quarta-feira, 25 de julho de 2018

O casal que ficou noivo em Portugal e as gémeas desaparecidas: as histórias tristes por detrás dos incêndios

GRÉCIA
Mariana Fernandes   25 de Julho de 2018
Brian e Zoe ficaram noivos em Portugal e casaram na passada quinta-feira: ele está desaparecido, ela está no hospital





















Um casal que ficou noivo em Portugal separou-se na fuga, duas gémeas estão desaparecidas, uma menina de 13 anos morreu depois de saltar de um penhasco. 
As histórias por detrás dos incêndios na Grécia.

Com o passar dos dias, com o fogo já extinto, com o número de mortos a aumentar e o de desaparecidos a continuar incógnitos, começam a surgir várias histórias sobre sobreviventes e vítimas mortais dos incêndios na Grécia. 
Logo na terça-feira, assim que o mundo se apercebeu da tragédia que tinha acabado de acontecer nos arredores da capital grega, soube-se que 26 pessoas tinham morrido abraçadas enquanto tentavam chegar ao mar ali tão perto para fugir às chamas. 
Mas as histórias de pânico não ficam por aí.

O casal que ficou noivo em Portugal e se separou na fuga
No ano passado, Zoe Holohan e Brian O’Callaghan-Westropp ficaram noivos em Portugal depois de vários anos de namoro. 
Zoe, uma publicitária, e Brian, um gestor de recursos humanos, casaram na passada quinta-feira em Dublin, na Irlanda, e estavam de lua de mel na região balnear de Mati, a zona mais fustigada pelos incêndios. 
De acordo com o Daily Mail, o casal de irlandeses separou-se enquanto fugia das chamas: Zoe foi encontrada viva mas com graves queimaduras e permanece no hospital, onde está consciente e a recuperar; já Brian permanece desaparecido.

“O facto de não haver notícias são boas notícias. 
Ninguém sabe de nada e isso têm de ser boas notícias. 
Estamos a agarrar-nos à esperança de que o Brian está num hospital e ainda não foi capaz de falar. 
É tudo aquilo por que podemos esperar”, disse um amigo do casal ao Daily Mail.

Os pais que viram as filhas na televisão mas não as encontram

Sophia e Vasiliki são duas irmãs gémeas, de nove anos, que estavam a passar férias com os avós em Rafina, uma outra das zonas afetadas pelos incêndios. 
Na segunda-feira à noite, depois da angústia de não saber se as filhas tinham ou não conseguido escapar, Giannis Filipopoulos, o pai suspirou de alívio quando viu as duas gémeas a entrar num barco de resgate através da televisão.

Giannis e a mulher dirigiram-se ao porto que tinha aparecido na televisão mas não conseguiram obter qualquer informação; aliás, o registo da passagem das duas meninas naquele local nem sequer existia. 
Procuraram nos centros de triagem, nos hospitais e até no instituto de medicina legal, onde cruzaram o ADN das duas crianças com o das vítimas mortais até aí encontradas: não houve qualquer correspondência. 
Quando regressaram a casa, voltaram a ver as filhas na televisão – desta vez, Sophia e Vasiliki surgiam de fato de banho, enroladas num cobertor e acompanhadas por um outro casal de adultos.

Os pais das duas irmãs gémeas decidiram contactar o canal de televisão e emitir um pedido de ajuda, onde imploravam ao casal que acompanhava as crianças que os contactasse. Além de Sophia e Vasiliki, também os avós, com quem estavam a passar férias, estão desaparecidos.


"Se não acontecer um milagre, muitas pessoas vão ser queimadas”, escreveu o chef na rede social, acrescentando um vídeo que mostrava as chamas – na altura, ainda longe. 
O Greek Chefs Club, a que Kokkinidis pertencia, já emitiu um comunicado onde afirma que não é descritível “a tristeza e dor devido à perda injusta”, sublinhando que se tratava de “uma pessoa maravilhosa com valores éticos, um grande profissional e, acima de tudo, um homem de família”.

