicas”, causando assim a libertação de agentes químicos. 
Também o exército sírio negou categoricamente o uso de “substâncias químicas ou tóxicas em Khan Sheikhou ou noutro lugar qualquer, no passado, no presente ou no futuro”.

Durante a entrevista à AFP, Bashar al-Assad chega inclusive a pôr em causa que o ataque tenha acontecido. 
“Hoje em dia, há muitos vídeos falsos a circular. 
Não sabemos se estas crianças que vemos nas imagens foram mortas em Khan Sheikhun. 
E será que elas morreram mesmo?”, questiona o Presidente.

Três dias após o bombardeamento com armas químicas, o Presidente norte-americano Donald Trump ordenou um ataque de retaliação contra uma base aérea síria em Homs . De acordo com o Pentágono, foram lançados pelo menos 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk de navios de guerra no Mediterrâneo contra a base aérea al-Shayrat, de onde se pensa ter partido o alegado ataque com armas químicas.

Bombardear não custa. Ter estratégia para a Síria sim

INTERNACIONAL
15.04.2017 às 8h30
RICARDO LOURENÇO, CORRESPONDENTE NOS ESTADOS UNIDOS
Encontro de diplomatas ao mais alto nível: Sergei Lavrov (Rússia) e Rex Tillerson (EUA) em Moscovo, quarta-feira

Depois dos mísseis dos EUA contra a base síria quem é o inimigo principal? Assad ou Daesh?

Menos de 40% dos americanos apoiam o Presidente, mas, perante novo ataque, a maioria aplaudi-lo-ia. 
Trump pode ordenar novas retaliações, “caso sejam usadas armas químicas contra inocentes”, assegurou ao Expresso a assessoria de imprensa da Casa Branca.

Uma semana depois do bombardeamento de Shayrat, a base governamental síria de onde terá partido o ataque químico à cidade rebelde de Khan Shaykhun (90 mortos, 500 feridos), peritos militares e dos serviços secretos interpretaram a operação como a ponta de um icebergue. 
“A missão americana é global e não se esgota na Síria. 
Se me pergunta qual será o próximo passo, respondo: o futuro é agora”, afirma o general David Barno, apontando para os vários cenários de conflito onde a resposta americana se tornou “mais enérgica com a nova Administração”.

Na Somália, as forças americanas aumentaram a pressão sobre a milícia Al-Shabaab (pró-Al-Qaeda), após Trump ter assinado um decreto que alarga o auxílio militar às autoridades somalis.

O secretário da Defesa, James Mattis, reforçou a contra insurreição no Afeganistão, alarmado por Moscovo ter estreitado ligações com os talibã, que continuam a atacar forças afegãs e da NATO. 
Segundo Barno, “o regresso da Rússia ao Afeganistão visa conter o Daesh na Ásia Central mas também desafiar os EUA, quando a Administração Trump não apresenta um plano para acabar com esta guerra”.

O coronel Peter Mansour, ex-adjunto de David Petraeus, no Iraque em 2007/08, refere que as regras de combate aéreo ao terrorismo “são mais flexíveis”, com mais baixas civis. Elissa Smith, porta-voz do Pentágono, esclarece que esse aumento, em particular na Síria e no Iraque, “se relaciona com uma fase mais intensa da guerra”.

Washington também demonstrou esta semana impaciência perante a ameaça nuclear norte-coreana, enviando para o Extremo Oriente o porta-aviões “Carl Vinson” e três contratorpedeiros com mísseis de cruzeiro Tomahawk, como os usados na Síria.

“É o pior momento das relações com a Rússia desde a guerra fria. 
Qualquer passo em falso pode ter resultados imprevisíveis”, diz ao Expresso John Herbst, ex-embaixador americano na Ucrânia.

Quarta-feira, à chegada do secretário de Estado americano, Rex Tillerson, a Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, deixou de imediato um aviso: “É vital impedir novos ataques.”

RESPONSABILIDADES RUSSAS

O chefe da diplomacia americana é um velho conhecido do Kremlin. 
Há quatro anos foi condecorado por Putin, com quem, enquanto líder da Exxon Mobil, fechou avultados negócios. 
Não deixou de frisar que “o inimigo principal na Síria continua a ser o Daesh”.

Para Mansour há um “aspeto alarmante” na disputa entre Moscovo e Washington: armas proibidas. 
“O ataque americano visava deixar claro que o uso de gás não será tolerado. Aparentemente, o regime sírio tem usado armas químicas contra civis o que viola o tal acordo entre Obama e Putin, baseado na promessa de que Moscovo destruiria aquele arsenal”.

O general David Barno concorda. 
“Estas armas estão em território sírio e têm sido usadas com o conhecimento do Kremlin, que, ao que me dizem, após o ataque americano terá ordenado a destruição do arsenal químico da base, para destruir pistas sobre a chacina de Khan Shaykhun”.

Michael Baker, antigo chefe operacional da CIA no Médio Oriente, questiona os resultados da operação. 
“Houve sucesso operacional porque os mísseis atingiram o alvo e os aliados nos apoiaram. 
Estrategicamente não tanto porque a Rússia deixou de atacar posições do Daesh em jeito de represália. 
Ora, se este é o inimigo, onde está o sucesso?”

