quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O que sabemos sobre o derrube do helicóptero russo na Síria?

RUSSIA BEYOND THE HEADLINES
Nikolai Litovkin

03 de agosto de 2016, RBTH


Em 1º de agosto militantes Al-Nusra frente abateu um Mi-8 de helicóptero militar de transporte russo em Idlib Province. Todos os cinco tripulantes morreram. O que sabemos sobre o ataque e como poderia a morte dos oficiais russos sido evitado?
Homens inspecionar os destroços de um helicóptero russo que havia sido derrubado no norte controlado pelos rebeldes Síria província de Idlib, Síria, 01 de agosto de 2016. Fonte: Reuters

1. Onde estava  o Mi-8 a voar?
O Mi-8 helicóptero de transporte militares estava voando para a base aérea de Kheimim depois de terem feito ajuda humanitária supostamente trazida para os moradores de Aleppo.

2. Quem derrubou o helicóptero?
Al-Nusra militantes da frente em Idlib Província abateu o helicóptero com um míssil terra-ar.

3. Como foi o helicóptero destruído?
O helicóptero estava voando a uma altura de 15.000 pés no momento do ataque. Um helicóptero voando a uma tal altitude pode ser derrubado ou por sistemas de defesa aérea (que os militantes não têm) ou por sistemas de defesa aérea portáteis (MANPADS).

De acordo com a TASS perito militar Viktor Litovkin, os terroristas usaram tanto o Igla MANPAD, que haviam roubado de armazéns na Líbia, ou o americano Stinger MANPAD, que havia sido fornecido à oposição moderada, mas depois encontrou o seu caminho para as mãos dos militantes .

4. Como deve ser uma equipe de reagir a um ataque com um míssil terra-ar em busca de calor?

Helicópteros Mi-8-transporte militar estão equipados com uma série de sistemas de protecção contra a superfície-ar e mísseis ar-ar. Entre eles está uma armadilha de calor para desviar mísseis infravermelhos-guiados do helicóptero, que a tripulação deve usar quando atacado usando um MANPAD.

"Este sistema dispara uma espécie de míssil flare e 'atrai' a ogiva a si mesmo. Porque a temperatura do alargamento é mais elevada do que a temperatura do motor a ogiva infravermelha guiada voa para longe do helicóptero", disse Dmitry Safonov, um observador militar da jornal Izvestiya.

A razão pela qual a tripulação do Mi-8 não empregou a armadilha de calor não é conhecido.
Vídeo a partir do local onde o helicóptero foi derrubado. Fonte: notícias baladi- / YouTube

5. Por que o helicóptero voando sem cobertura?
De acordo com Litovkin, esta é a falha do comando da força aérea russa na Síria, bem como de reconhecimento da Síria, que havia dito os militares russos que ao longo da rota que o Mi-8 estava voando não haveria militantes.

6. Eram armas que o Mi-8 transportava?
De acordo com o Ministério da Defesa russo, durante a missão do Mi-8 só tinha uma metralhadora estacionária com munição. No entanto, um tweet de Eliot Higgins, fundador do site de jornalismo investigativo Bellingcat, e outro do jornalista alemão Björn Stritzel contêm fotografias que parecem mostrar vagens de foguete vazias no local do acidente.

7. Então, quais eram esses pods de foguetes?
De acordo com Alexander Khramchikhin, vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar, vagens com ogivas reativas com e sem condutor podem ser ligadas ao helicóptero. No entanto, ele afirma, o Mi-8 não levava essas ogivas durante a missão humanitária em Aleppo.


"Durante a guerra não existem embarcações de transporte" limpo ".
A pergunta é: Quais são as missões que cada helicóptero deve realizar?
O Mi-8 tem equipamento militar, mas isso não significa que ele vai usá-lo.
Ele não pode ser comparado com o Ka-52, por exemplo ", explicou Khramchikhin.

Perdas do exército russo na Síria
É a primeira vez desde o início da operação em 30 de setembro de 2015 que o contingente russo na Síria perdeu cinco soldados em um incidente.Antes do derrube do Mi-8 o número total de perdas russas era de 14.
A última vez que um recruta russo morreu foi em 22 de Julho, na sequência de uma explosão de um engenho explosivo self-made, também durante uma missão humanitária em Aleppo.

