Os seus aviões e os da Rússia bombardeiam dia e noite os bairros do Leste de Alepo, provocando o repúdio de governos e organizações internacionais.
Mas Bashar al-Assad não cede, garantindo que é preciso “continuar a limpar” a grande cidade do Norte da Síria para expulsar os terroristas e vencer a guerra.
Neste sábado, os chefes da diplomacia da Rússia e Estados Unidos voltam a encontrar-se para falar da Síria, mas Sergei Lavrov diz não ter “grandes expectativas” sobre a reunião com John Kerry.
À mesma hora em que o jornal russo Komsomolskaya Pravda publicava a entrevista com o Presidente sírio, vários bairros controlados pela oposição síria estavam novamente debaixo das bombas.
É assim há três semanas, ainda com maior intensidade desde o início da semana.
“Há quatro dias que não vou à cama por causa dos bombardeamentos”, contou à AFP Ibrahim Laith, socorrista da organização Capacetes Brancos, depois de uma noite e manhã passada a retirar gente dos escombros, a levar vivos e mortos para os hospitais.
“A violência destes raides mostra que há uma decisão russa para tomar o Leste de Alepo, não importa a que preço”, disse à agência Rami Abdurrahman, director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que conta já 150 mortos na zona só esta semana (370 desde o início da ofensiva, a 22 de Setembro).
Uma interpretação reforçada pelas palavras de Assad, que voltou novamente a mostrar-se convicto de que tem forças capazes de vencer a guerra, a começar por Alepo.
“Temos de continuar a limpar a área e empurrar os terroristas para a Turquia, para voltarem ao sítio de onde vieram ou então para os matar.
Não há outra opção”, afirmou o Presidente sírio, acrescentando que a grande cidade “vai ser o trampolim” que permitirá ao Exército “avançar para outras áreas”, numa aparente referência à província de Idlib, a única que a rebelião ainda domina.
E no mesmo dia em que o Presidente russo, Vladimir Putin, ratificou o acordo para usar “por tempo indeterminado” a base aérea de Hmeimim, o jornal Guardian noticiou que os governos ocidentais temem que o Leste de Alepo, cercado desde o Verão e onde vivem ainda cerca de 250 mil pessoas, possa ser tomado até ao Natal – o enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, disse na semana passada que se os ataques aéreos continuarem a este ritmo toda a zona terá sido arrasada até ao Natal.
É face a este cenário de desespero que Kerry se encontra em Lausanne com o homólogo russo, 12 dias apenas depois de os EUA terem decidido suspender todos os canais diplomáticos existentes entre os dois países para tentar encontrar uma solução política para a Síria.
Mas pouco se espera da reunião, onde vão estar também representantes da Turquia, Arábia Saudita e Qatar.
Lavrov já avisou que não vai levar à Suíça nenhuma nova iniciativa, dizendo que continua à espera que os ocidentais cumpram compromissos anteriores.
E a capacidade do secretário de Estado norte-americano para forçar compromissos é mínima, face à convicção generalizada de que a Administração Obama, em fim de mandato, não fará nada que a coloque em confronto militar directo com a Rússia.
O melhor resultado da reunião seria um acordo para uma trégua humanitária de três ou quatro dias em Alepo, mas mesmo esse acordo mínimo é, assim, difícil.
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