A menina de 13 anos que morreu depois de saltar de um precipício para fugir às chamas

“Eu estava aqui desde o primeiro momento. 
Tive de entrar dentro de água para fugir às chamas. 
De repente, vi uma menina a voar, saltou do precipício. 
Caiu à minha frente. 
Saltou de 15 metros, bateu no chão e morreu ali. 
Não viu nada com o fumo. 
Não podia ter visto nada”. 
Este é o testemunho de Marey, a mulher grega que viu Evita Fytro, de apenas 13 anos, atirar-se de um penhasco para fugir às chamas.

Os jornais gregos – que revelam que Evita era um prodígio do ciclismo, com vários títulos nacionais e internacionais – indicam que a mãe da jovem foi a única sobrevivente da família, por estar a trabalhar em Atenas. 
O pai, Gregory, e o filho mais novo, Andreas, de 11 anos, foram encontrados carbonizados junto ao carro.

Incêndios na Grécia. O que correu mal

INCÊNDIOS
Manuel Pestana Machado  25/7/2018, 9:16
Estes são os piores incêndios na Grécia nos últimos 10 anos

Condições climatéricas, fogo posto, resposta das autoridades e falta de prevenção estão a ser investigadas pelo procurador no supremo tribunal grego como principais causas para os incêndios.

Para o procurador no supremo tribunal de justiça grego Xeni Dimitriou, como revela o jornal helénico Ekathimerini, o culpado pode ser o Estado. 
Depois de indícios de que as autoridades gregas foram lentas a responder ao apelo dos cidadãos afetados e da falta de planos de emergência para este cenário, o procurador grego começou uma investigação para apurar as causas deste incêndio que já fez pelo menos 80 mortos, dezenas de feridos e muitos ainda desaparecidos.

Até agora, além do número de mortos que continua a subir, mais de 1500 casas foram destruídas por estes incêndios. 
Ao todo, 2100 hectares de floresta arderam. 
Veja aquelas que estão a ser apontadas como principais causas.

1 - Condições Climatéricas
É o ano mais quente registado na Grécia. 
Depois de um inverno particularmente seco que a Grécia atravessou, como noticia o The Guardian, as atuais temperaturas de 40 graus em algumas partes do país e os fortes ventos registados no momento dos incêndios levaram à rápida propagação das chamas.

Mas para já, Nikos Charalambides, responsável pela associação Greenpeace Grécia, afirma que é “precipitado” dizer que as “alterações climáticas e falhas na prevenção de combate às chamas” são a causa deste desastre.

2 - Resposta das autoridades
700 pessoas correram em direção às praias e entraram na água para escapar às chamas. Mesmo com equipas da proteção civil grega a montarem postos de entrega de comida e auxílio em Mati, Rafina e Kineta esta terça-feira, sobreviventes e munícipes afirmam que a resposta não foi célere e que foi desorganizada.

3 - Fogo posto
Esta é uma das razões apontadas pelo executivo de Tsipras. 
A existência de 15 focos de fogos a começarem em simultâneo aponta para uma causa difícil de controlar, fogo posto.

Um porta-voz do governo grego deu como exemplo que estes focos de incêndios surgiram em três frentes distintas em Ática, o que levou o país a pedir aos Estados Unidos um drone para averiguar toda “a atividade suspeita”, como noticia o El País
Esta suspeita é sustentada pela especulação imobiliária, pelo desejo de construir em zonas florestas ou de criar parques eólicos nas zonas afetadas.

4 - Falta de prevenção
Apesar de o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ter dito esta terça-feira que “os porquês” devem ser investigados “quando  for a altura certa”, com a oposição a afirmar o mesmo, a responsabilidade pode – também — estar na falta de prevenção. 
Em 2009, o governo de Kostas Karamanlís teve o que seria o início da queda dessa executivo devido à fraca resposta das autoridades pela aos incêndios florestais desse ano .
Como noticia o El Pais, em fevereiro de 2017 quatro mil bombeiros cessaram os contratos que tinham com o Estado grego. 
Depois de o governo pedir uma votação no parlamento, apenas metade destes bombeiros tiveram os contratos renovados.

Vários meios noticiosos e municípios afirmam ainda que as autoridades não tinham um plano de emergência para uma situação como a que ocorreu. 
Esta causa aliada à falta de um plano nacional de organização florestal poderá ter contribuído para o elevado número de mortes.

