20 outubro 2015
Luanda - Em Angola, peritos em economia na maioria das vezes, são aqueles que defendem uma política macroeconómica não ortodoxa, e que no fim, a bajulação se torna notavelmente no ingrediente mais importante da análise em curso por estes gurus. Não pretendo aqui assumir que sou um perito no sector dos petróleos, mais tendo passado pela escola da BP Angola, por cinco anos como analista comercial, tenho uma visão humilde sobre o sector, e é esta visão que pretendo partilhar.
Fonte: Club-k.net
Partindo do anúncio feito no dia 15 de Outubro de 2015, durante a cerimónia solene de abertura do ano Parlamentar que dizia: “ o Executivo criou também uma Comissão de Avaliação para estudar a situação da Sonangol e do sector dos petróleos e propor as bases da sua reestruturação e de um modelo de gestão mais eficaz e eficiente”, disse Manuel Vicente, um insider do sector que o tornou bilionário e em representação do Chefe de Estado, Pai da Nação e Arquiteto da Paz.
Em economia moderna, eficiência na gestão de uma firma, é em si uma arte que não é para neófitos aqui desmascarados no discurso a Nação, como os gestores não tendo sido eficazes e eficientes, se calhar desde a incorporação da Sonangol que transitou de unidade publica durante o mono e agora como uma EP.
O estranho é esta EP só apresenta os seus relatórios de contas ao Presidente e não ao Sector Empresarial Publico ou ISEP ambos pertencentes ao Ministério da Economia.
Será que existe alguma razão para uma empresa pública não prestar contas a um órgão oficial por onde passam as outras EPs e comparticipadas?
Esta atitude é no mínimo suspeita. Já dizia o velho adagio que “ quem não deve, não teme”.
A Sonangol EP, sempre viveu momentos de interferência do Executivo ao tentar adoptar os modelos de gestão modernos contra a mão invisível do Executivo com fins não muito lineares.
O Despacho Presidencial 131/14 de 11 de Junho é mais do que claro em ractificar aquilo que pode ser subentender a outorga de um atestado de incompetência a Sonangol em termos de gestão imobiliária pela sua subsidiária SONIP.
O que não se sabe ate aqui, é a totalidade dos valores investidos pela Sonangol nas centralidades do Kilamba, Cacuaco, Dundo diretamente ou por troca de petróleo com a China.
Nunca achei que uma empresa como a Sonangol por exemplo devia meter‐se em negócios de criação de aquários para reprodução de peixe.
Quando isto acontece, além de fugir‐se do objeto social para o qual uma petrolífera é vocacionada, (perguntem a BP que já o fez) não funciona.
Por isso, foi um erro do Executivo ter autorizado a Sonangol, envolver‐se em projetos de habitação, fábricas de combustíveis, Fabrica de Cimento do Kwanza Sul, ou no sector da aviação, etc.
A Sonangol, por ter sido o banco de alguns, a passada e presente má gestão, levou a petrolífera a falência técnica que vive hoje mesmo que esta ainda masoquistamente o tente negar.
É que os números não mentem, neste caso específico, eles contam uma história de desvios e roubos pelo próprio Executivo e gestores passados e presentes.
Esta conclusão só pode ser desafiada por um analista ou economista com licenciatura em bajulação.
Que pena que só os Executivos da Petrobras no Brasil, é que são maus gestores e muitos deles já nos calabouços.
Os da Sonangol e MinPet, aqui são génios, e circulam em liberdade ocupando cargos de relevo no Executivo, isto porque nada de errado fizeram, ou fizeram?
A comparação mais rudimentar entre as duas petrolíferas aos dois Chefes dos Executivos destes países, conclui que os pecados cometidos do outro lado do atlântico, são também comuns deste lado.
Então porque será que a Sra. Dilma será destronada pelo Senado e aqui isto seria golpe de estado?
Assim sendo, vamos propor aqui algumas premissas económico‐cientificas e com cenários possíveis.
Angola com um PIB que em 2012 que foi de USD 126.2 biliões e que posicionou a economia angolana no mesmo ano no 66o lugar.
Se tomarmos em conta que o preço do petróleo rondou acima de USD 100 o barril, Angola no mínimo arrecadou cerca de USD 400 biliões desde 2012 até 2014, data do início da queda dos preços do petróleo e que levou a actual crise segundo os melhores economistas do regime.
Mas que o país não sabe como foi gasto esse dinheiro todo, ninguém pode negar.
Só em termos de curiosidade, isto representou uma fatia de USD 16.6 Milhões para cada um dos 24 milhões de habitantes durante o triénio em análise.