Forças curdas e árabes conquistam cidade estratégica aos jihadistas na Síria

PÚBLICO
06/08/2016 - 13:59


Aliança islamitas diz estar próxima de quebrar cerco do Exército sírio em Alepo, numa reviravolta que deixa sob acosso zonas controladas pelo Governo.
Combatente sírio numa das duas academias militares conquistadas ao Exército AMMAR ABDULLAH/REUTERS

Manbij, cidade estratégica no principal corredor de abastecimento a Raqqa, a autoproclamada capital do Estado Islâmico, foi tomada pela coligação de forças curdas e árabes criada com o apoio dos Estados Unidos. 
Um avanço noticiado na mesma altura em que os rebeldes, liderados por forças islamistas, anunciam estar perto de quebrar o cerco em Alepo.

As SDF (sigla em inglês para Forças Democráticas Sírias) “controlam Manbij e estão a fazer buscas no centro da cidade em busca dos últimos jihadistas que ainda ali estão”, revelou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, citado pela AFP. 
Por seu lado, o porta-voz do conselho militar da coligação, Sharfan Darwish, explicou à Reuters que os homens sob seu comando reconquistaram até ao final da manhã “90% da cidade”, mas estão ainda a combater algumas bolsas de resistência.

Foi a 31 de Maio que a recém-criada coligação – que integra cerca de três mil combatentes árabes treinados pelos EUA e algumas centenas de milicianos curdos do YPG, considerada a força mais preparada no combate aos jihadistas – lançaram a ofensiva contra Manbij, há muito sob controlo do EI. 
Contam com o apoio aéreo da coligação liderada pelos EUA e, em terra, das forças especiais norte-americanas, o que permitiu uma maior eficácia nos bombardeamentos.

Depois de uma rápida progressão inicial, em que tomaram os campos e várias aldeias ao longo do rio Eufrates, as SDF entraram a 23 de Junho no perímetro da cidade, confrontando-se desde então com uma feroz resistência dos jihadistas no combate urbano.

Situada no corredor que liga Raqqa a Alepo (e segue daí até à fronteira com a Turquia), Manbij é um posto estratégico para o abastecimento da cidade do Leste da Síria a que os jihadistas chamam a sua capital. 
Conquistá-la ajudará a isolar Raqqa, há quase dois anos debaixo dos bombardeamentos da aviação.

Mais a sul, o Exército da Conquista, aliança que integra grupos islamistas e jihadistas, estará perto de quebrar o cerco imposto no mês passado pelo Exército sírio à metade Leste de Alepo, sob controlo da rebelião, adiantou o Observatório. 
Sexta-feira à tarde, após cinco dias de ofensiva, a Frente Fateh al-Sham (o nome adoptado pela Frente al-Nusra após se ter desligado oficialmente da Al-Qaeda) anunciou ter tomado duas academias militares situadas no Sul da cidade, onde estariam guardadas importantes reservas de munições. 
Segundo uma agência estatal síria, terão usado carros armadilhados e bombistas-suicidas para derrubar os muros das duas guarnições.

Conquistas que deixam os rebeldes em melhores condições de avançar sobre o vizinho bairro de Ramoussa. 
Caso o consigam, estarão em condições de ligar o bairro ao sector rebelde de Sheik Said, mais a oeste, quebrando não só o cerco às zonas que controlam como interrompendo as linhas de abastecimento à metade Oeste da cidade, desde sempre nas mãos do Exército de Bashar al-Assad.

