"Que tipo de nação quer estar associada a um assassinato em série de homens, mulheres e crianças inocentes?"
Foi com esta pergunta que o Presidente norte-americano, Donald Trump, se dirigiu ao mundo durante a noite desta sexta-feira (já madrugada em Lisboa), para anunciar um ataque conjunto dos Estados Unidos, Reino Unido e França à Síria.
Numa declaração feita à comunicação social às 21h em Washington (2h de sábado em Lisboa), Trump deu conta da sua ordem às Forças Armadas norte-americanas para atingir “alvos específicos associados à capacidade de produzir armas químicas do ditador sírio, Bashar al-Assad”.
O ataque, explicou Trump, foi resultado de uma “operação combinada com as Forças Armadas da França e Reino Unido” e, por isso, agradeceu a ambos países.
“Há um ano, Assad lançou um ataque químico contra o seu próprio povo, contra inocentes.
Os EUA responderam com 58 ataques de mísseis que destruíram 20% da Força Aérea Síria”, acrescentou Trump.
O recurso a armas químicas ter-se-á então repetido no último sábado, na cidade de Douma, atribuído a Assad por Trump e pelos seus aliados.
Vídeos e imagens mostram resquícios de pelo menos duas bombas de gás de cloro no ataque, coincidentes com bombas de ataques anteriores".
Um acto único para três alvos
Para a Casa Branca, o mais recente ataque do Presidente sírio constituiu uma “acentuada escalada no recurso a armas químicas” e, depois de uma semana de tensões e ameaças, os bombardeamentos dos aliados acabaram por se concretizar.
Foi um "acto único", como o qualificou Jim Mattis, secretário de Defesa norte-americano, para enviar "uma mensagem muito forte a Assad".
Horas mais tarde, o Pentágono viria a detalhar que o ataque teve três alvos: um centro de investigação científica, perto de Damasco; um depósito de armas químicas situado a Oeste de Homs; e um outro armazém de armas químicas e um "importante centro de comandos", ambos situados perto do depósito de armas químicas a Oeste de Homs.
Macron: "Linha vermelha foi ultrapassada"
"Esta noite autorizei as Forças Armadas a lançar ataques dirigidos e coordenados com o objectivo de degradar a capacidade do regime sírio de produzir armas químicas - e travar a sua utilização.
Estamos a actuar juntamente com os nossos aliados americanos e franceses”, afirmou a primeira ministra-britânica,Theresa May.
“Em Douma, no último sábado, um ataque com armas químicas matou mais de 75 pessoas, incluindo crianças, em circunstâncias de puro horror.
Este padrão persistente tem que ser travado”, justificou May.
“Nós não podemos autorizar que o uso de armas químicas seja normalizado - seja na Síria, nas ruas do Reino Unido ou em qualquer outro lado do mundo.
Preferíamos ter tido um caminho alternativo.
Neste caso não há nenhum", lê-se no comunicado de May, que alude ao ataque com o agente nervoso químico a um ex-espião russo a viver no Reino Unido, Serguei Skripal.
A primeira-ministra do Reino Unido disse que a actuação do regime de Assad põe directamente em causa as normas internacionais e que foram tentadas “todas as vias diplomáticas” para evitar o ataque deste sábado.
Já o Presidente francês, Emmanuel Macron, foi mais sucinto e declarou que o país não iria continuar a tolerar “o recurso a estas armas, que são um perigo imediato para a população síria e para a nossa segurança colectiva".
"A linha vermelha foi ultrapassada", disse ainda o Presidente francês.
Rússia: “Tais acções vão ter consequências”
Numa primeira reacção, o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, publicou um comunicado no Facebook, afirmando que os EUA e os seus aliados sabem "que tais acções terão consequências".
E acrescentou: “Insultar o Presidente da Rússia é inaceitável e inadmissível”, além de que os EUA “não têm moral para criticar os outros países”, uma vez que tem um grande arsenal de armas químicas, argumentou.
Os alvos dos bombardeamentos dos EUA já tinham sido evacuados há vários dias, disse à Reuters uma fonte de uma aliança regional que apoia o regime de Assad.
“Tivemos um aviso dos russos sobre o ataque e todas as bases militares foram evacuadas há alguns dias”, disse a mesma fonte.
“Cerca de 30 mísseis foram disparados no ataque e um terço deles foi interceptado”.
liliana.borges@público.pt
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