77 mortos e 187 feridos. O “Inferno negro” na Grécia, a fuga para o mar e uma vila que “desapareceu”

GRÉCIA
Nuno André Martins e Gonçalo Correia
24 de Julho de 2018
Os incêndios na Grécia obrigaram ao corte de uma autoestrada, perto de Atenas


















Número de mortos subiu de 74 para 77 e as autoridades esperam que volte a subir. Há mais de 100 desaparecidos e as forças no terreno ainda têm de verificar mais de mil casas.


Os bombeiros gregos encontraram os corpos de mais três pessoas em Mati, vítimas dos incêndios que lavram desde segunda-feira na localidade nos arredores da capital da Grécia, aumentando o número de vítimas mortais para 77, dos 74 que as autoridades haviam anunciado às 15h00, hora de Lisboa, de acordo com a imprensa grega. 
As autoridades esperam que o número de vítimas mortais volte a aumentar numa altura em que continuam a verificar as casas na localidade, mas ainda só terão conseguido chegar a menos de um terço das 1.500 casas na zona. 
Havendo registo de quase 190 pessoas feridas e pelo menos 100 pessoas desaparecidas.

Pelas 15h00, hora de Lisboa, o porta-voz dos bombeiros Stavroula Malki, anunciou que o número de mortes tinha chegado aos 74. 
No entanto, as autoridades continuaram a verificar uma a uma, mas só terão chegado a 450 das 1.500 casas do lugar onde os residentes da capital aproveitam alguns dias de férias.

O número de vítimas mortais aumentou para 77, depois de as autoridades terem encontrado mais três pessoas sem vida na verificação que está a ser feita na localidade. 
As autoridades esperam que o número de vítimas mortais aumente e ainda há mais de 100 pessoas desaparecidas.

Há também registo de 187 feridos, dos quais 164 adultos e 23 crianças. 
Destes, apenas cerca de 70 permanecem nos hospitais gregos. 
Das 23 crianças feridas, 12 já receberam alta.

“Infelizmente encontrámos 26 corpos carbonizados”, confirmou o presidente da Cruz Vermelha grega, Nikos Economopoulos, citado pelo jornal de Atenas Kathimerini, a propósito das 26 vítimas mortais encontradas esta terça-feira. 
Muitas das vítimas ficaram encurraladas na estância balnear de Mati, a 40 quilómetros da capital, e foram apanhadas pelas chamas nas suas casas e nos seus carros.

“Fui informado por um elemento das operações de resgate de uma fotografia chocante que mostrava 26 pessoas num campo situado a 30 metros da praia” de Mati, apontou Nikos Economopoulous à televisão grega Skai, esta terça-feira. 
“Tentaram encontrar uma rota de fuga mas infelizmente estas pessoas e as suas crianças não conseguiram encontrá-la a tempo”, disse ainda o responsável.


[Os incêndios na Grécia vistos em imagens aéreas. O vídeo foi divulgado pelo Ministério da Defesa grego:]

Teme-se que o número de mortes seja ainda maior, uma vez que os serviços de emergência continuam a receber telefonemas a alertar para o desaparecimento de pessoas. 
Os próprios bombeiros alertaram para essa possibilidade.

Segundo o jornal britânico The Guardian, as 26 vítimas mortais encontradas esta segunda-feira estavam “agarradas umas às outras, de forma firme”. 
O El País usa a expressão “abraçadas”. 
De acordo com uma agência de viagens polaca, citada pela Sky News, uma mulher polaca e o seu filho estavam entre um grupo de dez pessoas que se afogou quando o barco em que a polícia marítima grega os colocou para fugirem de Mati naufragou.























Um bombeiro tenta apagar um incêndio em Kineta, perto de Atenas

Os incêndios devastaram casas, destruíram viaturas e obrigaram a diversas evacuações, com as autoridades a declararem o estado de emergência e a pedirem ajuda europeia. 
Os principais focos de incêndio encontram-se na cidade costeira de Mati, em Kineta e em Nea Makri. 
Desde que os incêndios começaram a alastrar, centenas de crianças foram já evacuadas de campos de férias em Mati. 
As chamas levaram a que muitos turistas e também cidadãos gregos fugissem do fogo para as praias a leste de Atenas.

