Sofia Lorena
em Barcelona 21 de Dezembro de 2017, 6:31
Os partidos com representação parlamentar deverão ser os mesmos.
Junqueras, Puigdemont ou Arrimadas?
Iceta?
Quem será presidente?
Não foram as grades da prisão de Estremera que o calaram – Oriol, Junqueras, líder e cabeça de lista da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), ex-vice-presidente acusado de “sedição, rebelião e desvio de fundos”, fez campanha.
Diferente, claro.
Deu pequenas entrevistas a jornais, gravou mensagens telefónicas e escreveu aos militantes.
Na primeira carta, dizia-lhes que Marta Rovira é “uma mulher de força” e foi ela, sua “número dois”, o rosto da campanha.
A ERC contava vencer e escolheu apresentar-se sem Carles Puigdemont; tudo depende dos votos, mas os republicanos esperam ser pressionados a apoiar o líder destituído – tal como Junqueras sabe que um dia será president.
Apareceu em Bruxelas no dia em que os catalães acordaram ansiosos, à espera de perceber o que significava a ocupação, por Madrid, das instituições autonómicas.
Carles Puigdemont apostou no que chama auto-exílio e não se saiu mal: enquanto oito membros do seu governo estiverem detidos (dois continuam) a Justiça belga arquivou o seu processo e pôs na gaveta a ordem de detenção europeia.
Os analistas atribuem às suas intervenções a subida da Juntos pela Catalunha.
Ganhou por ter construído a única lista aberta, com o ex-líder da Assembleia Nacional Catalã, Jordi Sànchez (detido) como “número dois” e muitos independentes.
Vai insistir na sua legitimidade para governar.
Começou a aprender catalão na adolescência por amor ao Barça.
A relação da andaluza Inés Arrimadas com a Catalunha fortalece-se quando decide vir trabalhar para Barcelona, como advogada.
Depois, surgiu o Cidadãos e a política: é eleita deputada em 2012 e em 2015 torna-se chefe da oposição.
A seguir ao líder do partido, Albert Rivera, foi a única a falar castelhano no parlamento autonómica.
Pode ser a mais votada, mas ser-lhe-á quase impossível formar uma maioria.
O Partido dos Socialistas Catalães já deu tantas voltas que o seu eleitorado se fez volátil – pode estar indeciso entre PS, Catalunya en Comú ou C’s.
Com a bandeira da reconciliação, Miquel Iceta foi igual a si mesmo, o candidato dos trocadilhos, sempre bem-disposto.
Sabe que não será o mais votado, mas por causa dos vetos cruzados não é completamente impossível que chegue à presidência (com o apoio do resto dos unionistas, C’s e PP, ou da ERC e da Catalunya en Cómu) e ninguém acredita nisso como ele.
Xavier Domènech teve a campanha mais difícil, fruto de uma posição que se distancia dos blocos em que a política catalã se divide.
O Catalunya en Cómu, apoiado pelo Podemos, é contra a independência da Catalunha mas defende o chamado direito a decidir.
O resultado é que todos tentaram convencer os seus eleitores, mas Domènech deverá ficar perto dos onze deputados de 2015.
E pode, isso sim, ser árbitro na altura de negociar coligações.
A posição mais intransigente em relação à independência parece ter perdido gás, se olharmos para o que as sondagens antecipam para a CUP (Candidatura de Unidade Popular), único partido que não fez autocrítica em relação ao processo e que admite boicotar o próximo parlamento se a república não avançar.
Irrompeu com dez deputados, em 2015, tornando-se essencial para a maioria de Puigdemont e Junqueras – agora, a lista encabeçada por Carles Riera arrisca perder quase metade do grupo parlamentar.
Se dependesse dele, a aplicação do artigo 155 da Constituição teria sido mais dura e prolongada.
Xavier García Albiol sugeriu que Madrid aproveitasse para mudar o papel do catalão no ensino.
Nas manifestações unionistas de Outubro e Novembro era sempre quem se via melhor (mede 2 metros) mas era à passagem de Rivera e Arrimada que se ouvia gritar “presidente”.
Vai ter o pior resultado do PP na Catalunha e nem Rajoy, que não o largou na campanha, lhe valeu.
slorena@publico.pt
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