O cerco sobre Alepo caiu, mas os combates mais violentos ainda estão por vir

FÉLIX RIBEIRO
08/08/2016 - 20:15


Regime e rebeldes estão a mobilizar milhares de reforços para os próximos dias. Assad não quer abrir mão do seu futuro político e os insurgentes querem agora tomar a cidade inteira.
Rebelde sírio aponta para os efeitos dos bombardeamentos russos sobre Alepo. RODI SAID/REUTERS

A grande campanha rebelde em Alepo para quebrar o cerco do regime à sua metade da cidade parecia ter chegado ao desfecho intendido no fim-de-semana, quando os insurgentes, mesmo tendo por diante uma intensa barragem de ataques aéreos e centenas de tropas leais ao Presidente Bashar al-Assad, anunciaram o fim do bloqueio governamental, conquistando o estratégico bairro de Ramoussa, no Sul, e, com ele, um corredor inseguro para as zonas residenciais isoladas há mais de um mês. 
Os rebeldes recuperaram em apenas seis dias muito do terreno que o regime levou meses a conquistar.

Assad e os seus aliados responderam com bombardeamentos e disparos de artilharia pesada, mas esta segunda-feira não pareciam ainda próximos de recuperar os territórios perdidos. 
Os seus esforços mais evidentes vêm dos ares, onde caças sírios e russos vão bombardeando as novas posições rebeldes para impedir que estes as consigam consolidar. 
“Já capturámos toda a Ramoussa”, anunciava à AFP Abu al-Hasanien, comandante de topo de uma das alianças rebeldes que combatem o regime, admitindo que as bombas não os deixavam progredir. 
“Estamos nas nossas trincheiras, mas há ataques insanos de uma ferocidade sem precedentes.”

A situação no terreno mantém-se mais-ou-menos inalterada desde a noite de sábado. 
Os rebeldes conseguem passar para os seus bairros no Leste da cidade, mas o caminho que abriram é ainda demasiado perigoso para permitir a fuga de residentes ou o envio de muitos reforços e mantimentos. 
O regime, por sua vez, arriscando-se a que as suas zonas residenciais a Oeste acabassem cercadas por insurgentes, consegue ainda receber mantimentos e reforços desde o Norte, por onde há um mês completou o cerco. 
Apesar do impasse dos últimos dias, tudo aponta para que os combates mais violentos na luta por Alepo estejam ainda por vir.

Os confrontos da última semana podem ter causado perto de 700 mortos em ambos os lados do conflito, não contando com as dezenas de civis apanhados no fogo cruzado de artilharia, rockets e bombardeamentos, acreditando nas estimativas do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que monitoriza a guerra desde o Reino Unido. 
A brutalidade dos últimos dias demonstra a importância do domínio sobre o antigo centro económico da Síria: se os rebeldes se deixarem cercar novamente, terão perdido o controlo sobre o seu território mais importante e qualquer relevância que pudessem ter num cenário de pós-guerra.

Agora que romperam o cerco do regime, vários grupos armados preparam-se para combates ainda mais ambiciosos. 
A grande aliança de insurgentes, dominada pelos poderosos grupos extremistas de Alepo, anunciou na noite de domingo que pretende convocar centenas de reforços e lançar uma ofensiva que tome de assalto os bairros do regime e conquiste por completo a cidade. 
Poucos acreditam que o consiga fazer, visto que a cidade está firmemente dividida em dois desde 2013. 
A comprovar-se a ameaça, porém, tratar-se-á de um feito extraordinário e um estrondo nas ambições de Assad.

Jogam-se cinco anos de guerra civil síria na "grande e épica batalha por Alepo"

“O regime e os seus aliados não estavam à espera que o cerco que preparavam há anos pudesse ser destruído em apenas seis dias”, lê-se num comunicado publicado do Exército da Conquista, um grupo de facções islamistas liderado pela antiga Frente al-Nusra, renomeada Fateh al-Sham mas ainda com fortes ligações operacionais e ideológicas à Al-Qaeda. 
“Começou uma nova fase para libertar Alepo no seu todo”, anuncia o grupo, visivelmente motivado pelas vitórias dos últimos dias sob as milícias leais a Assad e o seu Exército remendado. 
“Não pararemos até hastearmos a bandeira da vitória na cidade velha.”

Mas Assad não pretende abrir mão de Alepo. 
Conquistá-la – ou subjugá-la – será o mesmo que garantir a sua sobrevivência política, um feito que parecia altamente improvável antes de a Rússia ter chegado em seu auxílio no último ano. 
Se os rebeldes extremistas dizem estar prestes a “duplicar o número de combatentes” na cidade, o Observatório Sírio indica que cerca de dois mil homens leais a Assad tinham entrado esta segunda-feira pelas suas vias de abastecimento no Norte, deixando antever novos e mais violentos confrontos nos próximos dias.