Se PIB em referencia fosse distribuído para os angolanos esta teria sido a fatia cabimentada para cada um de nós.
Tristemente, para os 99% da populaça angolana, a aritmética mais realista foi a de sobreviver com USD 1 dólar dia vezes 3 anos.
Consideremos então os dados da economia da Arabia Saudita, em contraste com os do nosso País aqui referenciados como também país produtor do crude e membro líder da OPEP. Estes indicam que este gigante, em 2012 teve o seu PIB avaliado em USD 740.5 biliões. Usando a mesma lógica acima, isto leva‐nos a receitas (Citéris Paribus) de USD 2.3 Triliões para um PIB acumulados em 3 anos.
Aqui está o problema que o Executivo tem que urgentemente estudar, entender as implicaçoes para o nosso PIB e apresentar a uma resposta patriótica.
Angola como pais membro da OPEP com plenos direitos de voto, deve sim comparativamente contestar e reconhecer que com estas reservas financeiras, a Arabia Saudita que hoje apesar da crise seu PIB rondou acima de USD 700 Biliões em 2014, não pode por em causa os PIBs de outros países membros como Angola.
Já não é segredo que os custos em nosso offshore situar‐se entre USD 60 a 80.
Note‐se que para aqueles que conhecem os contratos de partilha de Angola ou na sigla Inglesa “PSA”, quando o preço do crude for baixo, ganham os membros externos do grupo empreiteiro e não a concecionária Sonangol.
O preço baixo do crude angolano só beneficia as petrolíferas estrangeiras que operam no país muito embora levem mais tempo para recuperar seus investimentos.
A Arabia Saudita, pode sim financiar o seu PIB sem recorrer a China ou Banco Mundial, porque com um custo de exploração do barril na casa dos USD 20, eles tudo podem, inclusive derrotar os Estados Unidos com o seu novo Eldorado do petróleo das rochas ( Xisto) nesta guerra de preços.
Se a Comissão de Avaliação, não analisar a relação de Angola com a OPEP ao projetarem o novo modelo de Gestão da Sonangol, então estaremos a querer tapar o sol com a peneira.
A meu ver, a atual relação de Angola com a OPEP é enganosa.
Angola deveria deixar bem claro na próxima reunião da OPEP, que a Arabia Saudita, considere urgentemente cortar sua produção, para possibilitar a subida do preço do crude nos mercados internacionais, ou então, Angola estará de fora da OPEP nos próximos meses. Isto não é chantagem, mas senso comum e patriotismo.
Todavia, acredito piamente que só um Executivo com “bolas” do tamanho da Eiffel Tower ou pelo menos do edifício sede da Sonangol, poderá propor e sustentar uma decisão colossal e dessa magnitude.
Feitas as contas, vejo Portugal, Brasil, França, India e China como países de maior relevância para a economia de Angola do que a Arabia Saudita, governada por uma ditadura que só pensa em si e na sua família real.
Aqui também, recomenda‐se que esta magna Comissão não misture o tema da diversificação da economia nacional, com o modelo de gestão a propor para a Sonangol.
Para que Angola produza com sucesso, café, cana‐de‐açúcar, sisal, milho, óleo de coco, amendoim, batata, repolho, e outros artículos, precisará de um sector agrícola mas vibrante e de um Ministro da Agricultura, que sabe o que diz, e um BDA mas eficiente e menos incompetente como o atua para apoiar o sector..
Quanto aos investimentos no sector minério, sobretudo nas áreas de diamantes, petróleo, ferro, cobre, manganês, fosfatos, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina, deverão conhecer novos investimentos.
Mas a vara mágica aqui devera ser um novo regime de exploração destes minérios que quando entregue a empresas angolanas que já tenham alguma experiencia no ramo, e com parcerias estrangeiras, estas possam mesmo apresentar resultados.
A província do Namibe como exemplo, possui grandes depósitos de urânio, as Lundas com grandes depósitos de diamantes e Cabinda com mais de 50% do ouro negro.
Mas se olharmos para as assimetrias provinciais, já há quem mesmo diga que são propositadas pelo Executivo para essas regiões.
Quando ao parque industrial, aqui o Executivo devia ter vergonha e reconhecer o quanto destruiu este sector.
A produção de açúcar, cerveja, o cimento, madeira e o refino de petróleo, são para Angola sectores que deviam merecer não só proteção contra Portugal, Africa do Sul, Brasil e China mais aplicando mesmo as leis da própria Organização Mundial do Comercio, isto por estas serem indústrias e sectores ainda embrionários.
