Ao contrário do que acontece no Manchester City, onde Bernardo Silva, apesar de jogar aberto na ala, tem sempre inúmeras linhas de passe próximas, ou seja, apoios próximos de colegas com quem pode combinar, assim como uma dinâmica ofensiva bem trabalhada, na seleção portuguesa a preocupação com a criação de superioridades numéricas era pouca (exemplo na imagem anterior) - e tudo se resumia a dois ou três passes antes de cruzar para área, não tirando qualquer partido da qualidade técnica e criatividade de Bernardo Silva.
Mas era no corredor central que Bernardo Silva deveria ter passado a maior parte do tempo - e este foi o principal erro de Fernando Santos.
“Amarrá-lo” ao corredor lateral direito foi limitar o processo ofensivo da seleção portuguesa, que tanta falta de criatividade demonstrou, principalmente pelo meio.
Com opções de passe em todas as direções, como só no corredor central acontece, o talento de Bernardo Silva poderia ter sido mais devidamente aproveitado - e, consequentemente, a seleção teria bem mais a ganhar em termos ofensivos.
Posicionamentos como os da imagem, com Bernardo Silva no corredor central e linhas de passe à sua direita, esquerda e dentro do bloco defensivo adversário, tinham aumentando muito a qualidade do ataque posicional de Portugal, porque tinham permitido a Bernardo demonstrar que é, de longe, o jogador com mais atributos técnicos e cognitivos para jogar em zonas onde o espaço e o tempo para pensar e executar são menores.
Lances como este representado na imagem podiam e deviam ter surgido mais vezes nos jogos disputados no Mundial, mas, para isso, era preciso que Bernardo Silva tivesse passado mais tempo no corredor central, em vez de estar quase sempre no corredor lateral direito.
Ninguém percebe tão bem como ele os timings de soltar a bola nem o contexto que o rodeia e, por isso, dar-lhe condições para combinar, decidir e progredir pelo corredor central tinham transformado para melhor o futebol praticado pela seleção portuguesa.
Não era exigido a Fernando Santos que apresentasse um modelo de jogo de excelência, mas não é desculpável que não tenha percebido como utilizar da melhor maneira o talento que tinha ao seu dispor.
É à volta de jogadores como Bernardo Silva que a seleção portuguesa tem que construir o seu futuro.
É fundamental criar condições coletivas ao nível do modelo de jogo para que a qualidade técnica, inteligência e criatividade destes jogadores - os “Bernardos” desse Portugal fora - sejam potenciadas ao máximo, pois só assim podemos voltar a ser uma seleção que pratique um futebol de qualidade.
Porque ganhar não é o oposto de praticar bom futebol.
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