Philip Mudd, ex-especialista de contraterrorismo da secreta americana, é ainda mais contundente. 
“Trump viu umas fotos horríveis e como antiga estrela de reality show deixou-se levar pelo poder da imagem. 
Os diplomatas que inventem uma narrativa de cobertura.” 
Exaltado, lança duas achas para a fogueira: “Acreditam que Trump quis responder aos russos que o ajudaram a ser eleito? 
Está lá o mesmo ditador que matou centenas de milhares de pessoas, usa armas químicas desde 2013 e é aliado da Rússia. 
Nada mudou!”

Mudd alude às suspeitas de que o Kremlin orquestrou, conjuntamente com a campanha republicana, a manipulação das eleições de novembro. 
Isso levou o FBI a abrir uma investigação em julho, que ainda decorre e agita o Congresso, ao ponto de o presidente do comité que investiga o caso, o republicano e luso-descendente, Devin Nunes, se ter afastado do cargo, depois de ter sido acusado de ser demasiado próximo da Casa Branca.

Na mesma altura o diário “The Washington Post” revelava que Erick Prince, antigo dono da firma de segurança privada Blackwater (com conhecido e sinistro currículo no Iraque e Afeganistão), se reuniu com membros do Kremlin para preparar um canal de comunicação alternativo (back channel) entre Trump e Putin, à prova (pelo menos teoricamente falando) de escutas do FBI ou da CIA.

Tal como Mudd, Daniel Franklin, professor de Ciência Política na Universidade da Georgia, alerta para “o perigo de reagirmos a quente ao ataque na Síria e acharmos que tudo mudou. 
Internamente, a investigação à interferência russa continua. 
Externamente, não me parece que os EUA queiram prejudicar os interesses de Moscovo na Síria”.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

URSS: o colapso desnecessário

RETHINKING
RUSSIA                             HISTÓRIA   03.01.2017






















Um quarto de século atrás, a União Soviética desapareceu. 
Valery Fedorov, diretor-geral do Centro Russo de Pesquisas de Opinião Pública (WCIOM), conversou com a revista Istorick sobre as razões da desintegração do país, o papel de Mikhail Gorbachev e Boris Yeltsin e sobre a nostalgia da URSS como na Rússia moderna.

A agonia de morte da superpotência global começou após a tentativa de golpe de Estado soviético de 1991. 
Dia após dia, o centro da União estava perdendo seus poderes coercitivos. 
8 de dezembro, os líderes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia - Boris Yeltsin, Leonid Kravchuk e Stanislav Shushkevich - se reuniram na dacha estatal "Viskuli" em Belovezhskaya Pushcha e assinaram o acordo que declarou a União Soviética dissolvida e estabeleceu a Comunidade de Estados Independentes) no seu lugar. 
Pouco depois, o presidente da União Soviética Mikhail Gorbachev teve que renunciar. 
A URSS quebrou em 15 estados independentes. 
Na noite de 25 a 26 de dezembro, a bandeira soviética foi baixada do Kremlin e substituída por tricolor russa. 
Por que uma das duas superpotências do século 20 entrou em colapso e quem é o culpado? 
Mesmo agora, 25 anos depois, essas questões ainda são relevantes.

A dissolução se a URSS acontecesse como uma coisa comum, como se ninguém ligasse significado ao que havia acontecido. 
E só depois muitos perceberam que a era tinha terminado. 
Não houve protestos em massa, declarações públicas e explosões emocionais naquele momento. 
No Soviete Supremo do SFSR russo mesmo "comunistas da Rússia" votaram a favor da ratificação dos Acordos de Belavezha. 
Quanto à Bielorrússia, apenas uma pessoa, não tão conhecida na época, Alexander Lukashenko, se opôs aos Acordos. 
Naquele dia, a situação no país estava tão desesperada e a autoridade dos órgãos de poder da União, e em primeiro lugar de Mikhail Gorbachev, era tão fraca que um pequeno empurrão poderia ter sido suficiente para quebrar tudo. 
É por isso que a decisão tomada pelos líderes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia foi recebida não como um complô contra o Estado, mas, antes de tudo, como mais uma tentativa de sair da terrível crise. 
Tanto mais que uma nova comunidade interestadual - CIS - foi declarada a aparecer em vez da URSS. 
Claro que era impossível perceber a gravidade das consequências desta decisão naquele momento. 
Somente quando a inércia da desintegração ganhou ímpeto, quando a zona de entulho começou a se romper, quando surgiram dificuldades com o movimento de bens e pessoas através das fronteiras, quando os laços econômicos enfraqueceram - entendemos que tínhamos feito algo errado. 
Assim, com a dissolução da União Soviética a crise não acabou, só piorou. 
A vida não se tornou um leito de flores. 
Em vez disso, novos estados independentes compararam-se mal à União Soviética. 
Muitos estados pós-soviéticos poderiam ser chamados de "Estados falidos". 
Mas mesmo os estados que não falharam enfrentaram uma queda acentuada nos padrões de vida, despovoamento, desindustrialização, fuga de cérebros e saída de capital.

