NAÇÕES UNIDAS
Maria João Guimarães
13 de Abril de 2018, 16:52
António Guterres alerta para o perigo de uma escalada militar total na Síria
Associações de direitos humanos pedem iniciativa do secretário-geral da ONU para criar uma missão que apure de quem é a responsabilidade pelo ataque químico na Síria. Rússia acusa Reino Unido.
Enquanto o mundo perguntava se o que está a acontecer com a prometida resposta militar americana a um ataque químico na Síria era a calma antes da tempestade ou o ganhar tempo para uma solução não-militar, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a todos os países para que “ajam com responsabilidade nestas circunstâncias perigosas” para “evitar que a situação fique fora de controlo”.
Guterres, que foi ouvido no Conselho de Segurança da ONU a pedido da Rússia, criticou não só a “tensão crescente” mas também a “incapacidade de se chegar a um compromisso para criar um mecanismo de responsabilização”.
Os dois factores juntos criam o potencial de “uma total escalada militar”, alertou.
O risco de um confronto entre uma coligação incluindo os Estados Unidos e a França e os militares russos que estão na Síria a apoiar o exército de Assad é grande.
Inspectores da Agência para a Proibição de Armas Químicas chegam neste sábado ao local onde terá ocorrido, há uma semana, o ataque químico em Douma, mas só têm como missão apurar que gás foi usado e não quem o utilizou.
Para que seja atribuída responsabilidade é necessário que exista uma comissão conjunta que inclua mais do que apenas estes peritos.
Esta comissão foi sugerida numa resolução apresentada pelos EUA na terça-feira — e que a Rússia vetou.
Um grupo de 45 organizações de defesa de direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, pediu a Guterres que, dada a paralisação do Conselho de Segurança, active ele próprio um mecanismo da ONU independente que procure as responsabilidades.
Outros secretários-gerais já o fizeram, argumentam.
A tensão Rússia-EUA no Conselho Segurança tem sido crescente e observadores notam que os respectivos embaixadores têm tido palavras cada vez mais duras.
Os Estados Unidos ameaçaram retaliar contra o regime de Assad pelo suspeito ataque químico — em que poderão ter sido usados dois gases, cloro e sarin.
A Rússia nega que tenha ocorrido qualquer utilização de armas químicas e, nesta sexta-feira, acusou mesmo o Reino Unido de estar por trás de uma simulação de ataque.
A embaixadora britânica, Karen Pierce, disse aos jornalistas que Londres não tinha qualquer envolvimento.
“É grotesco, é uma mentira óbvia, é a pior notícia falsa que já vimos da máquina de propaganda russa”, declarou.
maria.joao.guimaraes@público.pt
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