A composição das facções rebeldes em Alepo levanta sérias dúvidas sobre o tipo de benefícios que a oposição no exílio pode colher dos reveses militares do regime. 
O Exército da Conquista dizia na noite de domingo que a vitória em Alepo não era apenas responsabilidade sua, mas também das “várias facções” que participaram na ofensiva, mesmo que nenhuma delas se aproxime da importância e capacidade da antiga Frente al-Nusra ou da Ahrar al-Sham, outra organização extremista. 
Mas isso não impediu que Anas al-Abdah, líder da Coligação Nacional Síria, reivindicasse vitória.

“Rompemos o cerco de Alepo e vamos libertar toda a Alepo”, disse o líder oposicionista esta segunda-feira, numa conferência de imprensa em Istambul. 
“Lançamos um apelo aos oficiais do Exército sírio: esta é a vossa última oportunidade para desertar.”

Síria: O que está por trás operação humanitária da Rússia em Aleppo?

RUSSIA BEYOND THE HEADLINES
Oleg Yegorov
05 de agosto de 2016


Juntamente com o exército governo sírio, a Rússia abriu corredores humanitários da cidade sitiada de Aleppo para permitir que civis e militantes a abandonar a cidade. observadores russos prevêem que as tropas de Bashar al-Assad são susceptíveis de atacar Aleppo breve.
Especialistas russos estão convencidos de um ataque do exército sírio é quase inevitável, embora o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo nega. Foto: crianças sírias receber ajuda humanitária da Rússia na resolução de Alkin, Síria. Fonte: Sergei Bobylev / TASS
Em 28 de julho, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu anunciou o lançamento de uma operação humanitária de grande escala na controlada pelos rebeldes Aleppo, que está cercada por tropas leais ao líder sírio Bashar al-Assad.

Corredores humanitários foram criados permitindo que os civis a abandonem a cidade. Militantes também podem aproveitar-se destes corredores: No mesmo dia, Assad garantiu amnistia a todos os militantes que estavam dispostos a depor as armas.

A operação durou mais de uma semana já. Desde o seu lançamento, a Rússia enviou mais de 18 toneladas de alimentos e medicamentos para Aleppo. A ajuda humanitária é disponibilizada para os moradores em pontos específicos dentro da cidade e está sendo levado de helicóptero para eles.

De acordo com o Kremlin, o helicóptero russo que foi derrubado por militantes em 01 de agosto voltava de uma dessas missões, depois de ter alegadamente levado de helicóptero ajuda humanitária a Aleppo (embora fotografias do local do acidente publicada no Twitter indicam que pode, de facto, têm vindo a transportar armas ).


Ofensiva muito provável


Aleppo, onde a luta está em andamento desde 2012, é um dos principais locais onde as tropas e os rebeldes de Assad surgiram uns contra os outros na guerra síria.

Representantes do Ministério das Relações Exteriores da Rússia negou categoricamente que uma vez que a operação humanitária está acabada, as tropas de Assad, com os quais a Rússia é aliada, irá lançar uma ofensiva contra a cidade. No entanto, especialistas russos estão convencidos de um ataque do exército sírio é quase inevitável.

"Os corredores têm a intenção de reduzir a concentração de civis e rebeldes dentro da cidade, tanto quanto possível", disse o estudioso Árabe Leonid Isayev, um professor sênior do Departamento de Ciências Políticas na Escola Superior de Economia de Moscovo.

Na opinião de Isayev, o exército sírio vai ter um trabalho difícil lutar contra a guerra urbana e os mais militantes e civis deixam Aleppo, melhor será para Assad.

Fyodor Lukyanov, editor-chefe da Rússia na revista Global Politics, acredita que diplomatas russos estão negando a possibilidade de uma ofensiva apenas para fins políticos.

"Nós não devemos nos enganar. Claramente, a operação humanitária é apenas uma parte de uma ofensiva geral de que Assad está realizando com o apoio das forças armadas russas ", disse Lukyanov RBTH.