Quanto mais tempo se passou desde a dissolução, mais desvantagens da URSS se esqueceram, mas se lembraram de tudo de bom. 
Este natural e multiplicado definido na literatura imaginativa e científica efeito da memória humana em nosso caso foi galvanizado pelo fato de que o processo de construção do Estado no espaço pós-soviético era muito doloroso e traumático. 
Neste contexto, as pessoas começaram a perceber os Acordos de Belavezha de uma maneira completamente diferente em comparação com o dia em que foram assinados. 
Eles agora eram percebidos como um evento fatal, passo malicioso que mudou radicalmente toda a nossa vida para pior.

Eu acho que uma das principais causas do colapso da União Soviética teve a ver com atraso científico e técnico e queda geral no nível de inovação da economia soviética. 
Nas décadas de 1970 e 1980, foi possível tomar pelo menos algumas medidas, por exemplo, para eliminar as distorções de preços ou para lançar pequenas privatizações, transferindo para particulares barbeiros, cafeterias, etc., como foi feito na Polônia e na Iugoslávia. 
Poderíamos também normalizar as relações com a China, como fizeram os Estados Unidos em 1972, ou promover a détente, aliviando o fardo intolerável da economia dos custos militares. 
Em minha opinião, em 1970, uma reforma no molde da Iugoslávia, da Polônia ou da Hungria poderia proporcionar ao regime soviético o tempo para uma perestroika mais séria, profunda, mas não destrutiva. 
Esse tipo de perestroika poderia descansar sobre a autoridade e força do Estado, mas não sobre as forças centrífugas, como aconteceu com Gorbachev. 
Sem dúvida, neste caso teria sido necessário modificar a ideologia e o sistema político. Podemos ver como a China tem feito isso, preservando o sistema de partido único, a ideologia comunista revista e a economia de mercado ao mesmo tempo. 
Assim, do meu ponto de vista, a URSS teve uma chance de sair, mas para isso precisou voltar para as reformas muito mais cedo do que em 1985.

Hoje em dia, existem vários tipos de nostalgia para a União Soviética. 
A primeira é a nostalgia do esplendor do poder, para a URSS como uma superpotência que determinou todos os processos globais. 
A propósito, isso é típico não só para a Rússia. ~
Esse tipo de nostalgia também é típico da Chechênia, da Ucrânia e da Transcaucásia - para todos os territórios pós-soviéticos. 
O segundo tipo é a nostalgia da União Soviética como ideocracia, para o Estado que conduz uma missão de importância histórica mundial.
A URSS era um país do futuro, falava para amanhã e mesmo depois de amanhã, sugeria uma agenda global. 
Esse tipo de nostalgia também é típico dos territórios pós-soviéticos, é global: pessoas de qualquer país desejam sonhos despedaçados. 
O terceiro tipo é a nostalgia para o modo de vida que agora está se tornando uma coisa do passado ou em algum lugar já foi enterrado em memórias. 
Existem três elementos. 
O primeiro elemento é a ordem que implica ordem de vida, sua inércia, oportunidade de planear, prever, seguir um mapa de rotas claro, ao invés de segurança pessoal. 
O segundo elemento é a justiça social que, naturalmente, todos na URSS faltou, mas tendo em conta a escala de violação da justiça que as pessoas testemunharam após o colapso da União Soviética, a razão da nostalgia é óbvia. 
Trata-se, portanto, de nostalgia de uma sociedade mais homogênea, onde os benefícios sociais fossem distribuídos de maneira mais justa e igualitária.

O terceiro elemento são as relações interétnicas. 
Lembremos que a URSS, por um lado, cultivou a multietnicidade, quando cada cultura se desenvolveu, e, por outro lado, proclamou e monitorou a igualdade das nações (qualquer manifestação de etnocratismo foi registrada e punida). 
Quanto mais próximo estava o colapso, mais difícil era esse procedimento, uma vez que a estrutura de poder estava decrepitando e enfraquecendo.

Hoje, o "renascimento da URSS" é provável que seja um selo usado por nossos parceiros ocidentais para trazer descrédito sobre a política de Vladimir Putin e outros que executam a política externa independente junto com ele. 
Eles querem rotular Putin como um ditador que sonha em reconstruir a União Soviética, dividindo o planeta por uma "cortina de ferro" e lançando mísseis nucleares. 
Mas isso é mentira e propaganda para uso interno, nada mais.

Fonte: историк.рф

elaborar o parlamentarismo

RETHINKING    HISTORIA   06.01.2017
RUSSIA






















A primeira sessão da sétima convocação da Duma ocorreu em outubro de 2016. 
No entanto, o parlamentarismo russo está mais profundamente enraizado na história. 
Se levarmos em conta o Dumas pré-revolucionário [1], é a décima primeira convocação. 
Os onze anos de parlamentarismo no Império Russo viram o peso político e a ideologia da Duma sofrerem mudanças constantes, mas, ao contrário das esperanças de seus fundadores, fracassou em sua tarefa principal de se tornar uma instituição sólida do Estado, que poderia estabilizar a vida social. 
No entanto, seria errado acreditar que o trabalho da Duma foi uma mera formalidade, já que um intenso debate sobre as possíveis formas de desenvolvimento do país teve lugar nas sessões e os projetos propostos mostraram os pontos de vista de políticos de todos os tipos.

