VÍTOR RAMON FERNANDES
7 de Dezembro de 2016, 11:07
É uma cidade absolutamente estratégica para que o regime sírio se mantenha como um elemento incontornável para uma futura estabilização da região.
O conflito iniciou-se em julho de 2012, há mais de quatro anos, e se algo tem acontecido desde o seu início é uma intensificação das hostilidades.
Alepo tornou-se o epicentro do conflito na Síria.
O conflito envolve, de um lado, a oposição síria ao regime do presidente Bashar al-Assad e, do outro, o próprio regime sírio.
Do lado da oposição estão milícias rebeldes, designadamente, o Exército Livre Sírio, mas também outros grupos jihadistas, tais como a Fatah al-Sham (anteriormente Jabhat al-Nosra), que tem estado ligada, pelo menos até recentemente, à Al-Qaeda.
Do lado do regime sírio estão também forças de apoio russas e alguns militantes xiitas do Hezbollah, que têm o apoio do Irão.
Se houve ocasiões em que se tentou negociar e inclusive estabelecer um cessar-fogo, como foi o caso recentemente em Genebra, presentemente tudo aponta apenas para violência e destruição até à conquista final da cidade pelo regime sírio.
Estima-se que em Alepo, a maior cidade na Síria, com uma população originalmente de cerca de dois milhões e meio de habitantes, estejam pouco mais de dez mil combatentes rebeldes enquanto à volta estão um pouco mais de quarenta mil combatentes do regime sírio.
É difícil imaginar como o conflito dura há tanto tempo tendo em consideração a desproporção das forças envolvidas.
Mas a guerra urbana é sempre muito difícil para as tropas convencionais, o que explica também a razão porque as forças de Assad têm optado crescentemente por bombardeamentos massivos, com apoio russo e originando inúmeras perdas, particularmente civis inocentes.
Muito recentemente, a Rússia propôs a abertura de quatro corredores humanitários para permitir a evacuação de população civil e o regime sírio decidiu enviar centenas de tropas especiais para a zona este de Alepo, o que pode sinalizar também uma, ainda maior, intensificação dos bombardeamentos e da ofensiva.
E no início desta semana, a Rússia e a China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que determinava um cessar fogo de sete dias em Alepo.
A probabilidade de Assad ceder Alepo é praticamente inexistente.
Alepo é uma cidade absolutamente estratégica para o presidente sírio, caso ele pretenda, como é manifestamente o caso, manter-se no poder e continuar a ser um elemento incontornável em negociações que venham a ocorrer.
Alepo está no centro de uma região no noroeste da Síria que ainda é controlada pelo regime sírio.
No entanto, essa zona está rodeada do lado este pelo auto-proclamado Estado Islâmico e, do lado oeste, por uma região controlada pelas forças rebeldes.
A batalha ocorre na cidade propriamente dita, particularmente na parte este.
Se Assad cedesse Alepo acabaria por perder a curto prazo uma zona muito maior do que a cidade e uma parte importante da Síria, enfraquecendo significativamente a sua posição.
A seu tempo, quando ocorrerem negociações para a estabilização da Síria, que serão indispensáveis e onde estarão envolvidos todos os Estados vizinhos da região, sem excluir a Rússia e os EUA, Bashar al-Assad quererá demonstrar que, no meio de todas as forças envolvidas na Síria, é ele que pela sua natureza, poder e legitimidade merece mais confiança e tem verdadeiramente a capacidade para atingir a pacificação e a estabilização da Síria com vista a obter uma paz duradoura na região.
Alepo é determinante para esse efeito.
Professor universitário
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