Um passo importante para a reputação da Rússia

Ao mesmo tempo, disse Vladimir Akhmedov, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, não se deve subestimar o efeito mais óbvio da operação humanitária - para ajudar os civis e para obtê-los fora de perigo.

"Na minha visão, a operação é um movimento muito bom: para alimentar a população não com balas e bombas, mas para alimentá-los de verdade", disse ele. "Se as pessoas são fornecidas com a ajuda humanitária, que poderia ampliar a base de apoio para nossas ações na Síria."

Na opinião de Akhmedov, para garantir o sucesso na Síria, a Rússia precisa de garantir o apoio desses sírios que vivem em áreas controladas pelos rebeldes.

Arrefecer a reação dos EUA

Rússia e as tropas do governo sírio começaram a operação humanitária sem uma discussão prévia com as Nações Unidas ou os Estados Unidos. Enquanto o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, saudou a iniciativa humanitária, a reação de os EUA foi bastante mais reservada.

Secretário de Estado dos EUA John Kerry disse que, se a operação humanitária em Aleppo acaba por ser um artifício (ou seja, se Assad lança uma ofensiva), há um risco "de completamente quebrando o nível de cooperação" entre Moscovo e Washington sobre a Síria.

"A Rússia e os EUA têm opiniões muito diferentes no que diz respeito futuro da Síria", disse Fyodor Lukyanov. "É por isso que a Rússia muitas vezes age de forma unilateral, a implementação de um plano próprio."

Rússia, continuou ele, beneficiariam de uma vitória para Assad na batalha por Aleppo, uma das principais cidades da Síria. Os EUA, pelo contrário, pretende evitar que as tropas do governo sírio desde a captura de Aleppo e estão extremamente cautelosos com iniciativas russas sobre a cidade.

Negociações sob a questão

De acordo com Lukyanov, uma possível ofensiva em Aleppo pode afetar a próxima rodada de conversações de Genebra sobre a Síria estabelecidas para o final de agosto.

"Se hostilidades sair entre Assad e a oposição, o processo de Genebra pode" congelar "mais uma vez", disse ele, embora tenha acrescentado que, mais cedo ou mais tarde as hostilidades vão acabar e as negociações serão retomadas.

Na opinião de Lukyanov, é o lado que ganha na batalha por Aleppo - seja Assad ou a oposição - que terá uma mão mais forte naqueles.

sábado, 6 de agosto de 2016

Rebeldes próximos de quebrar o cerco de Aleppo

Filipe d'Avillez
Imagem de um ataque suicida em Aleppo, que marcou o primeiro dia da ofensiva para quebrar o cerco. Foto: Fateh al-Sham/EPA

Após três dias de ferozes combates, uma coligação de grupos rebeldes terá conseguido ocupar um importante complexo militar e está muito próxima de pôr fim ao cerco que dura há meses.

A coligação de rebeldes que luta contra o regime de Bashar al-Assad, em Alepo, conseguiu um importante avanço ao ocupar a Academia Militar de Artilharia.

Durante o dia de sexta-feira sucederam-se as informações, muitas delas contraditórias, sobre o desenrolar do assalto rebelde à academia, mas esta manhã parece confirmar-se a ocupação do edifício estratégico por parte de rebeldes, não obstante o apoio aéreo dado às tropas do regime, apoiadas por milícias libanesas e iranianas, pela força aérea russa.

06 ago, 2016 - 11:42
     














































































Ocupada a base, os rebeldes procuram agora consolidar a sua posição e atacar as bases contíguas. 
Há informação de muitas baixas de parte a parte e o regime terá muitos reforços a caminho, mas se conseguir manter a posição, a coligação rebelde fica muito próxima de quebrar o cerco a que tem estado sujeita há meses.

A quebra do cerco representará importantes vitórias para os rebeldes. 
Por um lado, permite reabrir linhas de abastecimento para as partes da cidade sob controlo dos grupos anti-Bashar al-Assad, mas permitirá também fechar a ligação do exército a algumas das zonas da cidade ocupadas pelo regime, passando essas a estar cercadas.