As eleições para a Primeira Duma foram realizadas no início de 1906 contra um pano de fundo da revolução, que é por isso que incluiu membros de todos os matizes políticos, em todo o espectro político da Rússia, exceto as forças de extrema esquerda. 
Os dois partidos mais antigos, os social-democratas e o Partido Socialista Revolucionário (o SR) boicotaram as eleições, considerando-as uma manobra do monarca e esperando que a revolução logo derrubasse o regime junto com a Duma. 
O Partido Socialista Revolucionário chamou seu apoio do campesinato, com um quarto dos assentos da Duma tomadas por este grupo social. 
Um pouco mais de um quarto dos assentos parlamentares foi ocupado pelo recém-formado Partido Democrático Constitucional (seus membros eram chamados de cadete), os monarquistas e a oposição moderada do partido octubrista [2] também detinha cerca de um quarto dos assentos. 
Os restantes conjuntos foram distribuídos entre os deputados que representam a periferia, os intelectuais que procuravam independência ou autonomia para o seu povo.

Quase todos os deputados eram inexperientes na política, e muitos povos das províncias faltaram maneiras e cultura. 
Como resultado, os Cadetes, que era composto de professores e jornalistas, que estavam acostumados a falar em público, começou a governar o poleiro. 
A Duma também foi chefiada por um cadete, um professor de 55 anos da Universidade de Moscovo. 
Sergey Muromtsev, um advogado experiente, que recebeu o grau acadêmico de um Doutor em Ciência na idade de 27, foi eleito Presidente da Duma. 
Ele era um aristocrata, um homem de honestidade excepcional, e um liberal fiel, e gozava de uma excelente reputação. 
Ele pronunciou apenas um discurso durante seu mandato, imediatamente após sua eleição. Ele disse que "uma grande tarefa exige grande esforço".

Desde o início, os cadetes tentaram radicalizar a Duma, responsabilizando-a e exigindo relatórios regulares. 
Então pediram sua dissolução. 
Enquanto isso, eles pediram para resolver o agudo problema agrário. 
Os Trudoviks (Partido Trabalhista) avançaram um projeto ainda mais radical. 
Como resultado, em vez do prazo de cinco anos, a Duma durou 72 dias.

As eleições para a Segunda Duma foram realizadas no início de 1907, quando Pyotr Stolypin, um novo primeiro-ministro, usou uma abordagem de cenoura e pau para esmagar a revolução. 
Apesar de alguma estabilização no país, a Duma foi ainda mais radical porque os SRs e os social-democratas prevaleceram sobre os Kadets, que receberam um quinto dos assentos. Enquanto isso, os monarquistas conseguiram introduzir algumas personalidades políticas proeminentes à Duma. 
A má gestão resultante em grande parte da falta de autoridade e da fraca presidência de Kadet Fyodor Golovin emergiu como o principal problema da Segunda Duma.

A Terceira Duma foi convocada com base em uma lei nova e mais conservadora, que violou seriamente os direitos da classe operária russa, camponeses e minorias étnicas. 
Enquanto antes uma voz de um proprietário era equivalente a 10 votos de camponês, a nova lei eleitoral implicava a proporção de 1:30. 
Consequentemente, 442 parlamentares da Terceira Duma [3] incluíram 147 políticos de direita, 154 octobristas e 54 cadete. 
Os social-democratas conseguiram um pequeno número de mandatos, sendo os SRs chamados para atividades revolucionárias e terroristas, sendo banidos das eleições.

A união de alguns octobristas e monarquistas conhecidos como "o Partido dos Nacionalistas Russos" com uma maioria estável tornaram a Terceira Duma mais fiel ao governo russo. 
Assim, seu mandato de cinco anos considerou 2,5 mil projetos de lei apresentados, sobretudo, pelo governo, com as contas dos cadetes constantemente bloqueadas. 
No entanto, as leis adotadas foram em grande parte de menor importância e os parlamentares adiar tomar quaisquer decisões cruciais para resolver as questões urgentes.

Ao capacitar a polícia e a igreja para controlar a votação, o governo russo procurou ter uma Quarta Duma mais submissa. 
Como resultado, os monarquistas e octobristas novamente obteve a maioria dos votos, traduzindo em 185 e 98 cadeiras, respectivamente. 
Embora os cadetes ganhasse somente 59 mandatos, os progressistas, um grupo do pro-negócio que se partiram dos Octobristas, deram frequentemente o partido com eles. 
Esta falha, assim como outras, tornaram o corpo legislativo menos governável como pequenas facções e deputados separados alternadamente se juntaram aos grupos de esquerda ou às forças de direita, que eram ambos abertos em sua oposição ao governo naquela época.

A Primeira Guerra Mundial é reconhecida por ter conduzido a uma sequência fatal de eventos que estabeleceram o terreno para a formação do Governo Provisório russo, com a luta de 11 anos pelo poder acabando com a vitória dos liberais. 
No entanto, o Governo Provisório se encontrou à mercê das mudanças tectónicas no país. À luz da eleição para a Assembleia Constituinte [4], os Ministros Provisórios dissolveram oficialmente a Quarta Duma apenas para cair do poder mais tarde. 
No entanto, a Assembleia foi dissolvida no dia seguinte ao seu encontro, lançando assim um período de 75 anos sem o parlamentarismo na Rússia.