O pedido formal de ajuda à União Europeia para envio de meios foi endereçado ao final da tarde de segunda-feira. 
O governo grego pediu helicópteros e meios humanos aos restantes países. 
Chipre, Espanha, Alemanha, Itália, Polónia, França e Portugal já acederam aos pedidos de ajuda. 
Ao todo, já foram resgatadas perto de 700 pessoas de refúgios que encontraram para resistir aos incêndios.


“É uma noite difícil para a Grécia. 
Todos os serviço de emergência foram mobilizados. 
Vamos fazer tudo o que for humanamente possível para controlar isto”, disse na segunda-feira o primeiro-ministro Alexis Tsipras, que antecipou o seu regresso para Atenas, depois de uma viagem à Bósnia-Herzegovina, para acompanhar a situação a partir do Centro de Coordenação Unificado.

Já o ministro da Administração Interna (Ordem Pública), Nikos Toskas, pediu cautela aos cidadãos e sugeriu que os incêndios podem ter sido ter mão criminosa este é o pior verão de incêndios na Grécia desde o verão de 2007, quando mais de 80 pessoas morreram na sequência de chamas que alastraram entre final de junho e início de setembro. 
Os incêndios deste ano, contudo, poderão ser mais graves: em apenas dois dias, registam-se já meia centena de mortos.

Costa e Marcelo enviam condolências

O presidente da República e o primeiro-ministro de Portugal já reagiram aos incêndios que causaram pelo menos 77 mortes na Grécia. 
Em nota publicada no site da Presidência, lê-se que Marcelo Rebelo de Sousa “falou longamente ao telefone com o presidente Prokopis Pavlopoulos, expressando as mais sentidas condolências aos familiares das vítimas mortais, bem como votos de rápidas melhoras a todos os feridos”.
[O Presidente da República] transmitiu ainda a sua profunda e fraterna solidariedade para com o povo grego, lembrando a tragédia do mesmo tipo que também vivemos em Portugal no ano passado.
Já António Costa reagiu no Twitter. 
O primeiro-ministro revelou já ter transmitido ao seu homólogo grego, Alexis Tsipras, “a disponibilidade e a solidariedade portuguesas e as condolências ao povo grego e às famílias enlutadas”.

Também Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, enviou uma mensagem de solidariedade através do Twitter.


































“Felizmente o mar estava ali”

Centenas de bombeiros continuam a tentar controlar os grandes incêndios que assolam a Grécia desde o início da tarde de segunda-feira, mas os trabalhos estão a ser dificultados por ventos fortes.

Um dos sobreviventes dos incêndios, Kostas Laganos, contou que foi precisamente o mar que o salvou. 
Laganos estava na zona costeira de Mati quando as chamas se aproximaram. 
“Felizmente o mar estava ali e fomos para o mar, porque as chamas perseguiam-nos até à água. 
As chamas queimaram-nos as costas mas mergulhámos para o mar… 
Disse: meu Deus, temos de correr para nos salvarmos”, afirmou o residente, citado pela BBC.

Mati, situada na região grega de Rafina-Pikermi, foi a localidade mais afetada pelos incêndios. 
Popular entre turistas e jovens, que ali se deslocam durante as férias de verão, o município é presidido por Evangelos Bournous. 
Em declarações à imprensa grega, este político afirmou que viu “pelo menos 100 casas em chamas” e que o foco de incêndio na região é “uma catástrofe total”.

Um bombeiro tenta extinguir as chamas numa habitação em Kineta, perto de Atenas. 


Um dos incêndios, em Kineta, a cerca de 50 quilómetros de Atenas, obrigou à evacuação de três localidades, reduzindo a cinzas numerosas casas e motivando o encerramento de dezassete quilómetros da autoestrada de Olímpia, que liga a capital a Peloponeso. 
O primeiro foco de incêndio a alastrar na Grécia terá surgido precisamente perto de Kineta.


[Como o primeiro foco de incêndio alastrou em Kineta, na Grécia:]

O verão na Grécia tem sido quente, com as temperaturas máximas a superarem em alguns os dias os 40ºC. 
Nos últimos dias, as temperaturas máximas na Grécia superaram os 30ºC. 
A junção de temperaturas altas, ventos fortes e uma zona costeira (Mati) com vegetação densa estão a fazer destes incêndios uma verdadeira tragédia no país.

