MÉDIO ORIENTE
Maria João Guimarães
9 de Abril de 2018, 20:39
Israel não confirma nem desmente ataque. EUA terão sido informados.
O timing do ataque, poucas horas depois de um tweet do Presidente americano, Donald Trump, na sequência de mais um ataque com armas químicas na Síria, fez com que o dedo fosse apontado a Washington.
Mas esta segunda-feira, Damasco e Moscovo culparam Israel pelo disparo de mísseis contra uma instalação militar síria, usada também por forças iranianas e russas, que fez 14 mortos de várias nacionalidades, sete deles iranianos.
Israel não confirmou nem desmentiu a autoria do ataque de segunda-feira à chamada base T-4, que já em Fevereiro tinha sido alvo da sua aviação.
Mas o Estado hebraico tem repetido que não admitirá que o Irão, ou a milícia xiita libanesa Hezbollah apoiada pela República Islâmica, ganhe espaço suficiente na Síria para aumentar a sua capacidade para atacar Israel a partir do Líbano ou da Síria.
O presumível ataque israelita nasce de dois movimentos em rota de colisão: a determinação iraniana em se estabelecer firmemente na Síria e a determinação israelita em impedir que isso aconteça, reagiu Amos Yadlin, director executivo do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Telavive, no Twitter.
No diário Ha’aretz, Amos Harel não tem dúvidas: “Israel está agora a confrontar directamente o Irão”.
Segundo fontes americanas citadas sob anonimato, Israel informou previamente os Estados Unidos do ataque.
Já Moscovo queixou-se de um “desenvolvimento muito perigoso”, nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, lembrando que poderia haver militares russos no local.
“Espero que pelo menos o exército americano e aqueles a participar na coligação liderada pelos Estados Unidos percebam isso.”
Este foi o último incidente reportado desde que, em Fevereiro, Israel disse ter interceptado um drone iraniano que teria sido lançado precisamente da base T-4, perto de Homs, atacando a base e perdendo um avião na resposta das defesas anti-aéreas sírias.
Essa foi a primeira vez que Israel atingiu uma base militar: o seu exército tem atacado alvos na Síria – cerca de cem raides desde 2012, sobretudo colunas de veículos levando armas para o Hezbollah, com quem Israel esteve em guerra em 2006.
Como disse o ministro israelita da Defesa, Avigdor Lieberman, numa entrevista ao diário Yediot Ahronot, “uma grande parte da actividade do Exército israelita não aparece nos jornais, e ainda bem – só não é correcto dizer que não agimos”.
Se este ataque israelita foi mais um aviso ou será o novo normal na guerra da Síria é a grande pergunta – as previsões são desde ataques mais frequentes a um momento em que algo contribua para um novo conflito em maior escala.
“Não se pode excluir respostas sírias ou iranianas”, escreveu Yadlin no Twitter.
Já há meses que há relatos de uma aproximação das forças da fronteira com os Montes Golã, território sírio ocupado por Israel.
“Temos linhas vermelhas”, reagiu o ministro da Habitação, Yoav Galant, sem confirmar a autoria do ataque.
“Não deixaremos que a Síria se torne uma rampa de lançamento para armas que mudem a situação no Líbano, não permitiremos que haja um exército iraniano na Síria e não permitiremos a abertura de uma frente nos Montes Golã”.
A outra grande questão é o que fará a Rússia que, até agora, não tem interferido nas acções militares israelitas.
Na sua reacção ao ataque, Moscovo pareceu avisar sobretudo os EUA – com Trump a prometer uma resposta ao ataque químico, depois de pouco antes ter anunciado uma diminuição do papel dos EUA e uma progressiva retirada das suas tropas da Síria.
A acção israelita também acontece por uma profunda desconfiança em relação ao seu próximo aliado americano: embora as relações entre as lideranças estejam num ponto óptimo com Netanyahu e Trump, Israel teme o caos no Departamento de Estado e da Defesa.
Yossi Mekelberg, responsável do departamento de Relações Internacionais da Universidade Regent’s em Londres, comentou à televisão americana NBC que Israel preferiria não agir na Síria.
“Mas os iranianos estão a aproximar-se muito.”
maria.joao.guimaraes@público.pt
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