[1] Na Rússia, o primeiro órgão representativo do parlamento (como se entende hoje em dia) foi convocado em 1906 sob o nome de Duma do Estado.

[2] A União de 17 de outubro comumente conhecido como o partido Octobrist era um partido político moderado de direita que incluía grandes proprietários de terras, empresários e burocratas, defendendo opiniões constitucionais e anti-revolução.

[3] A Terceira Duma foi a única assembléia legislativa para cumprir seu mandato completo no Império Russo.

A Assembléia Constituinte de todos os russos, o russo Uchreditelnoye Sobraniye, foi um corpo popularmente eleito que se reuniu em 1918 em Petrogrado (São Petersburgo) para escrever uma constituição e formar um governo para a Rússia pós-revolucionária. 
A eleição para a Assembleia Constituinte ocorreu em 1917.

Fonte: историк.рф

A grande divisão

RETHINKING   
RUSSIA                  HISTÓRIA 24.02.2017
























A Revolução, que se iniciou há um século na Rússia, é um fenómeno polémico e multifacetado, que exerceu poderosa influência sobre o destino da humanidade, bem como da Rússia. 
Assim, os eventos desencadeados em fevereiro de 1917 podem justificadamente ser referidos como "a Grande Revolução Russa".

O Professor Alexey Lubkov, Reitor da Universidade Pedagógica Estadual de Moscovo, Membro Correspondente da Academia Russa de Ciências, Doutor em Ciências Históricas, analisa os acontecimentos da Revolução de Fevereiro.

Foi uma catástrofe, uma tragédia para a identidade nacional russa desse período. 
Ela deu origem à percepção negativa da revolução, como qualquer calamidade traz mudança de raiz e ramo, uma ruptura com o passado, um afastamento doloroso da tradição. 
Em 1917, a divisão afetou tanto o governo quanto as pessoas. 
Sem surpresa, muitos estudiosos russos, que meditaram sobre o fenómeno, voltam-se para os eventos de fevereiro, não apenas para outubro, como eles vêem como um gatilho para o colapso da nação russa tradicional.

No entanto, isso não significa que devemos pintar apenas uma imagem sombria da Revolução e retratá-la como "o fim da história". 
A história não pode suportar becos sem saída; É um fluxo fluindo. 
Dialecticamente falando, qualquer um dos períodos mais difíceis ainda criou oportunidades para um maior desenvolvimento. 
É o caso aqui também. 
Entretanto, a tragédia de 1917 ofereceu perspectivas para a próxima etapa da história russa, os passos a serem tomados como parte do "projeto soviético".

Considero que os acontecimentos de fevereiro de 1917 foram infligidos pelo homem. 
O que aconteceu no início de 1917 é principalmente sobre a consciência da elite contemporânea, tanto a oposição liberal como a do poder. 
As autoridades nem sempre optaram por conciliar os interesses. 
No entanto, cada evento tem seus arquitetos, seus criadores e líderes. 
Penso que foi a oposição liberal que contribuiu sistematicamente para a Revolução de Fevereiro, pois deliberadamente descartou qualquer cooperação com as autoridades e apelou constantemente ao público desde o final de 1915. 
Portanto, a oposição essencialmente balançou o barco.

Na verdade, é como uma avalanche. 
Se alguém continuar jogando pedras pequenas nas montanhas, pode mais cedo ou mais tarde levar a um desastre, um deslizamento de terra destruindo tudo em seu caminho. 
A história nos mostra que flertar com a revolução é um jogo muito perigoso. 
Se as autoridades e a oposição se sentirem responsáveis ​​pelo lote da nação, devem ser incumbidas de evitar o cenário radical.

A próxima questão fundamental é a causa da revolução de fevereiro. 
Penso que os problemas de longa data, que culminaram tragicamente com a evolução de 1917, foram em grande parte criados por tendências positivas e não negativas na economia russa, incluindo a economia russa em expansão, o rápido ritmo de modernização, que foi muito difícil para a economia russa. 
A sociedade a se adaptar.

No que diz respeito à situação económica no inverno de 1916-1917, não foi tão sombrio quanto tende a ser descrito em livros russos e monografias sobre a Revolução de fevereiro. De fato, o sistema de racionamento como tal não foi introduzido nas cidades. 
Com os suprimentos alimentares sendo regulados de certa forma, a Rússia evitou os problemas de seus inimigos, digamos, Alemanha e Áustria-Hungria. 
Na melhor das hipóteses interrupções para entregas de pão ocorreu, nada mais grave veio o nosso caminho.