O cenário no município de Rafina, já esta terça-feira. A região abrange a zona costeira de Mati, a mais afetada pelos incêndios que alastram na Grécia desde segunda-feira 

No combate às chamas, as autoridades gregas apelaram aos residentes das áreas mais afetadas para abandonarem as suas casas. 
Alguns tentaram resistir. 
“As pessoas deviam fugir, deixar as suas casas e partir. 
É impossível tolerar tanto fumo durante muitas horas. 
Isto é uma situação extrema”, apontou um dos porta-vozes dos bombeiros gregos, Achilleas Tzouvaras.


“É um Inferno negro”

Kostas Koukoumakas, jornalista presente na localidade turística de Mati, descreveu o cenário que observou: “O que está a acontecer aqui é um inferno negro. 
Depois de ter passado por centenas de carros e casas em chamas, cheguei ao pátio em que, segundo a polícia, muitas pessoas [26] foram encontradas mortas”.

Consegui ver algumas pessoas deitadas no chão, enquanto a névoa cobria o local e um cheiro tóxico estava espalhado pela atmosfera”, referiu ainda.

Kostas Koukoumakas refere que muitas das vítimas encontradas esta terça-feira eram “turistas que tentavam encontrar refúgio mas não conseguiram”. 
O jornalista encontrou ainda um popular, Spiros Hatziandreou, no local, que lhe disse estar a tentar ligar a um primo. 
“Mas ele não responde.” 
Koukoumakas viu “chamas nas árvores e pilares de eletricidade por todo o lado. 
Depois disto, a polícia bloqueou o acesso a toda a gente, exceto equipas de resgate”.



Ouvida pela estação de televisão grega Skai TV, uma mulher presente em Mati afirmou: “Mati já nem sequer existe como povoação neste momento. Vi corpos, carros queimados. Sinto-me sortuda por estar viva”.
[A Organização Internacional de Meteorologia revelou uma imagem de satélite de Kineta, a localidade onde surgiu o primeiro grande foco de incêndio na Grécia:]
Here is @CopernicusEU Sentinel-2 satellite image of the deadly fires near Athens that killed dozens. Our thoughts are with victims and families in #Greece ????????. pic.twitter.com/lLP9emCqJw — WMO | OMM (@WMO) July 24, 2018
“É terrível veres alguém ao teu lado afogar-se”

Nikos Stavrinidis foi um dos sobreviventes que se refugiou no mar, na vila costeira de Mati. Num testemunho recolhido pela agência de notícias Associated Press, citado pela Sky News, Stavrinidis conta como viveu os acontecimentos: “O fogo apareceu muito rapidamente. 
O vento era indescritível, era incrível. 
Nunca tinha visto nada assim. 
Caímos ao mar e tentámos afastar-nos [das chamas], evitar o dióxido de carbono… mas, à medida que avançávamos, havia muito vento que nos puxava contra a costa. 
Não conseguíamos ver bem onde estávamos.
O que me cheateia e que levarei para sempre no meu coração é a sensação terrível de ver a pessoa que está ao lado afogar-se e não ser capaz de a ajudar. Não conseguir. Isso é a única coisa trágica — ficará comigo para sempre”, acrescentou o sobrevivente.
Críticas à resposta das autoridades: “Não havia um plano”

Esta terça-feira, foram vários os populares que criticaram a resposta das autoridades aos incêndios, argumentando que os bombeiros e a Proteção Civil dedicaram demasiada atenção ao primeiro incêndio em Kineta e ignoraram em demasia o perigo do foco de incêndio posterior, na vila turística de Mati. 
Foi aí que esta terça-feira foram encontradas 26 vítimas mortais.

O jornal inglês The Guardian cita um depoimento de uma residente em Mati, “Christina”, à rádio helénica Thema 104.6, em que esta dizia que as autoridades “não tinham plano” de resposta. 
“Nem uma gota de água foi atirada para as chamas porque eles estavam concentrados na zona ocidental. 
É por isso que as pessoas arderam. 
Ninguém foi informado por ninguém”, acrescentou a local.
Estivemos a ver o incêndio desde o primeiro momento. Não era enorme. Desceu [das montanhas] em duas horas. É mentira que tenha descido em meia hora. Havia tempo [para responder], não havia era plano de resposta. Nem mesmo um plano de fuga. Fomos salvos por um ‘fio de cabelo’. Fui ter com algumas pessoas, conseguimos desviar o trânsito e ficar em segurança.”

