sexta-feira, 21 de outubro de 2016

População civil começa a fugir dos arredores de Mossul

PÚBLICO
19/10/2016 - 19:43


ONU estima que nas primeiras semanas da ofensiva 200 mil pessoas fiquem deslocadas. No total, um milhão poderá precisar de ser alojada.
Iraquianos deslocados numa aldeia nos arredores de Mossul ALAA AL-MARJANI/REUTERS

Enquanto as tropas iraquianas avançam sobre os arredores de Mossul, retomando aldeias limítrofes, a população civil começou a fugir. 
Responsáveis da ONU já tinham alertado para um êxodo de civis durante a batalha pela reconquista da grande cidade do Norte do Iraque ao Estado Islâmico.

Até agora, a actividade militar tem tido lugar em zonas mais desertas, mas as Nações Unidas temem o que acontecerá quando os combates chegarem perto de zonas densamente povoadas, disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric. 
“Estimamos que possam ficar deslocadas 200 mil pessoas nas primeiras semanas da ofensiva, e até um milhão na pior hipótese”, declarou, citado pela agência francesa AFP.

Até agora, as preocupações em relação aos civis que estão em Mossul sob domínio do Estado Islâmico, prendiam-se mais com uma possível tentativa dos islamistas não deixarem sair os civis e os estarem a manter em locais que deverão ser bombardeados. Há acusações, por parte dos Estados Unidos, de que estão a ser usados como escudos humanos.

O Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) está a preparar cinco campos na área com capacidade para 45 mil pessoas e espera conseguir chegar a onze nas próximas semanas, aumentando a capacidade para 120 mil pessoas. 
Mesmo assim, não chega ao que será necessário segundo as estimativas.

Mas se a ONU diz que para já não houve movimentações importantes, a organização não-governamental Save the Children afirma que cerca de 5000 pessoas passaram do Iraque para a Síria nos últimos dez dias, chegando a um campo de refugiados que já está com muito mais pessoas do que a sua capacidade - as condições são deploráveis, diz a organização. 
A ONU diz que algumas destas novas chegadas poderão ser sírias e não relacionadas com os acontecimentos de Mossul. 
O campo tem capacidade para 7500 pessoas mas alberga neste momento nove mil.

“Estas famílias chegam sem nada, apenas com a roupa que têm no corpo”, descreveu Tarik Kadir, responsável da Save the Children em Mossul. 
“O campo está a rebentar pelas costuras”, continuou. 
“As condições aqui estão entre as piores que já vimos, e esperamos que em breve mais milhares de pessoas estejam a caminho.”

Os residentes de Mossul receberam conselho do Governo iraquiano para se manterem na cidade. 
As autoridades de Bagdad temem que haja estradas armadilhadas para impedir o avanço das suas tropas.

O Presidente norte-americano, Barack Obama, mostrou-se preocupado com a falta de possibilidade dos habitantes de Mossul fugirem aos confrontos. 
“Se não formos capazes de ajudar as pessoas comuns na sua fuga do ISIL [o EI], isso torna-nos vulneráveis a um possível regresso” dos jihadistas, declarou, citado pela emissora britânica BBC. 

Omar Ali Hussein foi um dos que decidiu – e conseguiu – escapar. 
“A nossa vida era muito difícil, todos os dias eles matavam alguém”, contou ao diário britânico The Guardian. 
Na terça-feira, Omar e a sua mulher, que é deficiente, conseguiram sair. 
“Estivemos cercados dois dias, porque o Daesh tinha atiradores furtivos”, contou.

Mas estes foram entretanto embora. 
Outros habitantes que ainda estão na cidade contaram, sob anonimato, como alguns dos combatentes do Daesh largaram postos de controlo e tentaram misturar-se com a população civil. 
“Cerca de 25 combatentes mudaram-se para casas vazias de cristãos e xiitas, tomando posição nestas casas”, contou um habitante.

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