De um ponto de vista popular, a conspiração contra o czar Nicolau II estava por trás da Revolução de Fevereiro. 
Na prática, o país testemunhou simultaneamente vários planos secretos dentro das fileiras da Duma e do estabelecimento militar. 
Depois de um tempo, os conspiradores uniram seus esforços, com cenários particulares considerados e pontes construídas entre liberais e esquerdistas, bem como entre a liderança civil e militar. 
Neste contexto, não podemos deixar de abordar o papel dos maçons ou maçons. 
Embora fervendo tudo até teorias de conspiração maçónicas naturalmente leva a simplificação excessiva, negligenciar o fator implica esconder a verdade e distorcer o quadro real. 
Sem dúvida, é fácil considerar a Revolução um levante exclusivamente democrático, espontâneo e popular, o que é frequentemente feito por historiadores liberais. 
No entanto, considero os acontecimentos de Fevereiro um fenómeno muito mais complexo.

Acima de tudo, os conspiradores só pretendiam fazer o Imperador abdicar. 
Eles procuraram preservar a monarquia russa, com o poder do czar sendo substancialmente limitado. 
Além disso, planeavam substituir Nicholas II por Tsesarevich Alexei, para estabelecer um governo responsável perante a Duma e transformar o país em uma monarquia constitucional equilibrada. 
No entanto, tudo acabou de forma diferente.

Pode-se também pensar na participação específica dos membros da Triple Entente que acreditavam firmemente que o círculo íntimo do czar e o próprio monarca em algum momento poderiam ser tendenciosos em favor de um acordo de paz separado com a Alemanha. 
Nossos aliados compreensivelmente acharam inaceitável. 
1916 revelou a resiliência do exército russo e as notáveis ​​capacidades de seu armamento. Os aliados ocidentais expressaram tanto o interesse na luta contínua da Rússia ao seu lado e a preocupação sobre sua mudança potencial na atitude para a guerra.

Há um bom raciocínio por trás da ideia de que a Revolução de Fevereiro proporcionou ao país amplas oportunidades. 
Ao mesmo tempo, não se pode deixar de salientar que a oposição liberal causou o niilismo que eventualmente abafou todos os seus apelos e matou as aspirações mortas de pedra.

Finalmente, penso que devemos olhar para as Revoluções de Fevereiro e Outubro de 1917 dentro do contexto geral. 
São dois processos interligados e divergentes. 
Por outras palavras, eles não podem ser tratados separadamente. 
Como vejo, a ênfase de hoje em considerar a Grande Revolução Russa de 1917 numa perspectiva mais ampla é muito sensata. 
Obviamente, devemos avaliar a Revolução desta maneira, como uma correia transportadora de mudanças.

Fonte: историк.рф

Conciliar com o Passado

RETHINKING
RUSSIA             HISTÓRIA 17.03.2017


Antes do centenário da Revolução Russa de 1917, o grupo de reflexão Rethinking Russia apresenta diferentes pontos de vista sobre os acontecimentos. 
Este é o ensaio de Anatoly Torkunov, Membro da Academia Russa de Ciências, Reitor do Instituto Estadual de Relações Internacionais do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa e Presidente do Comité Organizador para a celebração.

Não é raro que o debate sobre a história gira em torno de nosso presente e não do passado. 
Quando estudado a partir da perspectiva histórica, o presente sugere possíveis trajetórias futuras.

A ruptura violenta na continuidade ocorreu há 100 anos, com a revolução que traz a transformação civilizacional na Rússia. 
Ou assim pareceu àqueles que planearam e começaram a revolução aspirando a criar uma nova ordem. 
A ordem social e política foi forçosamente mudada, com o sistema estatal totalmente reformulado. 
A revolução deu legitimidade às novas autoridades e ao novo Estado. 
Um peculiar padrão civilizacional - o soviético - começou a tomar forma. 
Alguns historiadores e cientistas políticos vêem a civilização soviética como uma civilização russa modificada. 
Ela existia enquanto sete décadas ...

Durante décadas, estudiosos e o público perceberam os desenvolvimentos de 1917-1921 como dois eventos separados. 
Eles distinguiram entre a Revolução de Fevereiro, ou a Revolução democrático-burguesa e a Revolução de Outubro, ou socialista, e a Guerra Civil que se seguiu. 
Hoje em dia, eles geralmente são vistos como etapas do mesmo processo revolucionário, que se radicalizou ao extremo por várias razões. 
A revolução está enraizada na natureza peculiar da civilização russa, que é caracterizada pela centralização da comunidade, o desejo de alcançar a Europa e ser sua parte em pé de igualdade e, ao mesmo tempo, por um medo constante da excessiva ocidentalização.

A União Soviética celebrou o aniversário da Revolução de Outubro como um feriado público que foi acompanhado por um júbilo generalizado e generalizado. 
A última solene e alegre celebração deste tipo foi organizada para comemorar o 70º aniversário da Revolução. 
Mais tarde, no meio a revelações e críticas da Revolução de Outubro, que se tornou particularmente dura e amarga na década de 1990, surgiu um desejo crescente do povo de dissociar-se da era soviética.

Aqueles anos viram outra quebra dura na continuidade. 
O país seguiu o caminho da transformação de raízes e ramos pela segunda vez ao longo do século. 
A Rússia testemunhou as dores de parto de um novo Estado democrático, que exigiu uma nova identidade histórica e legitimidade política. 
Assim, no final, a memória histórica do povo, duas vezes, tornou-se sujeita a mudanças no século XX. 
A sociedade russa teve que reconsiderar repetidamente sua experiência histórica, o que trouxe avaliações marcadamente diferentes da Revolução.

