António Caeiro, correspondente em Pequim
08.07.2017 às 18h00
Xi Jinping esteve com Putin antes do G20 e demarcaram-se de Trump quanto à Coreia do Norte.
Tensão no Mar da China
China convidou especialistas alemães e norte-americanos a integrar a equipa de “reputados oncologistas” que está a tratar o mais famoso dissidente chinês e Prémio Nobel da Paz, Liu Xiaobo, num hospital de Shenyang.
O anúncio do convite coincidiu com a chegada à Alemanha do Presidente chinês, Xi Jinping.
Preso desde 2008, condenado a onze anos de prisão por “atividades subversivas”, Liu Xiaobo saiu da cadeia há dez dias, em regime de “liberdade condicional médica”, depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro no fígado em fase terminal.
Organizações de defesa dos direitos humanos pediram que Liu Xiaobo fosse tratado fora da China, mas segundo as autoridades, não estará em condições de viajar.
O seu estado de saúde, entretanto, piorou, indicou o hospital num comunicado difundido na quinta-feira, véspera da cimeira anual do G20.
Xi Jinping aterrou em Berlim vindo de Moscovo, onde há quatro dias ele e o homólogo russo, Vladimir Putin, tinham prometido “fortalecer a coordenação sobre a península coreana e outras grandes questões”.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, entrou na Alemanha através da Polónia, um dos países europeus historicamente mais desconfiados do poderio russo.
“A questão fundamental do nosso tempo é se o Ocidente tem vontade de sobreviver”, proclamara Trump em Varsóvia.
As diferenças — de itinerário e de discurso — não são apenas simbólicas.
Menos de cem dias depois da calorosa cimeira informal na Florida, os líderes das duas maiores potências mundiais parecem de novo em rota de colisão.
No início da semana, ao telefone com Trump, Xi alertou para os “fatores negativos” que afetam as relações bilaterais, revelou a imprensa chinesa.
Um dos “fatores” diz respeito ao novo pacote de armas que os Estados Unidos tencionam vender a Taiwan, no valor de 1400 milhões de dólares.
“A errada decisão dos Estados Unidos contraria o consenso alcançado pelos dois Presidentes”, protestou a embaixada da China em Washington.
Para Pequim, Taiwan é uma província chinesa e não uma entidade política soberana. “Ninguém poderá quebrar a nossa determinação para defender a integridade territorial e a soberania da China”, disse um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.
TENSÃO AO LARGO DA CHINA
A venda de armas a Taiwan — a primeira desde 2015 — não foi a única medida antichinesa adotada pela Administração norte-americana a 30 de junho.
No mesmo dia, o Departamento do Tesouro anunciou que um banco chinês, o Dandong Bank, vai ser retirado do sistema financeiro dos Estados Unidos por ter alegadamente facilitado transações de empresas ligadas ao programa nuclear e balístico da Coreia do Norte.
No Mar do Sul da China a tensão também subiu, com Pequim a acusar os Estados Unidos de “graves provocações militares”.
Há uma semana, no âmbito de uma operação chamada “Liberdade de Navegação”, o contratorpedeiro “USS Stethem” entrou em águas territoriais das Ilhas Paracel, um dos arquipélagos onde a China está a construir infraestruturas e cuja soberania é reclamada igualmente pelo Vietname.
O navio americano “violou a lei chinesa e internacional, desrespeitou a soberania da China, e perturbou a paz, a segurança e a ordem, ameaçando as instalações e o pessoal das ilhas chinesas”, disse um jornal chinês.
A reação foi considerada “a mais dura” do género desde que Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos.
China e Rússia, os únicos países que fazem fronteira com a Coreia do Norte, opõem-se ao programa nuclear e aos testes balísticos de Pyongyang, mas, ao mesmo tempo, defendem o desmantelamento do sistema antimíssil THAAD que os Estados Unidos instalaram na Coreia do Sul e a suspensão das manobras militares conjuntas organizadas por Washington e Seul.
“As relações sino-russas são as melhores de sempre”, disse Xi Jinping em Moscovo.
Não se poderá dizer o mesmo das relações entre a China e os Estados Unidos.
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