Tão ou mais importante, será uma vitória moral de grande importância, numa altura em que as forças rebeldes pareciam estar em contrapé, sofrendo bastante com a intervenção russa no conflito. 
Durante anos os rebeldes sofreram pela sua desunião, mas esta batalha mostra também que os diferentes grupos se conseguem coordenar e agir em sintonia, com disciplina e estratégia.

Os céus sobre Alepo encheram-se de fumo preto durante estes dias, não só por causa dos combates, mas também porque os residentes e as milícias anti-Assad queimaram centenas de pneus, criando assim uma nuvem de fumo espesso com o objectivo de dificultar a intervenção dos aviões e helicópteros russos e da força aérea síria.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Aviação russa impede avanços rebeldes em Aleppo

FÉLIX RIBEIRO
02/08/2016 - 13:43 (atualizado às 17:29)


O regime dependia desde o início do apoio de Moscovo para segurar o cerco à maior cidade do país e o seu aliado parece estar a cumprir. Há suspeitas de um ataque com cloro às mãos do regime.
Residentes nas zonas cercadas de Aleppo incendeiam pneus para impedir novos ataques aéreos. ABDALRHMAN ISMAIL/REUTERS

A grande ofensiva rebelde lançada no fim-de-semana na tentativa de romper o cerco do regime sobre Alepo vinha sendo travada esta terça-feira por uma campanha sistemática de ataques aéreos russos, que não cessaram durante a noite e permitiram que as tropas aliadas de Bashar al-Assad recuperassem a maioria das posições perdidas na véspera.

“Os insurgentes avançaram, mas não chegaram a consolidar as suas posições”, explica à AFP o director do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização oposicionista sediada no Reino Unido, em contacto com uma vasta rede de activistas no terreno. 
As bombas russas, diz, “permitiram ao regime recuperar cinco das oito posições conquistadas pelos rebeldes”.

Mas isto não quer dizer que os rebeldes de Alepo, liderados pelos seus poderosos grupos islamistas, tenham abandonado os esforços de romper as linhas do regime, ou, como muitos dizem ser o seu grande objectivo, cortar as rotas de abastecimento que levam à cidade, centradas no bairro Ramoussa. 
Fala-se em mais de cem mortos nos dois lados.














O regime recapturara na terça-feira o complexo residencial “Projecto 1070”, que chegou a estar sob o controlo rebelde e tem visão desimpedida para as linhas mais vulneráveis do cerco, assim como algumas colinas nos baldios. 
Em troca, numa grande acção concertada, os rebeldes dispararam uma salva de rockets contra a base de artilharia de Alepo, em parte incendiando-a.


A campanha desta semana é tão crucial para Assad como para movimentos rebeldes. 
O Presidente sírio preparava há meses o cerco de Alepo e tem nas linhas da frente perto de cinco mil soldados, incluindo combatentes do Hezbollah libanês e militares iranianos. Para os rebeldes, por outro lado, esta pode ser a última oportunidade de se preservarem em Alepo.































Alguns observadores argumentavam que o desfecho das operações, que se antecipa que possam durar dias, ou até semanas, seriam decididas pela qualidade do apoio aéreo russo, que os residentes de Alepo tentam obstruir queimando dezenas de pneus ao longo do dia, criando uma espessa neblina negra que tolda a visão dos pilotos.

Bombardeamento de cloro?

Médicos e equipas de resgate no lado rebelde do conflito sírio afirmam que uma cidade nos arredores de Alepo, próxima do local onde na segunda-feira um helicóptero russo foi abatido, foi atingida durante a noite de segunda-feira por barris com gás de cloro, que provocaram a hospitalização de cerca de 30 pessoas, a maioria com dificuldades respiratórias.


Os primeiros alertas vieram das equipas de resgate, os Capacetes Brancos, que operam nas zonas rebeldes mas dizem-se independentes – funcionam essencialmente como o mais próximo que existe de serviços médicos de emergência em algumas partes do país. 
A organização divulgou um vídeo em que mostra pessoas a receber oxigénio num hospital improvisado.