Desde o início dos anos 2000, as atitudes negativas em relação ao passado tornaram-se gradualmente marginalizadas para criar espaço para um sentimento de nostalgia com os tempos soviéticos. 
Uma parte significativa da nossa população parece estar refletindo sobre a história da Rússia há mais de mil anos, seus altos e baixos e a necessidade vital de estudar e compreender profundamente o passado ao invés de desconsiderá-lo. 
Este período enfatizou a relevância do diálogo público, com a sociedade russa cada vez mais buscando unir os fios, uma vez quebrados da história russa.

No entanto, numerosos mitos sobre a Revolução, a Guerra Civil e o passado soviético ainda permeiam a sociedade moldando a opinião pública. 
Essas histórias fictícias, incluindo as políticas, naturalmente se tornam elementos da memória histórica. 
Ao mesmo tempo, uma ênfase forte em polarizar mitos causa frequentemente a preocupação. 
Os "proponentes" das forças vermelhas, brancas ou outras envolvidas na Revolução e na guerra permanecem irreconciliáveis. 
Entretanto, é preciso lembrar que os acontecimentos de 1917-1921 testemunharam a participação de vários movimentos revolucionários e contra-revolucionários, sendo algumas forças impossíveis de categorizar em termos revolucionários.

Cada um desses movimentos políticos produziu seus heróis e anti-heróis. 
Ajudar o público em geral a emitir juízos objetivos sobre questões de "quem-é-quem" relacionadas à Revolução e à Guerra Civil constitui uma tarefa desafiadora para os historiadores. 
Na verdade, a sociedade moderna da Rússia acha realmente difícil tolerar sua própria história. 
Ele oscila entre uma perspectiva triunfante sobre eventos passados ​​e auto-desaprovação ou auto-apagamento pontos de vista centrado em seu lado mais sombrio. 
A Rússia parece ter caído da história "linear ou progressiva".

Como o senso comum sugere, não devemos evitar o nosso passado ou usá-lo como uma arma de intimidação. 
Já é tempo de nos engajarmos em um diálogo com nossa história e começamos a aprender lições. 
É vital aceitar corajosamente a verdade sobre o passado e tirar as conclusões que poderiam contribuir para o nosso desenvolvimento estável.

De Stock: RIA

Fonte: историк.рф

De fevereiro a outubro

RETHINKING  HISTÓRIA 08.04.2017
RUSSIA
















No discurso presidencial anual à Assembleia Federal, o Presidente Vladimir Putin colocou especial ênfase na ideia de que o aniversário da Revolução de Fevereiro e da Revolução de Outubro é "um bom momento para rever as causas e a natureza destas revoluções na Rússia.
Não apenas os historiadores e estudiosos devem fazer isso; a sociedade russa em geral precisa de uma análise objectiva, honesto e profundo alcance desses eventos”.

Na verdade, a história é um grande professor que nos dá uma variedade de casos e nos faz tirar inúmeras lições.
No entanto, precisamos aprender com nossa experiência e aplicar nosso conhecimento a circunstâncias específicas e paisagens particulares para que essas lições sejam mais do que apenas uma homenagem à memória dos eventos.
Devemos aprender com nossos erros históricos, políticos e sociais e contribuir para o desenvolvimento do Estado.

Os dados disponíveis são a evidência cristalina de que a Revolução de Fevereiro ea Revolução de Outubro estão enraizadas em uma complexa combinação de fatores internos e externos.
Deve ser particularmente enfatizado que os problemas que levam a um golpe ou uma revolução não são exclusivamente os domésticos.
Ainda assim, Alexander Gorchakov, um destacado diplomata e ministro das Relações Exteriores do Império Russo, que estudou as revoluções francesas que se desencadearam em 1789, em 1830, em 1848 e em 1871, observou com razão que "a menos que o governo tenha cometido um erro, a revolução não vai sair; o governo é o culpado por toda revolução.”
Portanto, consideremos a situação política interna contemporânea no Império Russo.

O ano de 1917 tornou-se um ponto de viragem no período da história russa que começou com a Reforma da Emancipação de 1861 abolindo a servidão.
Sendo a mais importante das "Grandes Reformas", ela, no entanto, estabeleceu o alicerce para futuras convulsões sociais.
A emancipação dos servos, de fato, os empobreceu.
A reforma retirou 20% da terra dos servos e o tamanho da parcela de terra quase diminuiu para metade, diminuindo de 43% a 50% (5,24 ha por pessoa antes contra 2,84 após a reforma).
Enquanto isso, as pessoas tinham dificuldade em assimilar em uma cidade e inúmeros servos estavam no limite da sobrevivência.
Em retrospectiva, pode-se justificadamente afirmar que os eventos de 1917 foram a continuação direta dos eventos de 1905 e completaram os processos anteriores.

