quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Governo sírio e rebeldes aceitam cessar-fogo e início de negociações

ANA FONSECA PEREIRA
29 de Dezembro de 2016, 12:01 actualizada às 13:21

Trégua entrará em vigor à meia-noite desta quinta-feira "em todo o território sírio". 

Rússia e Turquia mediaram acordo e serão os seus garantes.


O regime de Bashar al-Assad e grupos da oposição chegaram a acordo para a entrada em vigor, a partir da meia-noite desta quinta-feira, de um cessar-fogo “em todo o território sírio”, anunciaram a Rússia e a Turquia, os dois países por trás da mais recente tentativa para pôr cobro à guerra no país.

Segundo o Presidente russo, Vladimir Putin, Damasco e representantes da oposição assinaram três documentos – além da trégua e de uma lista de mecanismos para a sua monitorização, as duas partes comprometeram-se a iniciar negociações com vista à resolução do conflito, que dura já desde 2011 e fez mais de 300 mil mortos. 
Putin revelou ainda que Moscovo aceitou reduzir a sua presença militar no país, onde actua desde Setembro de 2015 ao lado de Assad, mas continuará “a lutar contra o terrorismo internacional e a apoiar o governo sírio”.

A Coligação Nacional Síria, que agrega grande parte dos grupos da oposição (armada e política), representando-a nas negociações internacionais, anunciou que apoia este entendimento e apelou “todas as partes a aceitá-lo”. 
Um porta-voz da Coligação afirmou, no entanto, que os rebeldes “irão retaliar se forem atacados”.

Segundo o ministro da defesa russo, Serguei Choigu, o acordo envolve "as principais forças da oposição armada" síria, num total estimado de 62 mil combatentes.

O Exército sírio assegura que a trégua, que tem como garantes a Rússia e a Turquia, não se aplicará aos jihadistas do Daesh nem à Frente Fatah al-Sham (antiga Frente al-Nusra, considerada o braço armado da Al-Qaeda no país) e os seus aliados. 
Contudo, Osama Abu Zeid, conselheiro do Exército Livre da Síria e um dos envolvidos nas negociações, disse à Reuters que apenas os extremistas islâmicos e as áreas que eles controlam estão excluídos deste acordo. 
Uma das dúvidas prende-se com a região de Ghutta Oriental, um dos derradeiros bastiões da oposição nos arredores de Damasco, já que nos últimos dias o regime sírio insistia que as suas operações nesta área não podiam cessar.

Esta não é a primeira vez que regime e rebeldes aceitam um cessar-fogo, mas as anteriores tentativas, negociadas sob a égide das Nações Unidas, colapsaram ao fim de vários dias. 
Este entendimento acontece, no entanto, num momento diferente do conflito, depois de a rebelião síria ter sido forçada a abandonar Alepo, após meses de cerco e uma derradeira ofensiva que confinou a oposição a uma pequena fracção do território que controlou durante quatro anos na metade Leste da cidade.

Citado pelas agências de notícias russas, Putin reconheceu que este cessar-fogo “é frágil e vai requerer muita atenção”, mas elogiou o esforço dos seus ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, bem como os parceiros de Moscovo na região, por esta esperança de paz. 
Serguei Lavrov, o chefe da diplomacia russa, revelou que está já a preparar, com os homólogos da Turquia e do Irão, o início das negociações de paz, prevista para Astana, no Cazaquistão.

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