Portugal disponibilizou 50 bombeiros

Também na Suécia têm-se registado incêndios de grande dimensão, causando a morte de uma pessoa e provocando dezenas de feridos. 
Portugal enviou dois aviões para ajudar no combate aos incêndios no país. 
Quanto à Grécia, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou aos jornalistas que o Governo disponibilizou-se a “enviar para já cerca de 50 elementos da Força Especial de Bombeiros” para ajudar no combate aos incêndios.
Portugal está com os valores europeus em todos os domínios, quer na disciplina financeira, quer no acolhimento de refugiados, quer no apoio aos países que precisam a cada momento de auxílio em matéria de incêndios florestais”, disse Eduardo Cabrita.
“Fizemos uma avaliação com grande urgência compreendendo a situação dramática que está a acontecer na Grécia. 
A decisão operacional e política está tomada, foi já comunicada ao mecanismo europeu de Proteção Civil. 
Estamos neste momento a tratar das questões logísticas e [os bombeiros] partirão entre hoje [terça-feira] e amanhã“, quarta-feira, acrescentou Eduardo Cabrita. 
Lembrando que Portugal também recebeu no verão passado a “solidariedade de países amigos”, o antigo autarca afirmou que, depois dos incêndios do ano passado, “Portugal dotou-se dos meios necessários para responder às necessidades no plano interno e também para termos meios que, estando disponíveis, possam ser utilizados no âmbito da solidariedade europeia”.

Horas antes, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse à Agência Lusa que “até ao momento, não há nenhuma notícia de qualquer português que esteja incluído no número de vítimas mortais ou dos feridos ou desaparecidos”. 
O ministro lamentou ainda “em nome do Governo português” os “trágicos incêndios que assolam a região de Atenas” e transmitiu “solidariedade”. 
“Sabemos bem, por experiência própria, quão trágicos podem ser os incêndios florestais desta magnitude“, apontou ainda.





































Já esta tarde, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Luís Carneiro disse que o Governo estima que estejam perto de mil portugueses na Grécia, somando aos cerca de 700 que lá residem aqueles que estarão neste momento no país de férias. 
O número é apenas uma estimativa, apontou o secretário de Estado, que afirmou não ter ainda dados que indiquem que há mortos ou feridos portugueses entre os afetados pelos incêndios.

Eduardo Ferro Rodrigues, presidente do parlamento português, enviou uma missiva ao presidente do parlamento grego, Nikolaus Voutsis. 
Ao seu homólogo, Ferro Rodrigues declarou ter tomado conhecimento da tragédia ocorrida em Mati “com profunda consternação”.

Portugal, Nação que tanto tem sofrido com a tragédia dos fogos florestais, sente de perto a dor do povo grego. 
Em meu nome e da Assembleia da República, apresento às autoridades gregas e às famílias enlutadas as nossas condolências e a expressão da nossa mais sentida solidariedade. 
Queira aceitar, senhor Presidente, a expressão da minha mais elevada consideração e amizade.”

Bruxelas solidária. 
“Hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário”
Numa carta enviada a Alexis Tsipras, Jean-Claude Juncker garantiu que a Comissão Europeia, instituição a que preside, fará “tudo o que for possível para apoiar” a Grécia. “Hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário”.

A carta de Juncker na íntegra:

“Foi com o coração pesado que soube que muitas pessoas perderam tragicamente a vida nos incêndios devastadores em Atenas, na Grécia.

Em nome da Comissão Europeia, queria expressar as minhas sinceras condolências às famílias e aos amigos das vítimas.

Durante estes tempos difíceis, estaremos ao lado do povo e das autoridades gregas. 
Elogio ainda os esforços incansáveis e corajosos das equipas de emergência. 

Vamos fazer todos os possíveis para garantir apoio hoje, amanhã e pelo tempo que for necessário.