Em segundo lugar, a integração da Rússia em grande parte agrária no sistema capitalista mundial, que começou na década de 1850, afetou adversamente a maior parte da população.
O país experimentou duas tendências opostas.
Por um lado, o investimento estrangeiro permitiu a introdução de novas tecnologias e a construção de fábricas e estradas, os estrangeiros possuíam 90% das minas russas, 50% das empresas químicas, 40% de ferro e fábricas e usinas e 30% fábricas têxteis.
Por outro lado, a crescente exportação dos recursos, incluindo o capital, que eram necessários para apoiar o desenvolvimento econômico, estava no caminho da emergente burguesia russa.
Por outras palavras, o capital estrangeiro era um motor e um freio para a poupança interna, e o país estava gradualmente desistindo de sua independência financeira e de recursos.
Como resultado, a industrialização passou pela fase inicial até a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
A indústria ganhou o orçamento de 6 bilhões rublos, enquanto a agricultura continuou a ser a principal fonte de riqueza nacional com 24 bilhões de rublos e respondeu por 75-80% da renda nacional.
Enquanto isso, 70% da população trabalhava na agricultura, e a população rural constituía 87% do total.

Em terceiro lugar, as revoltas revolucionárias foram provocadas pela crescente dependência do regime de empréstimos externos.
A Rússia representou US $1.998 milhões, ou 31,2%, da dívida externa total, que foi acumulada por todos os países e totalizou US $6.317 milhões no início de 1914.
No entanto, o Estado permaneceu o maior proprietário, proprietário da fábrica, comerciante atacado, credor, e assim por diante.
Naturalmente, os proprietários de capital opuseram-se fortemente à situação, que alimentou a tensão entre capitalistas ricos e o Estado.
A grande burguesia visava principalmente reduzir o papel do Estado na economia e limitá-lo ao extremo e, idealmente, transformar o capital em poder.

A quarta razão de traduzir em manifestações de grande escala em todo o país foi uma extensão lógica das causas acima mencionadas.
Por um lado, o descontentamento político foi provocado pela difícil situação socioeconómica agravada pela guerra.
Por outro lado, o ressentimento popular foi alimentado por capitalistas ricos apoiando ativamente conselhos de trabalhadores e estabelecendo uma extensa rede de organizações.
Desde 1916, os preços subiram quatro ou cinco vezes, e a Rússia viu o aumento de quatro vezes em dinheiro, com o ouro, de fato, retirado da circulação.
Movimentos de greve, agitação em aldeias e rebeliões na periferia eram exaustivos e desestabilizadores do Estado.

Um governo mais fraco, com pouco apoio popular, constituiu a quinta e talvez a mais importante causa da Revolução de Fevereiro, com o enriquecimento dos poucos acompanhada pelo empobrecimento de muitos. 
Especificamente, Carl Fabergé recebeu um número sem precedentes de encomendas no ano de crise de 1916.

Assim, a paralisia do Estado, principalmente das agências de segurança nacional, estava dominando o país. 
Já em guerra, a Rússia foi atingida por uma crise sistémica, resultando na incapacidade da elite de realizar suas funções básicas, interrupções de infra-estrutura e, em última análise, sabotagem aberta.

Como tal, a revolução não se desencadeou até a abdicação do czar, especificamente até que Nicolau II deixou seu povo e seu exército por conta própria. 
Até então, os eventos podem ser referidos como um enredo ou uma rebelião, fenómenos bastante reversíveis. 
No entanto, a abdicação do Imperador desencadeou processos irreversíveis - e ao mesmo tempo mais radicais - com a Revolução de Fevereiro seguida pela Revolução de Outubro.

Finalmente, deve-se ressaltar que os fatores internos da Revolução de Fevereiro surgiram plenamente no contexto do jogo político mundial. 
A Revolução de Fevereiro veio a ter uma importância crucial na luta pela primazia europeia e global travada pela Grã-Bretanha e seus grupos aliados fechados. 
Especificamente, a luta tinha como objetivo apagar a Rússia do mapa geopolítico e reduzir o país a um apêndice de recursos, que naquela época era impossível de realizar sem a deposição de Nicholas II. 
Com a abdicação do czar, Lloyd George disse no Parlamento que através dela "a Grã-Bretanha alcançou um de seus maiores objetivos de guerra", o que testemunha a trilha britânica.

Por último, mas não menos importante, os eventos de fevereiro têm um significado especial em meio a golpes mais frequentes, mais amplamente conhecidos como "revoluções de cor". 
As apreensões atuais de poder se encaixam no padrão estrutural da Revolução de 1917 de fevereiro, uma vez que tendem a capitalizar o descontentamento popular para causar desestabilização política e criar oposição, mas pelo menos grupos legítimos. 
As inovações tecnológicas são moldadas pela globalização. 
Enquanto a campanha de propaganda anti-monarquia foi travada através de jornais e folhetos, a nova rede de massas de hoje serve uma função da imprensa, clubes revolucionários e comités de greve. 
Ao mesmo tempo, os "februaristas" e os "revolucionários" contemporâneos partilham tarefas e objectivos semelhantes, nomeadamente o derrube do regime. 
Além disso, os eventos de fevereiro e os putsches têm outro aspecto importante em comum, particularmente o requisito essencial para neutralizar, mesmo fisicamente, o líder político. 
Sua deposição (ou assassinato) pressagia o caos, as guerras civis e a devastação económica e política, em vez do triunfo da liberdade e da lei.