Mas quando se tem Ministros e governadores que não pensam, até que o Camarada Presidente pense por eles.
A evidência deste sintoma vergonhoso esta nos discursos de todos os membros do Executivo que sempre quando falam e publico, têm que dar credito ao Chefe, não sei porque eles são pagos se o chefe tem que pensar tudo.
Resultado, é o que vemos, o colapso total do parque industrial ao ponto não podermos produzir sal suficiente para consumo interno.
E agora vem a BIOCON a anunciar o fecho de sua produção em Janeiro, por falta de matérias‐primas tais como a cana‐de‐açúcar e mandioca.
Sr. Presidente criar para já uma comissão de avaliação do sector.
No Sector dos transportes por exemplo, o Executivo engana‐se em concluir que tem feito o seu melhor.
Não se pode falar do crescimento do PIB, sem este sector funcionar como alavanca de outros sectores.
Aqui, se a Comissão de Avaliação achar que no novo modelo de gestão a propor a Sonangol, esta deve investir neste sector, teriam o apoio de muitos angolanos.
Se não vejamos:
O sistema ferroviário de Angola, composto por cinco linhas que ligam o litoral ao interior, pode‐se destacar o Caminho de Ferro de Benguela ( CFB) Caminho ferroviário de Luanda ( CFL) Caminho Ferroviário de Moçâmedes Ferroviário (CFM).
Sendo que o CFB faz a conexão com Catanga na RDC porque então o corredor do Lobito ainda não esta a trazer mais‐valia para o país?
Aqui há uma tremenda falta de eficácia e eficiência.
Os altos custos de investimento feitos neste sector não justificam os ganhos e receitas actuais.
Haja seriedade Executivo.
Os portos de Luanda, Benguela, Lobito, Namibe e Cabinda que deviam ser os mais movimentados, hoje dependem de embarcações Chinesas que descarregam em nome da Casa Militar sem muitas vezes pagarem os impostos aduaneiros.
Isto e má gestão.
Aqui recomenda-se também uma Comissão de Avaliação Sr. Presidente.
Não deixaria aqui de mencionar que o Aeroporto de Luanda, o actual, e o que esta em construção, devem merecer a atenção tecnocrática do Executivo.
A gestão de projetos dessa natureza, não devem ser politizados como é o caso do aeroporto de Luanda a extrapolar as datas de acabamento sem que ninguém seja penalizado pelos atrasos.
Enquanto isto, o Pais perde anos para se tornar em uma placa giratória, mesmo 12 anos depois da chegada da paz, o bem precioso e condição fundamental para o desenvolvimento.
Também que haja seriedade, eficiência e eficácia na aventura que o Executivo tem tentado com a Bolsa da Divida e de Valores de Angola (BODIVA) como mercado secundário da divida pública.
A divida corporativa, quando introduzida na base de contabilidades e auditorias das empresas nacionais e o preconizado mercado accionista, quando mal geridos, estarão lançados os fundamentos de mais uma crise económica que só será nossa.
Voltando para a Economia da Arabia Saudita, sabemos que esta é baseada na exportação do Petróleo, mas com um forte controlo governamental.
Na Arabia Saudita, não existem as BP, Chevron, Total, Cabinda Golf, Shell etc.
Neste país, a exploração do crude é da responsabilidade da a ARAMCO, o que a Sonangol não consegue em mais de 30 anos de sua existência.
Aqui, notamos também, que mesmo ocupando o 2o lugar em termos de reservas mundiais, somente atras da Venezuela, a Arabia Saudita, é o maior exportador de petróleo do mundo. Esta é de facto a razão de sua posição como líder incontestável da OPEP.
Sendo que o sector petrolífero é responsável por 75% das receitas orçamentais, 40% do PIB e 90% das receitas de exportação com somente 35% do PIB proveniente do sector privado a sua economia e assim mais vibrante e preparada para qualquer desaceleração económico, Angola não tem esta posição.
Ser liderado por um pais com essas características, que tudo que pretende é defender a sua posição no mercado internacional do crude, não é uma opção saudável para Angola.
O Brasil não é membro da OPEP e não vive desvantagens em termos de produção e exportação por não ser membro do cartel.
Então porque Angola ingressou no Cartel?
Para ser assim penalizada?
As Comissão de Avaliação assim instalada para a Sonangol e outras futuras para os sectores acima mencionados, poderão servir como linha da frente ao combate a crise económica com que o país se debate hoje evitando outras vindouras.
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