Pedi ao Comissário do gabinete de Gestão de Crise e Ajuda Humanitária, Christos Stylianides, que entrasse imediatamente em contacto com as autoridades da Proteção Civil grega. 
Ele informou-me que já foi mobilizada ajuda — incluindo aviões e equipas de combate aos fosso. 
O Comissário viajará para Atenas hoje. 
Gostava também de agradecer aos relevantes Estados-membros pela sua solidariedade contínua demonstrada neste assunto”.

terça-feira, 24 de julho de 2018

A Grécia como Pedrógão Grande: as imagens da tragédia

GRÉCIA
Paula Freitas Ferreira  
24 Julho 2018 18:16

O presidente da câmara de Rafina-Pikermi, onde fica Mati, a aldeia costeira onde foram encontrados as vítimas mortais entre vários carros carbonizados, disse ter visto "pelo menos 100 casas em chamas": "eu vi com os meus olhos - é uma catástrofe total", contou

Grécia arde. 
As imagens que nos chegam de Mati, uma aldeia costeira a 40 quilómetros de Atenas, na região de Rafina - onde morreram 26 pessoas, apanhadas desprevenidas pelo fogo -, traz à memória Pedrógão Grande e as vítimas mortais portuguesas do verão passado. 
O último balanço das autoridades gregas aponta para 74 vítimas mortais e 187 feridos. 
Os incêndios florestais perto de Atenas são os piores na história da Grécia desde 2007.























Os corpos de 26 dos mortos - muitos deles amontoados - foram descobertos na aldeia costeira de Mati na manhã desta terça-feira. 
Várias pessoas ficaram "presas nas chamas" enquanto tentavam fugir para o mar.






















Mais de meio milhar de bombeiros lutaram contra cinco grandes incêndios florestais na Grécia, disse uma autoridade do setor.
























Cinco monstros de fogo
Um incêndio deflagrou a leste de Atenas, perto de Kineta; outro a oeste de Atenas, em Kallitexnoupolis, perto de Mati; um perto de Corinto e dois em Creta na região de Chania.
























A busca por pessoas desaparecidas está a ser realizada por patrulhas compostas por elementos das Forças Armadas e do Corpo de Bombeiros nas áreas de Neos Voutzas, 
Mati e Rafina.

























Os vários incêndios que deflagraram na segunda-feira na Grécia envolveram alguns dos monumentos do país numa nuvem de fumo à mistura com muito calor. 

A Acrópole de Atenas foi encerrada por razões de segurança.
























A fuga para o oceano: moradores relataram cenas angustiantes quando as chamas envolveram Mati e a única saída era correr para a água. 

Muitos morreram na fuga.


























Os dois incêndios florestais nas proximidades de Atenas levaram centenas de pessoas, incluindo turistas, a correr para as praias para serem evacuadas por navios da Marinha, iates e barcos de pesca, onde várias equipas de resgate e voluntários ajudaram os moradores a fugir de Mati.


Uma mulher tenta encontrar o seu cão no meio de carros carbonizados em Mati. 
Outros moradores procuram documentos que ficaram dentro de carros carbonizados. 
"Mati já nem existe", disse uma das moradoras à Skai TV.




Mais de 600 bombeiros, cinco aviões e dois helicópteros foram mobilizados para enfrentar a situação "extremamente difícil" devido às fortes rajadas de vento, disse o chefe dos bombeiros de Atenas.


Evangelos Bournous, presidente da câmara de Rafina-Pikermi, disse à Sky News que viu "pelo menos 100 casas em chamas", acrescentando: "Eu vi com os meus olhos - é uma catástrofe total". 
O estado de emergência já foi declarado pelas autoridades regionais.

"Esta é uma situação extrema", disse um dos bombeiros mais experientes, Achilleas Tzouvaras, que aconselha a população a fugir. 
"As pessoas não podem tolerar tanto fumo durante tantas horas".

Centenas de pessoas tentam, assim, fugir das áreas afetadas pelos fogos.
























O primeiro-ministro Alexis Tsipras afimou que o Governo grego está a fazer tudo o que "é humanamente possível para combater estes incêndios" e o país já anunciou que vai pedir ajuda à União Europeia para combater os fogos, os mais graves dos últimos dez anos.