Os Capacetes Brancos não atribuíram culpas, mas os rebeldes apontam o dedo ao regime de Bashar al-Assad e à aliada Rússia, que, dizem, pode ter agido como represália pelo abate do seu helicóptero. 
Tanto Assad como os rebeldes são repetidamente acusados de usar químicos como arma de guerra – o cloro é proibido pela Convenção de Armas Químicas.

Segundo as equipas de resgate, os barris foram lançados por helicópteros, operados apenas pelo regime e Moscovo. 
Um médico confirmava-o à BBC esta terça-feira. 
“Sabemos que é cloro porque já fomos atingidos antes e estamos familiarizados com o seu odor e sintomas”, disse Abdel Aziz Bareeh. 
“Temos 28 casos confirmados. 
A maioria são mulheres e crianças.”

Os alegados barris atingiram Saraqeb, nos arredores de Alepo, onde esta terça-feira tropas aliadas a Assad e uma aliança de rebeldes travavam ainda batalhas violentas perto das linhas do cerco do regime. 
Observadores relatam dezenas de vítimas em ambos os lados, para além de civis, mas as linhas territoriais estão mais favoráveis para Damasco, que conseguiu recuperar algum fôlego em redor das suas linhas de aprovisionamento.

A agência estatal SANA respondia esta terça-feira em nome do regime, voltando as acusações contra os rebeldes e dizendo que tinham sido eles a matar cinco pessoas e ferir outras oito na cidade antiga de Alepo com ataques químicos. 
As tropas do regime têm um vasto historial de uso de gás cloro na guerra civil, denunciado por várias agências humanitárias, que, contudo, não estão no terreno. 
Apesar disso, existem registos fotográficos e vídeo de contentores lançados pelo regime.

O mesmo acontece com grupos rebeldes como a ex-Frente al-Nusra, agora Frente Fateh al-Sham, o grupo mais poderoso na ofensiva anti-regime em Alepo, de quem já se suspeitou ter fábricas de armas químicas na vizinha Turquia. 
Os ataques mais devastadores aconteceram nos subúrbios de Damasco, em Agosto de 2013, onde morreram centenas de pessoas – possivelmente perto de 1500, incluindo dezenas de crianças.

O ataque em Ghuta quase precipitou uma intervenção externa comandada pelos Estados Unidos, evitada apenas por intervenção da Rússia, que, juntamente com o aliado sírio, assegurou a destruição dos depósitos de armas químicas do regime, principalmente o agente nervoso sarin, usado neste e outros ataques.


As duas equipas das Nações Unidas enviadas para a Síria para investigar os ataques químicos não atribuíram culpas a rebeldes ou ao regime, como se esperava, mas concluíram que o gás Sarin usado em Ghuta e outros locais proveio do stock de Bashar al-Assad. 
A ONU concluiu que, noutras instâncias, grupos rebeldes usaram pequenas doses de armas químicas.

Rebeldes lançam-se com tudo contra o cerco do regime em Alepo

FÉLIX RIBEIRO
01/08/2016 - 13:43 (atualizado às 19:31)
Artilharia pesada rebelde dispara sobre posições do regime esta segunda-feira OMAR HAJ KADOUR/AFP

Uma grande aliança de facções rebeldes sírias lançou aquilo que vários observadores estão a designar como a ofensiva militar mais violenta de que há memória em Alepo, tentando romper o cerco do regime sobre a cidade, onde cerca de 300 mil pessoas estão aprisionadas. 
As tropas leais a Bashar al-Assad respondiam esta segunda-feira às manobras adversárias com operações aéreas e contra-ofensivas que tentavam anular os avanços rebeldes da véspera.

A ofensiva parece ter sido pensada ainda antes de o regime completar o cerco à zona Leste da cidade, no início de Julho, e nela participam líderes militares vindos das províncias vizinhas de Alepo. 
Ao final do dia de domingo, a primeira jornada da ofensiva, os rebeldes já haviam conquistado algumas zonas urbanas, colocando sob pressão as linhas do regime. 
A sua acção mais visível chegou na manhã desta segunda-feira, com o abate de um helicóptero russo.

O aparelho Mi-8 foi abatido por rebeldes nos terrenos baldios do Sul de Alepo quando regressava de uma missão humanitária, segundo o Ministério da Defesa da Rússia. 
Os cinco tripulantes morreram, fazendo desta segunda-feira o dia mais mortífero para os russos desde que entraram no conflito
Os seus corpos foram arrastados, pisados e maltratados por rebeldes, exibindo-o nas redes sociais minutos depois da queda do helicóptero.






































Ao final do segundo dia de operações ainda não se sabia quantos soldados tinham morrido em ambos os lados dos combates, mas o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido e em contacto com uma grande rede de activistas no terreno, afirma que os confrontos – “os mais violentos de sempre” – fizeram já dezenas de vítimas, provavelmente mais de uma centena. 
Entre civis, assegura, há pelo menos 18 mortos desde domingo, entre eles uma estudante da Universidade de Alepo, atingida esta segunda-feira por um rocket rebelde.

Na grande cidade síria de Alepo, os civis não têm onde se esconder

A cidade acordou sob uma espessa neblina negra criada por dezenas de pneus em chamas, que rebeldes e residentes incendiaram para toldar a visibilidade dos pilotos russos e sírios que bombardeiam diariamente Alepo. 
Aos disparos de armas ligeiras que não se deixaram de ouvir ao longo da noite somaram-se rapidamente os sons de artilharia pesada e de novos ataques aéreos. 
Apesar da violência, centenas de pessoas saíram às ruas para protestar contra o cerco do regime e destruição de hospitais em ataques aéreos.













A situação no terreno é incerta e modifica-se com rapidez. Sabe-se, porém, que os rebeldes conseguiram avançar no final de domingo sobre dois pontos-chave: a escola de Al-Hikmah, que o regime usava como unidade militar; e o complexo de apartamentos conhecido como "Projecto 1070", uma grande rede de edifícios de onde se avista a linha do cerco, que tem uma largura de apenas três quilómetros mas encerra mais de 250 mil pessoas, muitas delas sem acesso a comida ou cuidados médicos.


O regime tentava reagir esta segunda-feira aos avanços rebeldes, enviando dezenas de reforços e tanques avançados para o complexo de apartamentos, sob protecção de artilharia pesada e grandes vagas de ataques aéreos russos. 
Enquanto o faziam – alguns relatos indicavam ao final do dia que pelo menos uma parte do “Projecto 1070” estava de novo nas mãos das tropas leais a Bashar al-Assad – os rebeldes pressionavam outros pontos, conquistando posições a Sul, nas cruciais vias de aprovisionamento do regime.

Julgando pela quantidade de tropas mobilizadas num e noutro lado do conflito – o regime terá perto de cinco mil homens só em Alepo –, as operações podem demorar semanas. 
Os ataques começaram com duas grandes explosões de bombistas-suicidas no domingo, enviados pela ex-Frente al-Nusra, agora Frente Fateh al-Sham, que no final da última semana anunciou um corte com o seu patrocinador jihadista estrangeiro, a Al-Qaeda, embora as ligações organizacionais entre os dois se mantenham fortes.

A aliança rebelde de Alepo inclui uma miríade de grupos armados, alguns deles moderados e apoiados por países como a Turquia, Estados Unidos e França, por exemplo, mas os seus principais actores são a Fateh al-Sham e a sua aliada extremista Ahrar al-Sham, em vários aspectos as duas organizações mais poderosas na região. 
Só a meio da tarde desta segunda-feira é que o principal grupo de oposição no exílio, a Coligação Nacional Síria, apoiou a ofensiva rebelde.

As operações em Alepo comprometem a iniciativa russa de abrir corredores humanitários para a população cercada, por onde passaram apenas algumas dezenas de civis no fim-de-semana. 
Os grandes hospitais de Alepo e mesmo algumas das suas tendas de campanha foram destruídos pelas bombas do regime e várias agências humanitárias dizem que o cerco pode matar milhares de pessoas na cidade. 
“Não precisamos de corredores humanitários”, dizia um civil na zona rebelde, num protesto organizado esta segunda-feira. 
“Precisamos apenas de um que nos leve à liberdade.”